Brigitte Filmes trabalha em projeto audiovisual de Elke Maravilha e consolida interesse em propriedades intelectuais

A Brigitte Filmes adquiriu, ao final de 2021, os direitos do livro "Elke: Mulher Maravilha", de Chico Felitti, escritor e repórter. A biografia foi inicialmente lançada em audiobook, pela Storytel, um dos maiores serviços de streaming de audiobooks e e-books com assinatura do mundo. Com o sucesso e repercussão, o livro foi publicado pela editora Todavia e foi o número 1 de vendas na Amazon em sua primeira semana de lançamento, além de ter nova tiragem impressa apenas um mês após a primeira edição. A compra dos direitos originará uma adaptação da celebrada biografia para o audiovisual, produzida pela Brigitte Filmes e capitaneada por Felipe Novaes, diretor e produtor executivo do documentário "Chorão: Marginal Alado", vencedor do prêmio de melhor documentário nacional no voto popular na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 

"O projeto ainda está em um status completamente embrionário, pois estamos vindo de um longo processo de negociação de direitos. Com essa negociação, solidificamos um caminho da produtora de olhar com cuidado para propriedades intelectuais. Nós enxergamos que existem adaptações interessantes a serem feitas e que isso fortalece o nosso departamento de entretenimento", contou Felipe Novaes em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Estamos sempre buscando boas histórias e bons personagens. Eu já gostava da figura da Elke e também do trabalho do Chico Felitti. Quando li 'Ricardo e Vânia', também do Felitti, fiquei atravessado. O Rodrigo Teixeira adquiriu os direitos e isso até me acendeu um alerta. Passei a olhar para essa tendência e vi que existia um campo aberto", completou. 

Claudio Cinelli, produtor executivo do projeto, ressaltou: "Elke é um projeto do nosso departamento de entretenimento, e não meu, do Felipe ou de algum diretor da produtora. É o nosso projeto mais coletivo – a escolha foi essa e ele seguirá assim até o final. Tem a ver com o nosso próprio modelo de negócio. Desde o começo falamos que não queríamos ser uma produtora de um ou dois diretores. Somos, de fato, um espaço de pensamento coletivo. E Elke vem nesse sentido". 

No momento, a Brigitte está em negociação com os players para definir o caminho que o projeto tomará, o que deve se resolver nos próximos meses. "Como não é um projeto autoral e sim da produtora, estamos conversando com os players e abertos para entender o que eles precisam. É diferente de outros projetos, nos quais colocamos nossa energia criativa nele e por isso não tem tanta maleabilidade. Mas esse está, de propósito, bem aberto. Como ele se conduzirá é algo que ainda não sabemos. Estamos esperando essa terceira via entrar na história para dar a cara para ele. A Elke é uma personagem importante, eclética e maluca. Por isso quanto mais pessoas contribuírem, melhor", pontuou Cinelli. 

Felipe Novaes e Claudio Cinelli são os produtores executivos da adaptação audiovisual do livro "Elke: Mulher Maravilha", de Chico Felitti

Negociação com players 

"Esses projetos de personagens, do ponto de vista da produção executiva, chegam com mais força, isto é, o personagem leva o projeto mais adiante. E eu tenho um prazer pessoal em falar sobre personagens complexos. Acho que quando assinamos um direito de adaptação, mitigamos os riscos para todo. É claro que não há garantia de nada – a história pode funcionar para o audiobook e na tela não, por exemplo – mas você já tem um produto, um case para apresentar. No caso de Elke, isso acontece de forma dupla: um personagem que se apresenta por si só e o trabalho do Felitti, que é muito bem feito. E produtores, modéstia à parte, bem capacitados para tocar o projeto", analisou Novaes. 

A partir de conversas iniciais com os players – a produtora esteve na última semana no Rio, participando do Rio2C, com entre outros objetivos, o de apresentar o projeto ao mercado – ficou nítido o interesse dos agentes pela história. "Mas aí precisa amadurecer a relação para entender onde isso cabe e como vai funcionar. As plataformas, ainda bem, já entendem que precisam de um bom conteúdo local – inclusive para bombar no exterior. O que é local e é forte vai bem lá fora também. E talvez Elke seja um bom projeto para os players que estão chegando agora e que querem se posicionar no mercado brasileiro. Personagens que condensam pautas que são importantes para o país nesse momento são muito interessantes, e a Elke tem isso – ela fala de etarismo, feminismo, violência contra a mulher, empoderamento, aborto, TV brasileira… São muitas histórias dentro de uma só e que interessa aos players contá-las", justificou o produtor. 

Novaes reforçou que, apesar de ele e Cinelli estarem no momento representando o projeto, a Brigitte é uma produtora 85% composta por mulheres: "Temos essa preocupação no dia a dia e com o projeto da Elke também. A gente sabe que ele pede esse cuidado. É uma história de mulher. Até por isso estamos deixando esse espaço confortável para, depois, plugar pessoas que agreguem". 

No momento, conforme os produtores sinalizaram, o formato ainda está em aberto. "Dá para fazer mil coisas a partir do diamante que é a Elke. De cara, por conta do tanto de história que tem para contar, pensamos em uma obra seriada, mas já ouvimos players que pensam em uma série para uma plataforma e em um documentário para outra. Ou seja, os caminhos estão realmente bem abertos. Além disso, não podemos nunca ter a pretensão de ter a obra definitiva sobre alguém. Seria impossível condensar a vida da Elke em um único projeto audiovisual, por exemplo", salientou Novaes. 

O que faz um bom personagem 

O produtor vem de uma outra experiência em histórias reais: ele dirigiu e produziu o documentário "Chorão: Marginal Alado", sobre o vocalista da banda Charlie Brown Jr. Ou seja, o interesse por histórias sobre grandes personagens não é de hoje. Mas, afinal, o que faz uma pessoa virar um bom personagem? "Vejo algumas questões. Entre elas, a brasilidade e a autenticidade. Quando o personagem é de verdade, ele vive questões que o público também vive. E isso é atemporal. Penso em alguns grandes personagens – como Chorão, Silvio Santos, Cazuza, Elke, Elis Regina – e vejo que, em comum, eles não têm época. São pessoas que extrapolaram. Para além dos discursos deles darem respostas sobre o passado, também apontam respostas para o futuro. E são inadequados. O não-pertencimento conversa com o público sempre, porque tudo o que a gente faz na vida é para querer pertencer", refletiu Novaes. 

Cinelli completou: "Quanto mais o personagem tiver facetas, mais fácil isso acontece. A Elke, no caso, tem milhões. São tantas coisas que ela será, de certa forma, sempre atual". Nesse sentido, Novaes lembrou: "Na produção executiva, fazemos ainda o exercício de pensar nos próximos cinco anos – você precisa saber se o personagem tem endosso para a história durar. No caso da Elke, ela traz pautas que estão começando a ser discutidas agora. Então estamos bem confiantes com esse caminho". 

Outros projetos 

Além dos filmes publicitários, atualmente a Brigitte está desenvolvendo o próximo projeto de Felipe Novaes, uma coprodução com a Vitrine Filmes; o longa documental de Claudio Cinelli e Rodrigo Mello; finalizando "Memórias do Corpo na Quarentena", documentário de Gabriela Altaf e Marcel Souto Maior; e trabalhando em dezenas de outros projetos de narrativas ficcionais e não-ficcionais, seriados e de longa-metragem. 

Sediada em São Paulo, a produtora audiovisual tem como base para suas produções dois pilares: publicidade e entretenimento – essa identidade alia a estrutura de produção a um olhar voltado a projetos autorais, cinematográficos, televisivos e multimídia – unindo o tempo do audiovisual à relevância dos debates que busca propor.

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