Globo Filmes celebra 25 anos com promessa de trazer ainda mais diversidade para seus projetos

Jeferson De, Simone Oliveira, Bruna Linzmeyer e Elísio Lopes Jr. (Foto: Divulgação)

A Globo Filmes promoveu um painel comemorativo dos seus 25 anos nesta sexta-feira, dia 7 de junho, durante a programação do Rio2C. A apresentação focou no seu impacto na promoção da diversidade e representatividade no cinema brasileiro. Simone Oliveira, head da Globo Filmes, abriu o encontro relembrando que a empresa surgiu num momento de retomada do cinema brasileiro, a partir da vontade da Globo de ter uma aproximação mais estreita com o mercado e profissionais do cinema. "Até aquele momento, era tudo muito dividido. A Globo Filmes ajudou nessa aproximação entre cinema e TV, o que acabou por unir e potencializar o cinema brasileiro. Hoje, comemoramos nossos 25 anos com bons exemplos de filmes neste começo de ano. Entre janeiro e abril, tivemos um aumento de 1000% de presença dos filmes brasileiros nos cinemas. Os números ainda estão abaixo do período pré-pandemia, mas é um caminho. 'Minha Irmã e Eu', 'Nosso Lar 2' e 'Os Farofeiros 2' levaram juntos milhões de pessoas aos cinemas. E estamos com presença ativa nos festivais, como Berlim, Cannes, SXSW e Rotterdam, com filmes como 'Cidade; Campo', 'Motel Destino', 'Pedágio' e 'Retrato de Um Certo Oriente'. É um bom momento", celebrou. 

Oliveira afirmou que, desde 1998, o grupo tenta trazer diversidade, produzindo filmes de todos os tipos, e hoje encontra-se bastante focado nesse objetivo, que passa por um olhar mais atento na frente e atrás das câmeras. "Ainda estamos aquém de onde deveríamos estar", reconhece a executiva. Não existem dados de mercado muito recentes – mas, segundo a Ancine, entre o período de 2018 a 2021, 19% dos filmes foram dirigidos por mulheres e 17% contaram com roteiros exclusivamente de mulheres. O que, comparado aos percentuais de homens e mulheres na sociedade, deixa claro o desnível. Já dados mais recentes da Globo Filmes indicam que 30% dos projetos da empresa lançados entre 2021 e 2024 foram com direção de mulheres, sendo 24% dos roteiros femininos. Na carteira de próximos projetos, um pequeno aumento: 32% de filmes dirigidos por mulheres. Outro dado interessante da Ancine é que, nesse mesmo período analisado pela Agência, 44,6% do resultado de bilheteria dos filmes brasileiros veio dos títulos dirigidos por mulheres. "O que prova a força que uma história tem quando ela é contada por quem está protagonizando e assistindo. O público quer se ver. O cinema tem que refletir as porcentagens da população. Estamos buscando aumentar esses números e ampliar esse olhar", garantiu. 

Quando a diversidade encontra o público  

Elísio Lopes Jr., roteirista, dramaturgo e diretor artístico, é um homem negro, vindo de Salvador. A partir dessa perspectiva, ele revelou ter a impressão de que o cinema brasileiro sempre foi um lugar onde a diversidade existiu de alguma forma, desde o início: "Vimos na história do cinema brasileiro fenômenos de grandes ícones que não necessariamente seriam ou foram ícones de TV, que veio com outra carga de entrega de conteúdo, por questões de mercado, que o cinema não tinha. O cinema precisa da bilheteria, das pessoas que compram o ingresso, então deve mostrar o que o Brasil quer ver. Já a TV pode se valer de certas hegemonias e não necessariamente atender a todas as vontades de quem está do outro lado. O que caiu por terra depois que chegaram outras opções, como as plataformas. O cinema é um lugar onde as multiplicidades sempre puderam acontecer – essa é uma especificidade importante do cinema. Percebi isso porque ia ao cinema e me via mais refletido ali do que na televisão. Começar a fazer cinema, para mim, veio desse lugar que me tocou, de onde senti que podíamos avançar as narrativas". 

Roteirista de um case recente de sucesso do cinema nacional, o filme "Medida Provisória", Lopes Jr. cita o longa como um exemplo onde essa diversidade se completa no encontro com o público brasileiro. "Quando você encontra seus pares, você pode ser você, o que te permite criar com mais conforto", mencionou, contando ainda que a equipe do projeto foi formada por 85% de profissionais pretos, incluindo cargos de liderança, como a direção, de Lázaro Ramos. "Não fizemos isso por uma 'hora da vingança', e sim porque havia construções simbólicas e sensoriais que gostaríamos de trazer para o filme que só seriam possíveis por quem as conhece e vivencia. Não é correção social e só mudar os números. Isso também é importante. Mas é mais porque é chato ouvir uma voz única. Isso é pobre para o filme, para a emissora de TV, para a cultura. Queremos a multiplicidade. Não dá mais para ouvir a mesma voz com figurinos diferentes. É sobre cada um poder vivenciar suas humanidades em todas as suas esferas", defendeu. 

Bruna Linzmeyer é atriz e roteirista, com 18 filmes e 12 produções televisivas na carreira, além de prêmios nacionais e internacionais. Ela integra o elenco de "Cidade; Campo", novo filme da diretora Juliana Rojas, premiada com a Melhor Direção no último Festival de Berlim. Para ela, a diversidade no cinema, apesar de ainda estar longe do ideal, melhorou bastante. "Consigo perceber essa jornada enquanto atriz pelos papéis que me são oferecidos, as histórias dos personagens e como tudo isso é filmado, como meu corpo é filmado num set. O quanto minha voz, como atriz jovem, é ouvida por outros profissionais. Sinto um diálogo mais possível, com possibilidade de questionar certos padrões de feminilidade, por exemplo", observou. 

Em "Cidade; Campo", por exemplo, as principais cabeças de chefia eram mulheres – edição, roteiro, direção e produção. "Isso tem um impacto difícil de descrever", disse a atriz. O ponto que ela levanta é semelhante ao que falou Lopes Jr. sobre se sentir confortável perto de seus pares e, assim, conseguir criar. "É uma sensação que acontece no set, num tipo de comunicação que não é verbal, que se dá por um entendimento de pertencimento e experiência comum. Se você não precisa se preocupar em se comunicar bem e se fazer ouvida, você pode fazer seu trabalho. Imagine o que poderíamos fazer se não tivéssemos nunca que nos preocupar com essas questões sobre a nossa presença nos espaços. É muito poderoso. E essas coisas reverberam no público", completou, reforçando essa "conclusão" da diversidade quando o filme encontra os espectadores que o case de "Medida Provisória" ilustrou. 

Próximos projetos 

Nos próximos lançamentos da Globo Filmes, estão títulos que buscam dar espaço e voz a outras parcelas da população que por muitas vezes são invisibilizadas, indo além das questões de raça e gênero. "Colegas 2", de Marcelo Galvão, é a continuação do filme de 2012 e traz atores com síndrome de down e autistas, entre outros tipos de deficiência, no elenco, numa trama de aventura e lúdica. Já o documentário "Assexybilidade", de Daniel Gonçalves, reúne histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência e a pluralidade de experiências por meio da vivência de cada uma delas. 

Para Oliveira, a ideia é ampliar ainda mais esses olhares, trazendo, por exemplo, mais histórias de indígenas. A seleção de próximos lançamentos trará o título "Manas", de direção feminina, temática indígena e uma história do Norte do Brasil. Outros longas previstos são "Clube das Mulheres de Negócios", "Pasárgada", "Malês" e "Câncer com ascendente em virgem", além dos que já estão rodando pelo circuito de festivais, "Cidade; Campo" e "Motel Destino", entre outros. 

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