Criador do Gato Galáctico é contra conteúdos curtos para crianças e defende valor da curadoria

Ronaldo Souza, criador do Gato Galáctico (Foto: Divulgação Rio2C)

O Gato Galáctico é um dos maiores fenômenos nacionais para o público infantil dos últimos tempos. Só no canal do YouTube, são mais de 18 milhões de inscritos. A marca se desdobra em conteúdos de live-action, séries de animação, produtos licenciados, shows ao vivo e longas-metragens para o cinema, além de parcerias com grandes players do mercado, como Warner Bros. Discovery e o canal ZooMoo Kids, do Grupo Stenna. No último sábado, dia 8 de junho, Ronaldo Souza, o criador do Gato Galáctico, esteve no Rio2C falando da estratégia bem-sucedida da empresa, que hoje traz todos esses produtos embaixo do guarda-chuva "Ronaldo Souza Criações". 

Vale pontuar que, no contexto atual, a produção de conteúdo para as novas gerações tem sido bastante desafiadora – por conta da fragmentação da atenção, a realidade multitela e as infinitas janelas disponíveis, a conexão dos produtos com o público infantil, especialmente a geração Alpha, se torna mais difícil. O Gato Galáctico navega bem nesse universo já há algum tempo: o personagem foi criado em 2013 e, de lá para cá, só cresceu. Souza se formou em animação no Brasil e trabalhou com curtas, longas e publicidade. A partir de um desejo pessoal de criar seus próprios universos, viu o YouTube como a plataforma mais democrática para dar vazão a esse objetivo, e assim começou essa trajetória, publicando suas próprias animações. "Sempre me cativou a essência das histórias animadas e como isso conversa com o nosso irracional. A criança gosta, se entretém, e se envolve com a mensagem que está por trás sem necessariamente entender de cara que mensagem é essa. Storytelling sempre esteve no meu imaginário como algo que eu queria fazer", contou. 

Valor de produção na era dos conteúdos curtos 

O produtor reconhece que o caminho mais fácil seria investir em conteúdo hiper estimulativo porque é "o que gera mais cliques e visualizações" e assume que é um caminho sedutor, que ele mesmo já apostou nisso anos atrás e realmente deu bastante retorno. "Mas eu não posso sacrificar meus valores e ir atrás de coisas que não estão alinhadas ao que eu acredito. Não vou 'vender a alma'. Cada criador tem seu tempo, e eu já virei essa chave. Lidar e tratar com criança demanda muita responsabilidade. Os criadores que mais se destacam bebem dessa fonte do hiper estímulo – daí vem a responsabilidade dos pais de expor ou não seus filhos a isso. Se depender das plataformas mais democráticas, inclusive o YouTube, é isso que será 'empurrado' para o público". 

Para Souza, a Internet hoje é um mar onde não há regras. "Ali, as crianças acabam consumindo o que o algoritmo tenta empurrar para elas. É perigoso. Acredito que tem que ter uma curadoria. A área Kids do YouTube tem melhorado – eles estão recomendando certo agora, isto é, só o que realmente foi pensado para essa idade. As ferramentas de inteligência artificial conseguem analisar os conteúdos de forma integral, então melhorou muito a recomendação nesse sentido", celebrou. Em seu trabalho, o criador do Gato Galáctico assina como diretor final das produções, mas todos os conteúdos passam por uma grande equipe de profissionais que envolvem os sócios e pedagogos, por exemplo. "Valor e virtude estão no topo da nossa hierarquia e são tão importantes quanto o entretenimento", declarou, revelando ainda que, em um ano, chega a trabalhar com milhares de artistas contratados. 

Tempo de tela para crianças 

Hoje em dia, discute-se muito sobre quanto tempo as crianças deveriam passar em frente às telas. Para Souza, o debate é muito mais sobre qualidade de conteúdo, e não necessariamente quantidade. Ele explicou: "Para mim, é melhor que elas assistam a duas horas de um filme do que a uma hora de vídeos curtos, desses de hiper estimulação. Um filme traz narrativa, história, passa uma mensagem. Faz mais sentido". O Gato Galáctico, por exemplo, já tem dois longas  – "Acampamento Intergaláctico", uma produção da Clube Filmes com direção de Fabrício Bittar, e "Gato Galáctico e o Feitiço do Tempo", uma produção da DreamBox Produções e Daniel Picolo, sócio do filme, com coprodução de Ronaldo Souza e direção de Rodrigo Zan. O segundo longa estreou nos cinemas em fevereiro deste ano e, em breve, deve chegar às plataformas digitais. 

"Pessoalmente, não gosto dos conteúdos curtos. Sei que muitos criadores fazem para não serem esquecidos, porque é o que funciona. Mas acho de uma maldade tremenda essa cultura de consumo de conteúdos curtos. Não quero expor minha filha a isso. Eu acho a longa duração muito mais valiosa. Não existe narrativa quando se conta algo tão rápido. Duvido que seja possível entregar algo de valor em um minuto", defendeu. "Estou trabalhando para criar minha própria indústria audiovisual, buscando sempre novas formas de contar histórias e expressar fantasia com entretenimento de valores e virtudes", finalizou. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui