Druzina Content desponta na produção nacional de conteúdos audiovisuais de ficção científica

Para além das produções voltadas para o público infantil, a produtora audiovisual Druzina Content, de Porto Alegre, tem entre suas especialidades projetos de ficção científica. Na bagagem da Druzina para o Festival de Cannes deste ano, por exemplo, foram diversos filmes, entre curtas e longas, que atestam o expertise da produtora na criação de universos futuristas. "Dentro da produtora, trabalhamos com conteúdos que a gente gostaria de consumir. Nos nossos principais cargos executivos estão fãs do gênero – em literatura, quadrinho, games e audiovisual. Temos uma paixão muito grande. Por isso foi um movimento natural nesse sentido de apostar na produção nacional de sci-fi", contou Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

Luciana ressalta que, hoje, o gênero permeia todos os conteúdos com os quais a produtora está trabalhando – inclusive os infantis, como é o caso da franquia "Lupita", que traz uma personagem que é um bebê astronauta. "A ficção científica tem um público muito grande no Brasil e no mundo. São consumidores ávidos, em maioria jovens adultos. A maior parte do consumo está em filmes e séries estrangeiras, que são uma das maiores bilheterias do nosso país. A produção nacional encontra algumas barreiras, mas é fenomenal fazer histórias fantásticas com a nossa cara, com as nossas locações e a nossa cultura. Somos apaixonados por esse gênero e queremos muito levar nosso conteúdo e a identidade brasileira nas nossas produções de ficção científica para o mundo inteiro. Existe um desejo muito grande de ver nossos cenários e características presentes nesses universos fantásticos", explicou. 

Para além de trazer o olhar brasileiro para a ficção científica, a produtora também foca em trazer a diversidade do país para os projetos. Entre suas parceiras, por exemplo, estão produtoras como a Petit Fabrik, de Manaus – AM, e a Horizonte Líquido, de Vitória – ES. "Não temos fronteiras. Estamos abertos a trazer esses novos olhares. É daí que surgem inovações, coisas interessantes, pontos de vista diferentes que podem interessar. Principalmente para o universo da ficção científica, que é muito carente desses novos olhares. A gente sempre vê cenários conhecidos mundialmente, normalmente nos Estados Unidos. Trazer os nossos cenários é muito importante. Fizemos isso, por exemplo, com o filme 'Contos do Amanhã', que trouxe Porto Alegre, e com 'Loop', que se passa em Cuiabá", pontuou Luciana. 

"Loop", de Bruno Bini, lançado nos cinemas em 2021, contou com a coprodução da Druzina

Desafios de produção 

A produtora reconhece que os projetos de ficção científica ainda encontram algumas barreiras no país. "Existe uma história de que filmes de gênero não seriam tão cinematográficos, culturalmente falando, digamos assim. Isso talvez não inspire novos cineastas a produzirem sci-fi no Brasil. Nós produzimos porque gostamos e consumimos, por isso que fomos atrás. E esse foi, inclusive, o ponto de ligação entre essas produtoras que trabalham em parceria, em coproduções. Foi nosso grande ponto de contato com a Bactéria Filmes, por exemplo. É um elo de pessoas que gostam do gênero", revelou. 

"Inicialmente, sentimos uma barreira muito grande quando estávamos tentando entrar nos editais. Víamos pelos pareceristas um desconhecimento em relação ao consumo de sci-fi. A gente não conseguia emplacar projetos. A Bactéria Filmes trabalhou em uma grande pesquisa para levantar números e provar que, no Brasil, temos um público consumidor enorme de ficção científica, só que de conteúdos internacionais – como os heróis da Marvel, por exemplo. Mas cadê os nossos heróis, afinal? Isso nos motivou muito a continuar", completou Luciana. 

Nesse sentido, a produtora reforça a importância do trabalho da pós estando presente desde o início: "Não deixamos para resolver na pós. Os estúdios de pós-produção são nossos aliados para viabilizar esses universos – não só de ficção científica, mas em tudo. O ideal é que eles possam acompanhar o projeto desde a pré, até nas questões de captação. Isso faz totalmente a diferença. Eles nos ajudam a viabilizar e não encarecer. É a arte de adequar, sem perder a narrativa, a qualidade da história que estamos contando". 

De Pedro de Lima Marques, "Contos do Amanhã" venceu mais de 15 prêmios em festivais de cinema de gênero ao redor do mundo

Orçamentos possíveis 

Em relação aos recursos, ela ressalta que é importante desmitificar a ideia de que produções de sci-fi demandem orçamentos hollywoodianos e grandes efeitos especiais: "Temos várias formas de contar uma história. Dá pra fazer isso sem tantos efeitos, por exemplo. Quando estamos planejando um filme ou uma série, é claro que pensamos no orçamento, mas a gente sabe que é possível fazer com menos. Eu acho que vai muito mais da pessoa querer fazer e tentar emplacar. É uma cultura. Temos que colocar na rua, fazer, noticiar. O 'Contos do Amanhã' é uma grande vitória nesse sentido. Entrou em dezenas de festivais do mundo e ganhou diversos prêmios. E mesmo depois de ter sido lançado nos cinemas do Brasil, continua sendo selecionado para festivais e conquistando premiações. O que mostra que, se tivermos oportunidades, a gente tem condições de colocar nossos conteúdos – com a nossa realidade, nossa cara, nossos cenários – no mundo inteiro. Essa é nossa filosofia: fazer propriedades intelectuais sem fronteiras". 

Ajuda das plataformas 

A chegada do streaming ajudou especialmente os conteúdos de gênero – o público teve acesso às produções para conhecer e, uma vez que gostou, buscar outras. "Eu estou no mercado há muitos anos e consegui acompanhar esse processo de procura dos players por conteúdo nacional que não existia antes. Acredito que isso veio muito das plataformas, principalmente a Netflix, que foi pioneira, começarem a colocar conteúdos de outros países. Hoje você consegue entrar na plataforma e ir atrás do que gosta, de gêneros específicos, até dos clássicos. Antes não tinha janela para isso. O streaming levou ao público conteúdos que, antes, ele não conseguia acessar. No Brasil, normalmente não lançamos nossos filmes em tantas salas quanto as grandes distribuidoras internacionais, então as plataformas nos ajudam muito nesse sentido", analisou a CEO. 

"Contos do Amanhã – Através do Espelho" é uma coprodução entre Brasil e Uruguai

Os projetos 

Entre os títulos da área de sci-fi do portfólio da Druzina estão o longa "Loop", de Bruno Bini, lançado nos cinemas em 2021. Na trama, após a morte de sua namorada, o estudante de Física Daniel fica obcecado com a ideia de voltar no tempo para evitar a tragédia. Ele se deixa consumir por essa obsessão até que, após anos de isolamento, encontra a solução. Daniel então vira as costas para o seu futuro e volta ao passado, mas não é mais o mesmo homem. O projeto conta com produção da Druzina Content, Plano B Filmes, Valkyria Filmes e Globo Filmes. 

Outro longa é o "Contos do Amanhã", também lançado nos cinemas em 2021. Em 2165, o sequestro de uma jovem coloca em guerra o último reduto da civilização humana. Mas, para salvar a humanidade, será necessário contar com a ajuda de um adolescente que vive em 1999. Como salvar o futuro com internet discada e um provedor de péssima qualidade é a grande questão. O filme viajou por diversos festivais internacionais, foi premiada e vai ganhar sequência. O projeto é da Druzina Content e Bactéria Filmes com pós-produção da FornoFX. 

Na sua sequência, "Contos do Amanhã – Através do Espelho", em 2169, Andrea luta para derrubar o muro que cerca o Porto 01. Seu principal objetivo é destruir o Núcleo, responsável por criar milhares de realidades virtuais entregues como uma espécie de droga à população da cidade. Mas apesar de ser uma continuação de "Contos do Amanhã", a obra pode ser assistida de forma independente. Trata-se de uma coprodução Brasil-Uruguai assinada pelas produtoras Druzina Content, Bactéria Filmes e Circular Media. 

A lista segue com "Três Desejos para o Fim do Mundo", que está em pré-produção, em uma coprodução entre Brasil e Argentina assinada pelas produtoras Druzina Content, Horizonte Líquido, Levante Filmes e Vaimbora Films. No enredo, há um grande desastre ambiental, uma alienígena vinda de outra dimensão, duas amigas sexagenárias e três mulheres e três desejos vivendo muitas aventuras na estrada em direção ao Fim do Mundo. 

Entre os projetos novos, está "Trabalho Fantasma". Na produção, um pequeno produtor rural investe grande parte da reserva econômica da família na produção de alimentos orgânicos. Seus planos começam a dar errado quando uma misteriosa empresa de biotecnologia chega na região oferecendo uma nova tecnologia em sementes transgênicas. Ao lado de sua mulher e de seu filho, ele terá que lidar com as novas dinâmicas de produção e a violência impostas pelo crescimento desenfreado do agronegócio. A produção é da Druzina, Content, Plano B e Filmes da Gruta com produção associada da Glaz. 

Outra novidade é "Três Tempos". Neste longa, um homem que possui uma consciência conectada a si mesmo em três momentos diferentes da sua vida precisa lutar para evitar um futuro que conhece mas não deseja. A produção é da Druzina com a Plano B. 

Por fim, "Pequeno Armagedom" está em pré-produção – esta, assinada pela Druzina e Petit Fabrik. Trata-se da divertida saga de dois minúsculos alienígenas que tentam conquistar a Terra, começando pelo quintal da simpática idosa Nanci, que na visão deles é uma gigante invencível que eles têm que dominar. 

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