Marcio Fraccaroli, da Paris Filmes, espera mais fomento para filmes de mercado

Marcio Fraccaroli (Foto: Divulgação Paris Filmes)

A mais recente aposta da Paris Filmes, "Minha Irmã e Eu", é o maior sucesso do cinema nacional desde a pandemia. A comédia, dirigida por Susana Garcia e protagonizada por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, já foi assistida por mais de um milhão de espectadores e se consagra como o primeiro filme nacional a alcançar este número desde 2019. O filme estreou no dia 28 de dezembro em 1.024 salas de cinema em todo país, e contou também com sessões antecipadas desde 25 de dezembro. O longa apresentou crescimento de 30% na primeira semana de janeiro, em comparação à semana da estreia, e de 58% no último final de semana, em relação ao da semana anterior. "Minha Irmã e Eu" tem produção da Paris Entretenimento, coprodução da Globo Filmes, Paramount Pictures, Telecine, Simba e distribuição da Paris Filmes.

"Nosso principal aprendizado com esse lançamento é: um filme planejado e pensado tem chance de fazer sucesso mesmo não sendo um IP como 'Minha Mãe é Uma Peça'. Temos a capacidade de construir uma marca desde que tenhamos planejamento a longo prazo. Planejar foi nossa melhor estratégia. 'Minha Irmã e Eu' quebrou uma barreira e acho que ele ajudará os próximos filmes de público que virão pela frente. O cinema nacional não é 'podre', como muitos dizem. Depois desse filme, ninguém mais vai falar isso. Claro que ele tem coisas ruins e boas, e precisa desenvolver para ter coisas melhores. Mas esse filme ajuda a subir a régua e tirar essas más impressões. O exibidor passa a nos ver com melhores olhos e o produtor vem com mais coragem", analisou Marcio Fraccaroli, diretor-geral da Paris Filmes, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

Para além da bem sucedida jornada do título, o executivo falou sobre suas expectativas para o cinema nacional em 2024 de modo geral. Para ele, o maior desafio está na economia: "Temos um grande problema econômico, e se o Brasil produzir riqueza, vamos melhorar. Quem compra cinema não é a classe A e B, e sim as classes C, D e E. Se esse grupo tiver mais ganho, o cinema será favorável. O grande desafio é ainda entregar qualidade e filmes com musculatura para a sala de cinema. É um desafio produzir melhor, criar histórias perto do público e fazer pesquisa". 

Em relação ao extenso line-up da Paris para este ano, Fraccaroli destacou alguns títulos: "Teremos o filme do Chico Bento, que está muito bom. Acreditamos bastante nele. Em março, 'Os Farofeiros', Depois, 'Tô de Graça', com Rodrigo Sant'Anna. E ainda 'Grande Sertão'. O ano vai ser melhor em geral. 2024 pode ser uma oportunidade para o cinema brasileiro, porque vai faltar filme lá de fora por conta da greve. Os cinemas de vários países do mundo poderão se beneficiar disso". 

Olhando para trás, o diretor avaliou que 2023 foi um ano muito ruim para o cinema nacional em geral: "Fechamos com o market share de 2%, num reflexo da ausência de investimentos da cultura do governo anterior; da baixa qualidade entregue em materiais que não tinham aderência com o público, que mudou; e a força dos streamings, que adquiriram licenças e IPs que eram de cinema. O público entendeu que poderia ver o 'filme de cinema' em uma plataforma por 20, 40 reais mensais. Esses três fatores contribuíram para um resultado tão ruim". 

Mas para ele, o problema é de ordem estrutural: "A produção ficou dividida, fracionada pela fragilidade que vivemos nos últimos quatro anos. Com 'Minha Irmã e Eu', queríamos entender se ainda tínhamos aderência, se o público ainda queria assistir às nossas histórias no cinema. Foi um desejo de recuperar mercado. Nos organizamos para isso, trouxemos gente muito capaz. É uma história humana, acreditávamos muito que daria certo". Fraccaroli reforçou que o cinema nacional sempre cresceu quando o Brasil está num momento econômico favorável. "Ainda estamos reorganizando o Brasil. E dentro do cinema brasileiro, ainda temos muitos problemas. Ele segue sendo atacado diariamente, com 'haters' que misturam as coisas e nos atacam de forma imbecil. Olhamos para esse mercado e decidimos enfrentar – e fizemos sucesso. É um filme tecnicamente olhado e baseado nesse grupo de pessoas experientes que somos. E a resposta do público é direta", celebrou. 

A diretora Susana Garcia com as atrizes Ingrid Guimarães e Tatá Werneck no set de "Minha Irmã e Eu" (Foto: Ellen Soares)

Fomento para filmes de mercado 

A partir daí, ele espera que a experiência do longa possa, em 2024, inspirar o governo a entregar fomento para filmes de mercado. O diretor explicou: "Quero induzir o governo a acreditar no mérito dos filmes de mercado e, assim, fazer com que outros produtores não abandonem o cinema. Que voltem a fazer. Espero que 'Minha Irmã e Eu' sirva para isso. Não adianta fazer uma quantidade enorme de filmes se eles não têm aderência. Para um filme ser fomentado e distribuído, precisa existir um porquê – e não pode ser só o desejo de um produtor. O Brasil tem que mudar esse pensamento. Aí, sim, conseguiremos competir nas salas de cinema contra grupos estrangeiros. É ali que vamos colocar nossas histórias e nosso país na tela. E é legítimo que ocupemos esse espaço", defendeu. 

"Minha Irmã e Eu" contou com um orçamento de 16 milhões de reais, e estreou nos cinemas competindo contra títulos como "Aquaman 2", que custou 300 milhões de dólares. "Estamos falando de uma guerra muito desigual do ponto de vista do negócio. E o consumidor é o consumidor, é ele quem vai ao shopping e decide o ingresso. Por isso precisamos olhar para o mercado e pensar em qualidade. Não ficar fazendo um monte de coisa. Talvez assim a gente ocupe melhor as salas e estabeleça mérito. Produtores que têm muito talento precisam de chance de continuarem trabalhando. Quem vai fazer a sala de cinema crescer é quem sabe fazer. O cinema precisa de produtor 'raiz'. O streaming, produtor de serviço", declarou. 

Fraccaroli apontou que muitos profissionais talentosos têm dificuldade de ter acesso público: "Gente grande mesmo. O acesso tem sido pulverizado, entregue a filmes menores, que talvez não tenham aderência. Não tem fomento para os grandes. Precisa de mais orçamento e de gestão – se o estado quiser encontrar o público. A cota de tela ajuda, é indutora. Ela é importante para os filmes que precisam ficar mais dias em cartaz para tracionar". 

O diretor acrescentou que, nos últimos anos, "mais que triplicou o número de produtores fazendo obras audiovisuais", e comentou: "Estou há 40 anos nisso. Não é que cheguei hoje e já acertei. Não é um negócio simples. A pulverização traz talentos, e a mão de obra ajuda, claro. Mas com as novas leis, como Aldir Blanc e Paulo Gustavo, surgiram centenas de produtores. Que são pequenos, ainda estão começando. O Estado tem que organizar isso. A política pública tem que incluir, respeitamos isso, esse governo é o que a gente acredita. Mas precisa deixar parte do recurso para quem sabe fazer. Isso não é um jogo. Tem que dar mais orçamento para quem dá retorno". 

Destaque de market share  

A distribuidora Paris Filmes conquistou o 4º lugar no ranking de market share em 2023, de acordo com levantamento da Comscore. Com 36 títulos lançados no ano, a empresa foi responsável pela venda de mais de 9 milhões de ingressos de cinema no país, o que corresponde a 7,95% do público; e pela renda de mais de R$ 178 milhões, fatia de 7,75% do total. Considerando ainda a parceria entre Paris Filmes e Downtown, a audiência aumenta para mais de 10 milhões de ingressos. Com esses números, a distribuidora ficou à frente de grandes estúdios como Sony Pictures e Paramount Pictures, além das demais independentes. 

"Fomos a quarta maior empresa de mercado. Se eu terminar 2024 com a maior perfomance total, vou entrar na fila do fomento em 2025 igual a qualquer outra pessoa. O Estado precisa olhar para isso, para o mérito. Isso se queremos ocupar as salas de cinema. Se queremos fazer outra coisa, aí é questão de política pública", argumentou Fraccaroli. 

Política de continuidade 

Por fim, o produtor e diretor defende que seja estabelecida uma política de continuidade: "Quero convencer que a política audiovisual tem que ser de estado, não de governo ou gestão. O cinema precisa de uma política que, de qualquer maneira, se trocar governo, por exemplo, siga funcionando como indústria. Esse é o nosso maior problema. Parte do setor cultural não quer virar indústria. Eu quero meu cinema como indústria, para que ele conquiste espaço, viaje, ganhe prêmios e faça bilheteria. Isso tudo é política de indústria. O cinema gera renda, empregos, e a riqueza do audiovisual tem que ficar com a gente, no Brasil. E uma política do cinema nacional de indústria tem que ter acompanhamento não só do Ministério da Cultura, mas também do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. É como os coreanos fizeram. Não é que eles quiseram levar a estética coreana mundo afora, e sim ganhar dinheiro. No fim das contas, é isso". 

1 COMENTÁRIO

  1. Bem, tudo que disse na entrevista esse senhor é uma meia verdade. Em 2022 voces tiveram um desempenho fraquissimo nos filmes nacionais que lançaram. Por exemplo o filme "Eike,tudo ou nada" lançado em 213 salas, publico mirrado de 18.135 ingressos vendidos e R$476.826,38 de renda. Resultado pífio para uma lançamento desse tamanho. Outro fiasco foi o filme "SOL" lançado em 27 salas com público de 618 bilhetes vendidos e R$13.771,01 de renda , uma vergonha total para uma empresa que se diz uma das maiores . Então deixe esse bla bla bla de que sabem trabalhar e tem expertise no ramo, de que precisa do fomento pra fazer filmes de mercado ,sendo que seus resultados nesse ano de 2022 foram horríveis. Os números de 2023 ainda não saíram, então falar ate papagaio fala. E com 16 milhoes nessa galinha dos ovos de ouro de voces nesse ultimo filme , é obrigação fazer público um publico .

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