Primeiro longa de ficção do fotógrafo e jornalista João Wainer, "A Jaula" estreia nos cinemas

Nesta quinta-feira, dia 17 de fevereiro, estreia nos cinemas o thriller psicológico "A Jaula", com Chay Suede e Alexandre Nero. Trata-se do primeiro longa de ficção dirigido pelo fotógrafo e jornalista João Wainer (diretor dos documentários "Pixo" e "Junho – O Mês que Abalou o Brasil"). Baseado no filme argentino "4×4", o longa tem roteiro original assinado por Mariano Cohn e Gastón Duprat, a partir da adaptação de João Candido Zacharias. A produção é da TX Filmes, em coprodução com a Star Original Productions e distribuição da Star Productions. 

Na trama, Djalma (Chay Suede) vê um veículo de luxo estacionado em uma rua tranquila e resolve roubar o rádio. Ele entra no carro com facilidade mas, ao tentar sair, descobre que está preso ali dentro, incomunicável e sem água ou comida. Com o passar das horas, o ladrão descobre que caiu numa armadilha arquitetada por um famoso médico (Alexandre Nero), com quem luta pela sua liberdade e sobrevivência. Vingança, justiça e a banalização da violência estão entre os temas que o filme levanta. Assista ao trailer: 

"O filme foi inspirado em um evento real que aconteceu na Argentina, mas partiu de um episódio muito simples. Há uma parte ficcional muito grande em cima. Mas o fato de ter essa inspiração real ajudou a despertar meu interesse no projeto, especialmente pela minha característica de ter trabalho muitos anos com jornalismo", afirmou o diretor, João Wainer, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. Ele aposta que tanto a história quanto os personagens poderiam muito bem existir de fato: "Hoje, a gente está vendo um presidente que estimula a justiça com as próprias mãos. E esse conceito, presente em um dos personagens, deixa o filme muito real. Acho que, quando chega nesse ponto, começa a barbárie, acabou a civilização. A trama permite esse questionamento de até onde é justiça e quando passa a ser vingança". 

Na história, Alexandre Nero interpreta um famoso médico que já foi roubado mais de 20 vezes. Movido pela raiva, ele decide se vingar e arma uma cilada para o próximo que tentar roubar seu carro – no caso, Djalma, personagem de Suede. A partir daí, começa um processo de vingança até as últimas consequências. "É absolutamente normal a pessoa ficar com raiva de ter sido roubada. Mas a partir do momento em que ela resolve se vingar de uma vez só, deixa de ser justiça e passa a ser sadismo. Tentamos fazer com que o espectador saia pensando a respeito de como vemos isso de maneira geral. Como a imprensa trata o bandido? Quem, na verdade, julgamos ser o bandido? O tempo todo o ladrão é visto como vagabundo. Mas, nesse contexto do filme, ele é a vítima de um torturador, que escolheu se vingar de modo aleatório, pegando o primeiro que apareceu", analisou o diretor. Ele reforça que procurou evitar os estereótipos: "Ali, todo mundo está errado. O ladrão não é um santo, uma mera vítima da sociedade. Já matou, fica claro quando se descobre a ficha corrida dele. Mas o médico também está muito errado. Todo mundo é bandido de alguma maneira, não tem um melhor do que o outro". 

Boa parte do longa se passa dentro do carro onde Djalma está preso – ali, ele conversa com o médico, o dono do automóvel, por meio do sistema de viva-voz do veículo: "Dirigir o filme dentro de um espaço tão restrito foi super difícil. Eu acho que aí entra um mérito muito grande do nosso diretor de fotografia, o Leo Ferreira. Eu, ele e o Chay criamos uma sinergia de trabalho muito boa. A gente se entendia sem precisar falar. O Leo já conseguia sentir pra onde o Chay estava indo e criou-se uma verdadeira dança de câmeras dentro do carro. Dentro dessa dança, tudo fluiu bem. Foi um processo difícil, mas prazeroso. E eu ainda propus um desafio ao Leo de não repetir plano. O fato de eu ter vindo da fotografia proporcionou essa troca legal entre a gente".

O fotógrafo e jornalista João Wainer é o diretor de "A Jaula"

Na reta final do filme, ele aborda como a cobertura da imprensa diante de episódios de violência – tais como assaltos, sequestros – por muitas vezes pode pecar pelo exagero e o sensacionalismo. "Esse tipo de cobertura, em cima de casos de violência, tem que ser feito. É importante. Tem uma função, ajuda inclusive a pressionar a polícia a resolver, ir atrás. Mas tem que ser feito com responsabilidade. Hoje, vemos muita gente despreparada conduzindo esse tipo de debate. Tem que saber fazer e, principalmente, conhecer as consequências. Precisa ter critério jornalístico. O que acontece é que estamos vendo esse tipo de jornalismo – e muitos outros – sendo feitos com muita irresponsabilidade", aponta. 

Por fim, Wainer revela que pegou gosto a partir dessa primeira experiência pelos projetos de longa de ficção. "É algo que eu quero continuar fazendo. Já estou trabalhando em possibilidades. Na produtora, a TX Filmes, estamos em um momento muito bom, produzindo duas séries documentais. Mas quero realmente trabalhar mais com ficção. Essa experiência que eu trago de anos viajando e trabalhando com jornalismo e fotografia é muito útil para construir a ficção", aposta. Sobre os temas que ele teria interesse em explorar nesses futuros projetos, o diretor afirma: "No meu trabalho como fotógrafo sempre cobri criminalidade – trabalhei dentro de cadeia, escrevi livro a respeito, dirigi documentário sobre o PCC, estudei segurança pública… Então tenho vontade de fazer filmes dentro desse universo, que já conheço e vivi de perto. Vejo filmes muito bons dentro dessa temática, mas quem conhece essa realidade de perto sabe que pode ir mais longe, alguns graus de realismo acima. Boto fé que conseguiria trabalhar bem com esse tema. É o que eu mais tenho vontade de explorar". 

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