Inspirado na obra de Drauzio Varella, documentário "Encarcerados" estreia nos cinemas

Após exibição na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, e no Festival do Rio, o documentário "Encarcerados", dirigido por Claudia Calabi, Fernando Grostein Andrade e Pedro Bial, chega aos cinemas no dia 26 de agosto. Inspirado na série de livros de Drauzio Varella, o filme traça um panorama do sistema prisional sob a perspectiva dos carcereiros e seus familiares e também de ex-detentos. O conteúdo literário da obra de Varella também já virou filme e seriado que, apesar de produzidos depois do documentário, já foram lançados.  

Pedro Bial, Drauzio Varella, Fernando Grostein Andrade e Claudia Calabi

Filmado antes do início da pandemia de Covid-19, "Encarcerados" é fruto de um extenso trabalho de pesquisa e entrevistas que dão voz a um personagem normalmente invisível na história do sistema prisional brasileiro: o carcereiro. O documentário traz depoimentos de diferentes gerações de agentes penitenciários – alguns já aposentados, outros ainda na ativa – além de familiares e ex-prisioneiros. Muitos são testemunhas de fatos que marcaram a história do país, como o massacre do Carandiru e diversas rebeliões. 

"Saber que o projeto já trouxe mais visibilidade e atraiu as pessoas para simplesmente olharem para a categoria dos agentes penitenciários, que é heróica e crucial para o equilíbrio social, já é muito positivo. Esse é o legado que queremos deixar e nossa maior contribuição", afirmou Pedro Bial durante coletiva de imprensa virtual. "O objetivo era esse mesmo, essa visibilidade. O documentário foi o primeiro produto que fizemos com inspiração no livro de Drauzio. Foi o início de tudo, e ainda é essencial e atual. Tanto o livro quanto o documentário seguem relevantes e ganharam ainda mais urgência. A realidade exposta não permanece igual – ela se agravou", completa o jornalista. 

O longa-metragem escancara as engrenagens do sistema, que prende mais do que a sua capacidade, e traça uma linha do tempo que passa pelo massacre do Carandiru e remonta os desdobramentos que levaram ao surgimento do Primeiro Comando da Capital, o PCC. Assista ao trailer:

"É fundamental destacar o quanto Drauzio foi sensível ao escrever o livro. Ele me mostrou que nós temos muito a aprender com esses profissionais. Estar em contato com eles fez abrir minha visão de mundo. Hoje, acho que visibilidade que o projeto proporcionou veio de uma ligação entre todas as potências que estão envolvidas no trabalho", comenta o diretor Fernando Grostein. Para ele, jogar luz nos cantos escuros da sociedade é importante, pois o conhecimento é libertador. "As pessoas não param para refletir sobre o sistema penitenciário. A cadeia não deve ser feita só para punição, e sim para reabilitação. E isso não acontece. A ideia do filme é mostrar como o sistema prisional atual não funciona. Ele prende mais do que a sua capacidade e deixa de reabilitar essas pessoas – o que seria fundamental – criando assim uma bomba-relógio, marginalizando cada vez mais", alerta. 

Drauzio Varella assume ter uma verdadeira admiração por esses profissionais. "Escrevi o livro porque acreditava que essas histórias deveriam ser contadas. A sociedade acha que é só jogar essas pessoas dentro das cadeias para que elas resolvam os problemas e garantam que os presos não fujam. Mas a convivência com esses homens todos me trouxe essa admiração pelo trabalho que eles fazem. A ideia de um documentário inspirado no livro me animou muito. O livro está todo ali, no documentário. É uma sensação muito boa ver o que eu escrevi transformado em outra linguagem. Também acredito que o bom resultado seja fruto de um encontro de pessoas certas", diz o médico.

Cena do documentário "Encarcerados"

Varella conta que, historicamente, os carcereiros detestam a imprensa – então é claro que o receio de aparecer existiu por parte deles: "Eles têm desconfiança mesmo, mas a equipe soube reverter esse cenário, o que não foi fácil. Pude ajudar, conversar com eles, mas só isso não seria suficiente. Eles precisavam sentir verdadeiramente essa confiabilidade". Sobre essa questão, a diretora Claudia Calabi considera: "Acho que muitas coisas foram fazendo a diferença pra gente conquistar essa confiança. Tivemos que demonstrar nosso comprometimento e provar que tínhamos uma palavra a ser cumprida. Fomos cuidadosos ao longo de todo o processo. Alguns dos agentes que ficaram mais próximos de nós chegaram a ser convidados para assistir ao primeiro corte do filme pronto, para dizerem se algo incomodava, por exemplo. Isso foi importante. Fomos muito transparentes com eles ao longo do processo, falando sobre nossas intenções com clareza". 

A produtora Andréa Giusti, da Spray Filmes, finaliza: "Esse projeto ampliou a visão de mundo de todos os envolvidos. Nós, da Spray, sempre tivemos muito cuidado com os agentes, ouvindo sempre as diretrizes da Claudia e do Fernando sobre como mantê-los seguros, fazer com que eles se sentissem confortáveis para contribuir com a gente. Foi um processo desafiador, mas ao mesmo tempo muito iluminador. Aprendemos muito". 

Com distribuição da Gullane, "Encarcerados" é uma produção da Spray e da Gullane em coprodução com a Globo Filmes e a GloboNews. A estreia no circuito nacional de cinema está marcada para 26 de agosto.

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