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Série original “Os Últimos Dias de Gilda”, de Gustavo Pizzi, estreia no Canal Brasil

Série original do Canal Brasil, “Os Últimos Dias de Gilda”, criada e dirigida por Gustavo Pizzi e protagonizada por Karine Teles e Julia Stockler, estreia nesta sexta-feira, dia 27 de novembro, às 22h30. Na mesma data, os quatro episódios da temporada estarão disponíveis nos serviços de streaming Globoplay e + Canais ao Vivo da Globo.

“É mais um projeto original do Canal Brasil que conta com uma equipe muito competente por trás. É uma série incrível, deliciosa de assistir e necessária; traz conversas e debates importantes. O Canal Brasil vem investindo em séries originais, com narrativas próprias, que inovam e transformam a gente de alguma maneira. Cada vez que lançamos um trabalho assim temos bons resultados de audiência. É um orgulho ver nosso conteúdo sendo tão consumido”, afirmou Camila Roque, gerente de marketing do Canal Brasil, em coletiva de imprensa online realizada nesta terça-feira, dia 24 de novembro.

Concebido por Rodrigo de Roure como um monólogo para o teatro, o texto foi levado aos palcos pela primeira vez em 2004, e, em 2018, reinterpretado por Karine Teles nos tablados. Na trama, Karine vive Gilda, uma mulher livre, no mais amplo sentido da palavra, e cada capítulo mostra como o comportamento da protagonista incomoda muita gente ao seu redor. “Gilda é uma personagem que conheci há muito tempo atrás e até hoje continua me ensinando muito. O Rodrigo (de Roure) escreve personagens femininas muito fortes e, um dia, por volta de 2002, 2003, ele me disse que escreveria uma pra mim. Dois meses depois, me mandou o texto de ‘Os Últimos Dias de Gilda’. Fiquei impressionada. A dramaturgia dele tem uma característica muito específica, que traz à tona as idas e vindas da cabeça da personagem. Fizemos a montagem para o teatro e, desde aquela época eu dizia que queria voltar a interpretar a Gilda quando estivesse mais velha, depois que tivesse filhos. Sabia que a entenderia melhor”, contou Teles. “A Gilda da série, pra mim, é baseada na do teatro, mas é outra personagem – tem outra criação e outro olhar, apesar da mesma essência. O resultado é muito bonito e me emociona”, completou.

Dona de excelentes dotes culinários, Gilda (Teles) cria porcos e galinhas no quintal de sua casa para o abate e produz receitas capazes de encantar amigos e amantes. Sua independência incomoda a vizinhança, principalmente Cacilda (Julia Stockler), esposa de Ismael (Igor Campanaro) que está se candidatando a um cargo público através de um partido ligado a um grupo religioso. “Cacilda é a intolerância, o pilar dessa sociedade vem por meio dela. Ela olha pra Gilda e não consegue abraçar essa mulher que é luz e potência. É uma personagem que se estrutura a partir da dor – ela sofreu muito no passado e se agarrou a um modelo de família, uma tentativa de evangelização para dar um contorno à própria vida. A narrativa que se constrói é muito bonita. Gilda fala sobre generosidade, e essa é a parte que mais me toca. Como uma mulher contemporânea livre e independente, ela ainda traz essa empatia com a outra, um colo para essa comunidade onde vive, mesmo estando muito ferida. Essa série dá um ar para respirarmos diante de uma sociedade que está desmoronando”, opinou Stockler, intérprete da personagem Cacilda.

Gilda mantém-se de forma independente, recusa-se a aceitar a opressão e o machismo e escolheu se relacionar de forma livre com diversas pessoas, sem amarras ou rótulos para essas relações. Já Cacilda representa valores conservadores, opostos à personalidade da protagonista, cujo comportamento sexual julga como libertino e a fé como bruxaria. Não bastasse a agressividade dos vizinhos, ela ainda precisa lidar com a violência urbana, a briga entre traficantes, policiais e milicianos em busca do controle da comunidade em que mora. “Mas Gilda não é uma super-heroína; ela sofre com os acontecimentos e reage a eles. Mas uma mudança muito forte que vejo do texto teatral para a versão audiovisual é a questão da sororidade feminina, que é o ‘pulo do gato’ das mulheres na atualidade. Estamos entendendo que se respeitar, se ouvir e se entender nas nossas diferenças é nossa potência e nossa força”, ressaltou Teles.

Adaptação para a TV

Gustavo Pizzi, criador e diretor da série, e que assina os roteiros em parceria com a própria Karine Teles, conheceu a história de “Gilda” na primeira montagem da peça teatral, quando chegou a acompanhar inclusive um pouco do processo de ensaio. “É um texto muito poderoso. Desde aquela época fiquei imaginando o desafio que seria transformá-lo em um projeto audiovisual. Tive esse impulso de maneira muito forte. Naquele momento, a ideia era fazer um filme, mas não rolou. Tentamos alguns editais mas o projeto sempre ficou ali, não foi para frente. Até que há uns três ou quatro anos abrimos essa possibilidade de transformá-lo em uma série”, relembrou.

“O principal desafio foi trazer essa personagem para esse lugar de agora a partir dos elementos claros que o texto traz de quem é Gilda. Fizemos isso pensando muito nesse mundo de hoje, o que estamos vivendo especialmente após 2013. A criação do roteiro com a Karine envolveu muita conversa e muitas versões diferentes. Mesmo depois dele já ter sido fechado, ainda conversamos muito a respeito. Mudamos muita coisa conforme os dois turnos da última campanha presencial – filmamos a série entre um turno e outro das eleições. Estávamos muito envolvidos com tudo que estava acontecendo. Foi um momento duro e difícil, mas conseguimos transportá-lo para o que estávamos fazendo”, contou. O ator Erom Cordeiro concordou: “Meu personagem chega como alguém que estava nas sombras, percorrendo as beiradas, mas sempre presente. Ele aparece de uma forma violenta, meio que representando essa onda conservadora, esse neoliberalismmo que trabalha com o medo como forma de controle da sociedade e das suas liberdades. Foi muito forte viver isso, foi difícil representar algo que estava tomando conta do país”.

Pizzi disse que, apesar de ter se inspirado muito no que estava acontecendo no Brasil no segundo semestre de 2018, a série não se passa exatamente nesse período: “Sabemos que se passa em algum momento entre 2013 e 2025. Não quis marcar exatamente isso porque são situações que já aconteceram e vêm acontecendo. Continuamos dentro desse lugar de opressão clara que vem sendo construído e que eu vejo de maneira mais clara a partir de 2013”. Nesse sentido, Teles acrescentou: “É um microcosmo. O texto do Rodrigo já foi montado na França e no México, por exemplo. Tem universalidade nessa questão da opressão do feminino”.

Por fim, quando questionado sobre possíveis represálias diante dos temas abordados na obra, o diretor declarou: “Nada do que está ali é diferente do que vemos ser defendido, até oficialmente, por instâncias do Governo Federal. Estamos colocando situações reais e problematizando-as, dizendo para as pessoas ‘estamos criando uma sociedade assim, talvez você contribua para isso e nem saiba’. Em certa medida, isso acontece bastante. Pessoas defendem certas bandeiras sem nem ter noção de onde estão metidas. É importante termos responsabilidade ao abordar essas questões e ter coragem de mostrá-las, contribuir para a discussão. E são coisas ditas aos quatro ventos, não somos as únicas vozes a falar disso. Seguimos atentos ao nosso redor. Nossa função, como artistas e cidadãos, é contribuir para a sociedade, falando abertamente e com responsabilidade sobre os seus problemas”.

Os episódios inéditos de “Os Últimos Dias de Gilda” vão ao ar no Canal Brasil às sextas, às 22h30, com reprises nas madrugadas de sábado para domingo, à 1h55, e às segundas, à 0h55. A partir desta sexta, 27, a série estará disponível na íntegra no Globoplay com exclusividade para assinantes.

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