Ancine divulga estudo sobre diversidade de gênero e raça nos lançamentos

A Ancine apresentou nesta quinta, 25, um novo estudo sobre a diversidade de gênero e raça nos lançamentos cinematográficos brasileiros em 2016. A Superintendência de Análise de Mercado da agência reguladora realiza estudos sobre a diversidade de gênero desde de 2014, mas este é o primeiro ano em que também foram buscados dados de raça. "É o primeiro ano da série histórica de raças. Sabíamos que a exclusão racial era grande, mas até agora, não sabíamos que as diferenças eram tão chocantes na questão de raças", disse Luana Maíra Rufino Alves da Silva, superintendente de Análise de Mercado da Ancine, em entrevista a TELA VIVA. "É assustador não haver mulher negra em roteiro e direção", completa.

O universo da pesquisa consistiu na análise dos 142 longas-metragens brasileiros lançados comercialmente em salas de exibição no ano de 2016, sendo que em cada filme form analisadas as funções de direção, roteiro, produção executiva, direção de fotografia e direção de arte – nestas duas últimas funções, foram analisados apenas os dados de gêneros, nas demais de gênero e raça/cor. Foram analisadas 1.341 pessoas que atuaram nestas funções nos lançamentos daquele anos. Uma equipe foi montada para classificar os profissionais, uma vez que não haviam dados declaratórios sobre gênero e raça destes profissionais, observando nomes sociais e fotografias públicas dos profissionais. Cada profissional foi analisado por dois pesquisadores diferentes e os casos de divergência foram levados a um segundo grupo formado por sete servidores da Ancine para a deliberação final.

Os dados levantados serão usados por um comitê de gênero e raça criado em dezembro de 2017 para levantar dados e pautar as políticas públicas de inclusão.

De acordo com os dados da Ancine, 75,4% dos filmes lançados em 2016 foram dirigidos exclusivamente por homens brancos, enquanto 2,1% ainda contaram com homens brancos em direção conjunta com mulheres brancas. As mulheres brancas, além de atuar em uma pequena parcela de títulos em direção conjunta, assumiram o mais importante cargo criativo dos filmes em 19,7% dos casos. A participação de negros na direção se resumiu a apenas 2,1% dos filmes (três títulos), sendo que nenhuma mulher negra foi responsável pela direção. Apenas em 0,7% (um filme) não foi possível identificar a raça do diretor.

Em roteiros, a presença de mulheres negras também é nula, embora o volume de obras criadas exclusivamente por homens brancos seja substancialmente menor que a participação de diretores brancos. Em 59,9% dos filmes os diretores são exclusivamente homens brancos, enquanto em 16,9% o gênero é misto, mas sem a participação de múltiplas raças. As mulheres brancas foram responsáveis exclusivas pelos roteiros de 16,2% dos lançamentos. Homens negros tiveram uma participação de 3,5%.

A participação de mulheres na direção em documentários sobe substancialmente em comparação com outros gêneros de lançamentos. No caso de animação, o único título lançado naquele ano foi dirigido por homem. Em ficção, 68% dos diretores foram exclusivamente homens, 19,6% foram de gênero misto e apenas 12,4% foram dirigidos exclusivamente por mulheres. Já em documentários, 25% foram dirigidos exclusivamente por mulheres e 11,4% foram de gênero misto.

Segundo Luana Rufino, os dados de lançamento de 2017, que serão apresentados na próxima semana, não apontam uma melhora no quadro em relação a gênero os diretores.

Em produção executiva, é interessante notar que a presença feminina é dominante. As mulheres atuaram como produtoras executivas em 68,8% dos lançamentos – 39,7% dos lançamentos tiveram apenas mulheres na função e 29,1% tiveram homens e mulheres. Na questão racial não há melhora significativa nesta função em relação a direção e roteiro: 2,1% dos lançamentos contaram com produtores executivos negros e 4% de raça mista.

A presença masculina também é maioria em outras funções artísticas, como direção de fotografia e de arte. Na primeira, 85,2% são exclusivamente homens e apenas 7,7% exclusivamente mulheres. Em direção de arte, 59,2% dos lançamentos foi exclusivamente homens, 31% de gênero misto e apenas 5,6% exclusivamente mulheres.

Elenco

Mesmo no elenco, a participação de gênero e racial não refletem a realidade nacional. As mulheres são 51% da sociedade brasileira, mas 40,6% do elenco dos filmes nacionais. Já a população preta e parda representa 50,7% do país, enquanto no elenco a participação é de apenas 13,4%.

Pirâmide

Segundo Luana Rufino, é possível mexer na participação de gênero e raça em toda equipe de um longa, seja técnica ou elenco, incentivando e presença de mulheres e negros no topo da cadeia. Ou seja, quanto mais diretores e roteiristas negros, maior a chance de ter temática e personagens de gêneros e raça variados. "O ator é a ponta, o que a gente vê, e ainda assim não reflete a realidade brasileira. É possível construir um círculo virtuoso mudando o topo da cadeia.  Os dados mostram, com mais de 95% de acerto, que tem 43% mais chances de o roteirista ser negro se o diretor for negro. A chance de participação de atores negros no elenco principal sobre para 65% o diretor também for negro.

Recursos públicos

A participação de gênero na direção e no roteiro dos filmes é um pouco melhor nos títulos incentivados com recursos públicos federais. A participação feminina na direção sobe de 17%, no caso dos não incentivados, para 21% nos incentivados. No roteiro, a participação sob de 20% para 28%.

Já participação de múltiplas raças não melhora, pelo contrário. A participação de brancos na direção sobre de 94% para 100% no caso dos longas distribuídos em 2016. Enquanto a participação de roteiristas brancos sobe de 93% para 98%.

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