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Netflix anuncia minissérie de ficção inspirada na Chacina da Candelária

O painel “Fantasia, Ficção e Fatos Reais: desenvolvendo narrativas locais com Netflix” realizado nesta quarta-feira, 27 de abril, durante o Rio2C 2022, trouxe algumas novidades sobre as próximas produções nacionais originais da plataforma. Entre elas, um projeto de ficção inspirado na tragédia que ficou conhecida como a “Chacina da Candelária”. A série traz Luis Lomenha como showrunner e Jabuti Filmes e Kromaki na produção. 

Dirigida por Lomenha e Marcia Faria, a obra acompanha as 36 horas que antecedem a tragédia pelo ponto de vista de quatro crianças. Oriundos de lares desestruturados, esses jovens encontram nas ruas do Rio de Janeiro, e na companhia mútua, uma forma de tocar a vida – até terem seus futuros interrompidos por uma chacina de repercussão mundial.

Com título ainda em definição, a minissérie de quatro episódios vai misturar realismo, fantasia e afrofuturismo como uma inovação estética para contar a trajetória de crianças que, nessa narrativa, representam milhões de pessoas que vivem nas ruas das grandes metrópoles brasileiras, propondo uma reflexão sobre o que elas poderiam ter sido ou vivido se tivessem sido acolhidas e/ou tivessem tido outras oportunidades. 

“Nosso esforço foi para criar um conteúdo onde o espectador enxergue que as crianças que morreram na Chacina da Candelária eram simplesmente crianças. Esse foi o desafio do desenvolvimento do projeto, com o qual estamos trabalhando há quase dois anos. Outro desafio era ressignificar esse fato tão trágico. Não esperem corpos negros no chão e violência extrema. Contaremos essa história de uma forma totalmente diferente”, pontuou o showrunner. 

Para desenvolver o projeto, Lomenha reuniu alguns dos sobreviventes com os roteiristas Renata Di Carmo, João Santos, Luh Maza, Dodo Azevedo e Igor Verde. O roteiro desse drama que cruza cenas de ação, elementos oníricos e realidade surgiu a partir do relato dessas experiências: “Não temos um protagonista, e sim quatro personagens centrais. Alguns dos poucos que sobreviveram à chacina nos ajudaram a entender esse universo e quem eram os personagens que habitavam aquele lugar. Trouxemos esses homens e mulheres que foram crianças naquela época e que narraram pra gente algo completamente distinto da visão vertical que a sociedade tinha deles. É um olhar da infância sobre uma sociedade que falhou e segue falhando. A série não está presa no tempo – é algo que poderia acontecer hoje porque isso não parou. Está na TV e nos jornais o tempo todo. E queremos justamente contar uma história diferente daquela que é contada na TV e nos jornais. O objetivo é enxergar crianças como crianças, e não como algozes. Não buscamos encontrar culpados, e sim refletir e entender o quão cruel fomos – e ainda somos – como sociedade e o quanto fechamos nossos olhos para essas questões”. 

Com a pré-produção começando em alguns dias, a minissérie terá protagonistas interpretados por jovens negros que ainda não atuaram no mercado do audiovisual, selecionados após cinco meses de parceria com diversos grupos artísticos da periferia do Rio de Janeiro. Cada episódio também contará com participações especiais de nomes renomados do entretenimento brasileiro. 

“A troca criativa com a Netflix foi muito rica. Quando apresentei a história, tinha uma ideia na cabeça – não era ainda um projeto superformatado. Mas era uma ideia consistente e muito crível. Quando temos convicção do que queremos fazer, se torna mais fácil. O mais interessante dessa parceria de co-autoria com a Netflix é que dividimos os riscos e também a criação, a paixão pela história. Muito me motiva ver pessoas que não têm envolvimento direto com a série torcendo por ela. Dividimos a crença nesse conteúdo”, celebrou Lomenha. 

O showrunner da série é cineasta, documentarista e um dos fundadores do Cinema Nosso, organização focada na formação de jovens negros. “Tudo o que eu penso em termos de criação está ligado ao universo negro. A luta dos negros parte do local e vai para o universal, e acho que as nossas histórias devem passar pelo mesmo caminho. A missão é ressignificar fatos e personagens. Acredito muito nisso”. Lomenha espera que esse novo projeto seja uma das séries com o maior número de pessoas negras atrás das câmeras. “É um desafio que colocamos na produção e estamos correndo atrás desde o primeiro dia de conversa com a Netflix”, afirmou. 

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