Streaming busca grandes IPs e histórias com potencial global, diz Renata Rezende, da WBD

Renata Rezende, diretora de produção de conteúdos de ficção Latam da WBD (Foto: Divulgação)

Para Renata Rezende, diretora de produção de conteúdos de ficção Latam da Warner Bros. Discovery, os grandes IPs são as "joias da coroa" das plataformas na atualidade – e devem continuar sendo pelos próximos anos. Em entrevista exclusiva para TELA VIVA, a executiva destacou também a preferência por histórias que, ainda que sejam locais, tenham potencial global – essa é a grande meta do processo de busca pelos melhores projetos. "De certa forma, são tendências que se encontram: as grandes propriedades costumam ter essa capacidade de viajar o mundo. Queremos projetos que consigam romper essa barreira, esse estigma de que séries brasileiras não viajam. E que tragam temas atuais e discussões vivas", afirmou. 

Nesse sentido, a WBD se prepara para lançar uma de suas maiores apostas recentes: a série "Cidade de Deus: A Luta Não Para", que estreia na Max em agosto de 2024. A nova trama se passa 20 anos após os eventos do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, de 2002, e conta novamente com a produção da O2 Filmes. Meirelles também retorna, desta vez como produtor. O diretor é Aly Muritiba ("Cangaço Novo") e os roteiristas são Sérgio Machado, Armando Praça, Renata Di Carmo, Estevão Ribeiro e Rodrigo Felha. Alguns atores do elenco do longa, como Alexandre Rodrigues e Roberta Rodrigues, também estarão na série. 

"Em nenhum momento tivemos receio de embarcar nessa missão porque estávamos sempre acompanhados dos grandes talentos desse projeto. Sabíamos que seria um desafio, mas não pensamos duas vezes antes de mergulhar nele. É impossível comparar com o que foi o filme – nada vai ser igual a ele. Temos que ter esse lugar de humildade. O filme é referência absoluta no Brasil e no mundo. A ideia da série é justamente reverencia-lo, respeitando essa história. É uma propriedade muito sólida", ressaltou. "Mas vamos contar uma história nova, de outra perspectiva. Afinal, o mundo mudou muito também", observou. Rezende enfatizou que o grupo tinha consciência de que iria mexer numa coisa quase que "sagrada" para os envolvidos no projetos de anos atrás. "Não tivemos dúvidas porque entendemos que seria um processo respeitoso e cuidadoso. E o processo foi muito feliz. É claro que tiveram dificuldades – não é uma série fácil nem simples de fazer – mas foi muito prazeroso. Trabalhamos com uma vontade de coletiva, movidos por um objetivo maior".

A diretora evita comparações entre o filme e a série – apesar de serem ambos inspirados no livro de Paulo Lins e terem personagens e uma essência em comum, o fato de serem formatos audiovisuais diferentes já é um fator relevante. "A história, a narrativa, os conflitos, é tudo diferente. Assim como a forma de produzir, que também foi outra. Produzimos pensando nessa audiência de hoje. Que, ao contrário daquela época, não está tão presente e restrita às salas de cinema", pontuou. "Quando o filme foi feito, obviamente existia a intenção de que ele ocupasse determinado lugar, mas acho que nem nos melhores sonhos tinham essa ilusão de que ele fosse chegar onde chegou. A série, por outro lado, nasce com essa expectativa. Estamos fazendo pensando nessa audiência global. Atualmente, é nosso produto latino-americano com maior potencial global. Estamos falando de um IP muito potente e, por isso, a série já nasce com uma expectativa diferente. Trabalhamos com outra expectativa do que eles tinham lá atrás", contou. 

Nesse processo, ela celebrou a parceria com a O2 Filmes: "Nós entramos como um ingrediente novo nessa equação, mas desde o começo eles entenderam que nosso papel seria importante para que o resultado esperado possa ser alcançado. A O2 é uma produtora com uma sólida trajetória nesse mundo do streaming. É uma das principais produtoras brasileiras. Então eles também já estão muito experimentados nesse lugar de produzir projetos em parceria com plataformas. A nossa relação é respeitosa e frutífera. Eles têm um entendimento, uma paixão por esse projeto. Isso é lindo. Do outro lado, eles sabem que chegamos com respeito e vontade de fazer dar certo e de amplificar a força que 'Cidade de Deus' já tem". 

"Alquimia" para uma produção global  

Rezende fala muito sobre o tal "potencial global" – mas descobrir se os projetos têm isso não é uma questão matemática. "São apostas. Claro que, quando trabalhamos com um IP como 'Cidade de Deus', é uma aposta mais certeira e segura. Mas com isso carregamos uma responsabilidade gigante porque não dá para errar. Não são tantos IPs potentes que estão soltos por aí. Então quando você consegue trazer um pra dentro, realmente temos que cuidar para executar com excelência, respeitando a potência desse IP e não desperdiçando. Obviamente que, quando fazemos uma aposta, acreditamos que vai ser global. Mas o processo de produção tem que ser feito de uma maneira tão precisa, com tanta excelência, tão cuidada… É isso que vai definir se vai ser global ou não", analisou. Para ela, olhar para os IPs e entender quais trazem segurança é fácil. O difícil é executar a produção respeitando a força do IP e potencializando a história que se tem na mão

E na visão da diretora, não existem fórmulas: "A indústria até tem seus métodos, seus segredos para segurar a audiência, entender pontos onde segura mais ou menos. Mas, na verdade, por mais que você tenha uma fórmula, existe uma alquimia dentro da produção que é o que vai garantir seu ponto de excelência ou a falta dele. É isso que buscamos nos projetos: fazer com que essa alquimia do processo resulte naquilo que imaginamos lá atrás. É um grande compromisso. A alquimia envolve uma série de fatores – os talentos envolvidos, a história contada, o momento em que o projeto é lançado… É imprevisível". 

Constância de projetos e parceria com produtoras

A WBD segue uma linha de produção constante: nos últimos dois anos, há uma média de 50-60 projetos em diferentes etapas de desenvolvimento sendo tocados simultaneamente. "Temos equipes de produção e desenvolvimento específicas para cada nicho – conteúdo não-roteirizado, conteúdo roteirizado e infantil – e o caminho é organizar. Também é fundamental estabelecer boas parcerias – esse é um dos nossos grandes segredos. Trabalhamos com produtoras que atendem, entregam e entendem o que está sendo pedido. E, com organização, conseguimos ter uma equipe muito presente nas produções. É uma estrutura que permite", explicou a executiva. 

Refletindo sobre esse trabalho em parceria com as produtoras, Rezende diz que o mercado brasileiro se profissionalizou imensamente nos últimos anos. Do ponto de vista de quem também trabalha com outros territórios pela América Latina, ela sente que, aqui, há muitos profissionais e talentos preparados. "É um mercado ainda em desenvolvimento, mas sinto que estamos com o pé na indústria. A Warner tem uma relação muito boa com o mercado e com as produtoras em geral. Essa constância de produção que mantemos é bem vista – e é algo importante e raro pro mercado atual. E o enorme respeito aos talentos também é um grande diferencial da gente. É um trabalho de parceria mesmo – não de obras encomendadas. Tentamos trabalhar com o que cada parceiro tem de melhor e entender onde conseguimos colaborar para amplificar a potência de cada um. Estamos cada vez mais sedimentando uma estrada interessante por aqui". 

Desafio para o futuro  

A diretora declara que o maior desafio do momento é repensar modelos. "O mercado mudou muito, principalmente o nacional. Tínhamos a TV aberta, a TV fechada, depois as plataformas… Agora isso também está mudando, algumas não estão mais produzindo tanto quanto produziam antes. É um mercado em constante movimento. E todos nós – produtoras e plataformas – aprendemos que não existe uma grande certeza de futuro. É tudo muito mutável. E esse enorme aprendizado fez com que as pessoas trabalhassem de maneira diferente", opinou. "Esses modelos de negócio diferentes são a grande sacada. Você consegue ir modulando, ajustando, sem necessidade de uma única fonte. Esse é o grande segredo. No momento atual, é a principal discussão da mesa". 

Olhando para frente, ela acredita que o mercado brasileiro está muito preparado para grandes produções. "Temos talentos de altíssimo nível e excelentes histórias criadas por esses talentos. Precisamos de mais oportunidades para provar que conseguimos realizar à altura. Em 'Cidade de Deus' mostraremos isso com mais força. É um projeto que entregaremos com uma excelência de produção. O caminho é por aí: o mercado brasileiro está preparado, só precisa ser desafiado nesse sentido", concluiu. 

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