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“Mercado audiovisual deve analisar como a atividade impacta o entorno”, diz Debora Ivanov

Nesta terça-feira, dia 27 de setembro, Debora Ivanov, produtora audiovisual, sócia da Gullane Filmes e diretora executiva do SIAESP, esteve presente no FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul ministrando a palestra “Sustentabilidade Econômica no Audiovisual”, como parte da programação do ECM+Lab, braço de mercado do Festival. 

Debora iniciou sua apresentação com alguns dados relacionados ao setor – entre eles, o fato de que o audiovisual agrega R$26,7 bilhões ao PIB nacional, segundo levantamento de 2018. “Nossa indústria tem muita visibilidade para o público quando ‘está pronta’, mas precisamos sempre imaginar o que está por trás. É uma indústria pujante, que contribui mais para a economia do que a fabricação de produtos farmacêuticos e a produção têxtil, por exemplo. E de 2018 para cá, a indústria cresceu muito, inclusive na pandemia, porque aumentou bastante o consumo, e por conta da chegada das novas plataformas”, pontuou. Ela ainda falou sobre outras métricas, como o volume de filmes nacionais lançados nas salas de cinema (167, em 2019); a quantidade de obras nacionais nos canais da TV por assinatura (que já chegou a 18% de inserção) e o volume de coproduções internacionais (de 2010 a 2019, foram mais de 150 títulos lançados nos cinemas). 

A produtora também mapeou as atuais fontes de financiamento de obras audiovisuais, que ela dividiu em políticas públicas federais (como Artigo 39, Artigo 3º, 3ºA); recursos internacionais (como fundos, coprodução, pré-venda); recursos privados (plataformas e canais de TV, marcas, investidores); políticas públicas locais, de estados e municípios (editais, Film Commission); e ainda as possibilidades que ela chamou de “híbridas”, como a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo, que contam com arrecadação federal, mas gerenciamento dos recursos pelos estados e municípios. E, ainda na fala de apresentação, elencou as possibilidades de comercialização: salas de cinema, licenciamento para TV e VoD e mercado internacional. “É necessário manter sempre o olhar atento para todas as possíveis fontes de financiamento e buscas de receita”, disse. 

Desenvolvimento Sustentável 

Mas para além do impacto econômico, é latente a questão do desenvolvimento sustentável na atualidade. Hoje em dia, empresas de todos os segmentos falam em ESG, isto é, responsabilidade ambiental, social e busca por governança. A ideia é criar mecanismos para medir o alinhamento das empresas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para 2030 nessas três dimensões. 

Em 2021, o Associação Cultural Panvision, realizadora do FAM, lançou o projeto piloto do Selo Verde EcoVision, tendo como principal propósito a conscientização da importância das boas práticas para o desenvolvimento sustentável no setor audiovisual. A iniciativa tem o objetivo de minimizar o impacto ambiental derivado das produções audiovisuais e reconhecer as produções que já aplicam diversas ações positivas. O projeto propõe um conjunto de selos associados, catálogo de empresas e profissionais, calculadora calibrada a realidade na América Latina, fundos aderentes, consultoria e capacitação. E no primeiro semestre de 2022, foi lançada a pesquisa EcoVision, voltada para produtores do audiovisual dos países latino-americanos, com o intuito de identificar aspectos sustentáveis dentro da indústria e embasar a aplicação do Selo.

“É um convite para o mercado audiovisual ao debate sobre a gestão das nossas produções, negócios e produtoras e partir dos pilares da sustentabilidade ambiental, social e econômica. Ou seja, é um olhar para a fora, sobre como a minha atividade impacta meu entorno e como posso aprimorar esses processos e adotar melhores práticas. Essas métricas para o setor ainda estão em construção e o Selo EcoVision está trabalhando nessa construção, isto é, em como criar essas métricas que sejam validadas pelos governos, sindicatos e o setor como um todo”, explicou Debora. 

Estudo de Caso 

Para exemplificar como as empresas do audiovisual podem trazer essas reflexões, Debora apresentou um estudo de caso – um projeto de longa-metragem do qual ela participou da produção, cujo orçamento foi de cerca de R$3.700.000, e foi rodado pela empresa de São Paulo em uma cidade no interior da Bahia. A produtora destrinchou os itens do orçamento e os listou de forma detalhada. 

O primeiro objetivo era entender quais os valores gastos na produção que impactaram em outros setores da economia. No caso do filme analisado, cerca de 40% dos recursos foram investidos em outras atividades – tais como transporte, alimentação, hospedagem, construção, moda e serviços, como administrativo, jurídico e contábil, entre outros, reforçando como a atividade audiovisual estimula e impacta diretamente no desenvolvimento de outros setores. 

O próximo passo diz respeito aos profissionais. Ao fazer um levantamento da equipe, constatou que estiveram envolvidos no projeto 64 funcionários fixos da produtora, 123 de equipe contratada e 23 de elenco e apoio – ou seja, foram 210 profissionais atuando diretamente, fora os indiretos, como os funcionários de um hotel onde a equipe se hospedou, por exemplo. 

Outro dado: 27% do orçamento (cerca de um milhão de reais, nesse caso) foi diretamente para a economia local – para a cidade do interior da Bahia, onde o filme foi rodado – indo para equipes e elenco locais, equipamentos, locação, arte, transporte, alimentação e hospedagem, por exemplo. “Isso de forma natural, sendo que poderíamos pensar no que mais poderíamos ter feito ativamente para contribuir com a economia local”, observou Debora. 

“É um convite a pensar no nosso trabalho fora dos aspectos da nossa sobrevivência – nossos filmes, projetos e produtoras. Em como posso positivamente impactar meu entorno com justiça social e busca por equilíbrio para a sociedade e o planeta”, resumiu. 

Por fim, Debora disse que “quem se importa, ganha”, no sentido de que a atividade voltada ao desenvolvimento sustentável, para além de ser uma atitude que contribui com um futuro mais equilibrado para a nossa sociedade e para o nosso planeta, gera valor para as empresas e impacta na tomada de decisão de investidores e players do mercado. “Indicadores do ESG – que já se tornaram um selo de qualidade para o mundo corporativo – têm impacto direto na valuation das empresas nas bolsas de valores em todo o mundo. Teremos um selo oficial que vai chegar a médio prazo. Empresas que tiverem esse selo valerão ainda mais, terão ainda mais valor agregado”, concluiu. 

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