Uma das criadoras de "Novela", Valentina Castello Branco celebra busca por ideias originais nos canais e plataformas

Canais e plataformas de streaming estão cada vez mais abertos a ideias originais. É o que diz Valentina Castello Branco, roteirista e criadora da série "Novela", que percebe uma via de amadurecimento entre os executivos de programação e conteúdo. "Estou há dez anos escrevendo roteiros. No início, havia uma ideia de como podemos replicar os formatos que já estavam funcionando em outros locais. Era uma tendência muito equivocada", diz. Segundo ela, ainda há "muita gente querendo fazer um novo 'Ted Lasso'", o que não não ajuda muito a valorização do trabalho original. "Cada vez mais produtores e executivos de canal têm consciência de que uma ideia nova traz algo novo e verdadeiro. Algo com muito mais conexão com o público", defende.

"Estou há dez anos escrevendo roteiros. No início, havia uma ideia de como podemos replicar os formatos que já estavam funcionando em outros locais. Era uma tendência muito equivocada".

Valentina é uma das criadoras da série "Novela", produzida pela Porta dos Fundos para o Prime Video que estreia nesta sexta, 28. Economista de formação, deixou a profissão após 10 anos, quando trabalhava na área de compras da C&A. "Eu era uma daquelas pessoas que sofre fazendo o que não gosta. Eu percebi que a história do fornecedor era mais interessante do que o produto que eu estava comprando. O meu olhar estava sempre voltado para a história das pessoas", conta a roteirista.

Percebeu que as cotas de conteúdo na TV por assinatura abriam uma possibilidade concreta de escrever e, sobretudo, viver deste trabalho. Fez um curso de roteiro no Brasil. "Me encontrei. Fiquei muito feliz. Fui estudar em Columbia em Nova York", conta. "Quando voltei senti a dificuldade de se colocar no mercado", conta. Começou ajudando no roteiro de um reality que nunca se concretizou, mas, com isso, conseguiu se aproximar do setor. "O momento mais importante foi quando me aproximei de Juliano Enrico, que estava desenvolvendo a primeira temporada do 'Irmão do Jorel'".

Dez anos depois, ela traz no currículo cinco temporadas de "Irmão do Jorel", bicampeão do prêmio ABRA de Melhor Roteiro Infantil, ganhadora do prêmio Quirino de Melhor Animação Ibero-americana, do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e indicada ao Emmy Kids; é roteirista das duas primeiras temporadas de "Greg News", bicampeão do prêmio ABRA de Melhor Roteiro de Variedades; e roteirizou as séries "Juacas" (Disney Channel), "Me Chama de Bruna" (Fox Premium, hoje Star+) e "Elize Matsunaga" (Netflix). Sobre o contraste nos gêneros dos conteúdos que ajudou a criar, Valentina diz que em todos os casos o prazer de contar uma história é o mesmo. "As tintas é que vão variar", diz.

Após atuar em "Greg News", foi contratada como coordenadora de roteiro no Porta dos Fundos, com a missão de dar mais consistência dramática em alguns dos projetos.

"Novela"

"Novela" é uma ideia original de Gabriel Esteves. "Foi a primeira criação que eu estava conduzindo, como head da sala e fazendo a redação final", conta. Rapidamente perceberam que a série tinha um potencial maior, e Valentina deixou o papel de coordenadora de roteiro do Porta dos Fundos para se dedicar exclusivamente à série. "No fim de 2018, fizemos imersão no projeto para montar uma 'proto-bíblia'. Com esse material fizemos o pitching para o Prime Video".

"A equipe do Prime sempre reforçou e valorizou muito essa localidade, a brasilidade do que a gente estava contando, conscientes de que tem muito potencial das pessoas se apaixonarem".

Após receberem o sinal verde para a produção de toda a temporada, o diretor João Falcão, além de Gigi Soares e Renata Pinheiro, se juntaram à etapa final do roteiro, com Mariana Pinheiro e Débora Guimarães.

O tema, claramente, tem uma conexão com o imaginário brasileiro. "A equipe do Prime sempre reforçou e valorizou muito essa localidade, a brasilidade do que a gente estava contando, conscientes de que tem muito potencial das pessoas se apaixonarem".

Futuro

Valentina agora trabalha na "Acorda, Carlo", animação "dinâmica e delicada" de Juliano Enrico, nas palavras da roteirista e fã declarada do criador. Para ela, o trabalho para o público infantil é fundamental não apenas para criar o novo público do audiovisual, mas para garantir que a cultural local se perpetue nas futuras gerações. "Para as crianças, sobretudo, é importante se ver refletido. Fico entusiasmada com esse trabalho no qual a gente se reconhece e tem orgulho de quem a gente é", diz.

"Para as crianças, sobretudo, é importante se ver refletido. Fico entusiasmada com esse trabalho no qual a gente se reconhece e tem orgulho de quem a gente é".

Além disso, está desenvolvendo um trabalho mais autoral, o longa-metragem "A Preferida". Se trata de uma saga familiar inspirada na história de sua própria família. É uma história sem vilões, na qual todas as personagens têm seus motivos para tomar decisões difíceis. "O longa-metragem ganhou força novamente com a pandemia. As pessoas têm um desejo de passar mais tempo fora de casa, de viver a vida. Por isso querem histórias mais curtas (do que as séries), com começo, meio e fim. Acho que não querem mais ficar tão comprometidas com o conteúdo", diz.

Após dez anos de carreira, Valentina acredita que a indústria audiovisual no Brasil está evoluindo para ser mais entrelaçada, em relação às etapas da criação à exibição. "O papel do roteirista e criador é, cada vez mais, contribuir ao longo de todas as etapas, de preservar a história e fazer que chegue íntegra ao final", finaliza.

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