Diego Freitas se consolida como diretor cinematográfico no streaming

No período de baixa do cinema brasileiro, recessão provocada pela pandemia e por uma paralização na máquina estatal e nos fundos públicos, o streaming se apresentou como a principal alternativa ao setor. Empresas e profissionais encontraram um terreno fértil para dialogar com o público brasileiro, que também passou a consumir mais as plataformas por conta do confinamento. O diretor Diego Freitas foi desses profissionais que consolidou sua carreira no streaming, coroando recentemente com "O Lado Bom de Ser Traída". O longa bombou na plataforma no Brasil e no exterior.

O diretor de 33 anos vem de uma família humilde e nasceu em Mairiporã, cidade do interior de São Paulo, até ir para a grande São Paulo para investir na carreira de cineasta. Ele trabalha com curtas-metragens desde os 13, até que aos 16 venceu o concurso de curtas realizado pela Petrobras em parceria com o site de entretenimento Omelete. Com o curta de suspense "Sal", ele foi selecionado para o Festival de Gramado e outros festivais ao redor do mundo. Protagonizado por Nicolas Prattes, "O Segredo de Davi" (2018), seu primeiro longa, está disponível na Netflix. O filme foi realizado com pouco mais de R$ 1 milhão. Por isso, Freitas dirigiu, montou e assumiu outras funções. "Fiz tudo por que não tinha dinheiro para pagar ninguém. Filme teve cauda longa e foi redescoberto recentemente nos streamings", conta.

Já "A Volta Para Casa" foi a primeira vez que o diretor fez um filme pensando no público. "Queria que pessoas normais gostassem, com o coração aberto. Tive um pai velho, quando eu nasci ele tinha 70 anos", diz. No longa, Lima Duarte é um marceneiro aposentado que vive em uma humilde casa de repouso. Um dia, Anselmo, um dos funcionários da instituição, o convida para o almoço de Páscoa de sua família, e ambos têm uma grande surpresa.

Antes de ser chamado pela produtora Glaz Entretenimento para dirigir do thriller erótico com Giovanna Lancelotti e Leandro Lima, no entanto, Freitas fez uma carreira que dialogou muito com o público, mas com obras autorais que refletiam muito sua origem, sua realidade e seu momento de vida. Ele se define como um diretor interessado em fazer filmes "pensando no público".

Antes de "O Lado Bom de Ser Traída", também para a Netflix, assinou a direção e o roteiro de "Depois do Universo" (2022), longa protagonizado por Giulia Be e Henry Zaga e produzido pela Camisa Listrada. O filme, que alcançou 51 milhões de horas assistidas nos primeiros 28 dias, um recorde brasileiro na plataforma, ficou no Top 10 do Brasil por cinco semanas e no Top 10 do mundo em 47 países, de acordo com os dados da Netflix. O longa retrata uma talentosa pianista que precisa superar os desafios de lidar com o lúpus, uma doença autoimune, e é surpreendida por uma forte conexão com um dos médicos da equipe que a atende, que irá ajudá-la a superar suas inseguranças na luta para tocar nos palcos junto a uma grande orquestra de São Paulo.

O diretor e roteirista começou a escrever "Depois do Universo" quando sua mãe estava hospitalizada, na fila de um transplante. A experiência no ambiente hospitalar teve forte influência na criação da obra. Escreveu o longa na pandemia e ofereceu à produtora Camisa Listrada. A Netflix, conta o diretor, não comprou a ideia de primeira. Ele era estreante e não haviam muitos exemplos de filmes trágicos jovens. Mesmo assim, a plataforma acabou embarcando. Realizou ainda na pandemia, segundo ele, com apoio irrestrito da Camisa Listrada e da Netflix.

Segundo Freitas, o longa cresceu muito na segunda semana, sinal de que o boca a boca funcionou. Fez muito sucesso nas escolas, embora tenha chegado ao público 25+ também. "Isso mostra que temos que arriscar em gêneros que não estamos habituados", diz.

Alto valor

Todo seu esforço, diz o diretor, sempre esteve em entregar grande valor de produção, apostando em uma estética própria. "Um olhar estético diferenciado e apurado foi o que fez diferença. Arriscamos muito e não jogamos seguro na estética, essa é a mola propulsora do meu trabalho".

Quando finalmente chegou a "O Lado Bom de Ser Traída", convidado pela produtora Mayra Lucas, Freitas viu a oportunidade de chegar a um público que não estava sendo atendido. "Existe um machismo exacerbado quando se pensa em conteúdo erótico para mulheres. Livros e filmes desse segmento são muito 'malhados' e as cenas de prazer feminino parece que não têm valor", diz. Mas os números, aponta, mostram que o gênero é um fenômeno de popularidade. "Foi um gol muito forte do nosso mercado. Chegamos a um público que não estava sendo alimentado. O filme tem estética ousada, não quer ser realista, foi feito de olho no entretenimento e não na realidade social. As cenas de intimidade são como danças, com uma luz incrível", completa.

Suas referências estão no dia a dia do brasileiro médio. "Conheço a estética do evangélico, onde cresci; do mundo gay de São Paulo; do cinema; às vezes sou uma menina gótica. Amo tudo o que é dia a dia e trago isso para a tela. O cinema brasileiro muitas vezes tem uma imagem estereotipada, mas o Brasil é extremamente diverso. Não vou pegar o clichê, quero o Brasil diferente. É uma questão de olhar", finaliza.

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