Há esperança por equidade no audiovisual brasileiro? 

Lideranças da Maria Farinha Filmes (Foto: Miro/Divulgação)

Historicamente, as mulheres têm sido sub-representadas no audiovisual nacional. A assimetria e o desequilíbrio são ainda maiores quando vemos as oportunidades desiguais entre mulheres brancas, negras, indígenas, trans, PcD. E, em muitos casos, muitas mulheres enfrentam violências como sexismo, assédio e discriminação de gênero. De acordo com o "Censo da Indústria Brasileira de Audiovisual" de 2019, as profissionais representam cerca de 42,7% da força de trabalho do setor audiovisual e, ainda assim, são minoria em cargos de liderança. 

Segundo o estudo "A presença feminina nos filmes brasileiros", realizado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), em parceria com o Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2020, apenas 25% dos filmes lançados no Brasil entre 2017 e 2019 tinham mulheres como diretoras. Além disso, somente 19% das produções tinham roteiristas mulheres, e apenas 35% tinham mulheres na produção executiva. Outro dado preocupante é que, de acordo com o mesmo estudo, a representação feminina na tela ainda é desigual. Em média, mulheres representaram apenas 37,1% dos personagens com falas nos filmes analisados. Em 25% dos filmes, elas não tinham nenhum papel importante na história, e em 33% dos casos, elas não tinham falas ou não eram creditadas. 

Além disso, ainda há uma desigualdade significativa em termos de representação e financiamento de filmes dirigidos por mulheres. Em 2019, apenas 19% dos filmes brasileiros lançados comercialmente foram dirigidos por diretoras. Nenhuma delas negra. Aqui, temos uma violência ainda mais pungente: mulheres negras, indígenas, mulheres trans e mulheres PcD são sistematicamente não representadas. Isso mostra como o não reconhecimento das interseccionalidades afeta essas mulheres de forma ainda mais desigual. Apesar de vivermos em um país em que a maioria da população se autodeclara negra e parda, e que mulheres negras representam 1/4 da força de trabalho no audiovisual, a presença em cargos de liderança é baixíssima.  

A partir desta realidade, cabe a toda a sociedade e profissionais, trabalhar para modificar as estruturas apresentadas. Há uma pluralidade de olhares, saberes e idiomas que nos forma como país. Ampliar a ocupação dessa diversidade em espaços com sua máxima representação é um caminho urgente e constante para reverter retrocessos históricos. Para avançarmos na co-criação de um mundo justo e inclusivo, precisamos reparar as gigantescas desigualdades estruturantes que criam oportunidades discrepantes para muitas mulheres. 

O audiovisual oferece ainda a possibilidade de construirmos novos imaginários. De repensarmos as histórias únicas que aprendemos e contarmos tantas outras que ampliam nossas percepções de mundo. Desconstruir estereótipos e expandir as possibilidades de narrativas, personagens e temáticas abordadas, não só torna o setor mais inclusivo, mas principalmente enriquece e representa a cultura brasileira em sua máxima potência.

Se olharmos para um estudo feito pela plataforma norte-americana Starz, em parceria com UCLA, em 2021, com foco na audiência, vemos que, no geral, os espectadores não se sentem representados nas produções e anseiam por mais diversidade na frente e atrás das câmeras. Segundo o resultado deste estudo, mais de 75% da audiência internacional quer ver conteúdo multicultural, apenas 38.4% dos entrevistados sente a própria identidade representada e a maioria da audiência internacional se importa com quem está por trás das câmeras. Um total de 57% se importa em ter pessoas de origem diversa e, por fim, quase dois terços da audiência internacional acredita que a diversidade nas telas aumenta a empatia dos espectadores para com outras pessoas.

Esse movimento vem acontecendo de forma gradativa em solo brasileiro, mas podemos melhorar. A presença de diversas mulheres em posições de liderança no audiovisual também serve como inspiração para futuras gerações, mostrando que é possível alcançar ocupar esses espaços em um campo historicamente dominado por homens.

Neste 8 de março de 2023, temos mais uma oportunidade para refletirmos e nos comprometermos com importantes desafios do audiovisual, e celebrá-lo pelo que ainda pode ser. Reacendemos a chama da esperança: Margareth Menezes como Ministra da Cultura e Joelma Gonzaga à frente da Secretaria do Audiovisual. Que passo gigantesco rumo ao setor que desejamos! O renascimento do MinC é a flecha que irá nos conduzir às possibilidades reais de equidade no audiovisual brasileiro. 

* O artigo foi assinado pelas seguintes lideranças da Maria Farinha Filmes (da esquerda para a direita, de cima para baixo na foto):

  • Monique Rocco, produtora executiva,
  • Estela Renner, sócia-fundadora,
  • Luana Lobo, sócia e co-CEO,
  • Mariana Oliva, sócia e co-CEO,
  • Yolanda Barroso, produtora executiva de desenvolvimento,
  • Duda Porto, head de conteúdo,
  • Geisa França, produtora executiva,
  • Luiza Troina, head de audiência, e
  • Beatriz Craveiro, produtora executiva de desenvolvimento; e por
  • Flavia Doria, diretora executiva da Alana.

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