Projeto Viva Cinemateca vai revitalizar acervo, modernizar a instituição e percorrer o país com programação itinerante 

Dora Mourão no lançamento do "Viva Cinemateca" (Foto: Mariana Toledo)

Pouco mais de um ano após a reabertura da Cinemateca Brasileira, em um processo de reconstrução liderado pela organização social Sociedade Amigos da Cinemateca, a entidade lançou oficialmente o Projeto Viva Cinemateca em um evento para parceiros, autoridades e imprensa na manhã desta quarta-feira, dia 7 de junho. O anúncio contempla uma série de projetos e investimentos, incluindo a modernização e ampliação de sua sede na Vila Mariana, projetos de recuperação, catalogação e digitalização de seu acervo fílmico e uma grande programação cultural que vai passar por São Paulo e outras 12 cidades do Brasil.

Depois de anos de crise, o Viva Cinemateca representa um momento de comemoração para a Cinemateca Brasileira. Desde a reabertura, em maio de 2022, a instituição já recebeu mais de 125 mil visitantes e o público tem aumentado expressivamente. Até maio de 2023, foram cerca de 60 mil pessoas, entre espectadores das 250 sessões de cinema realizadas neste ano e visitantes de seus espaços públicos e de eventos de cultura e economia criativa organizados na sede. 

O Viva Cinemateca é lançado como continuidade ao processo de retomada iniciado no ano passado. O projeto atua em diferentes frentes de ação, com foco na infraestrutura da instituição, na preservação de seu importante acervo e no trabalho de difusão da produção audiovisual brasileira.

"O Viva Cinemateca é uma junção de projetos que leva essa nomenclatura no sentido de que estamos retomando a Cinemateca, é um momento de renascimento. Estamos lutando há mais de dez anos. Agora, a Sociedade Amigos da Cinemateca volta a geri-la numa atuação muito importante, de muito amor. As pessoas aqui se envolvem com muito afeto. Não tem uma área mais importante do que a outra. O restauro é fundamental, claro, mas não adianta restaurar os filmes se eles não forem difundidos e vistos pelo público. E, para isso, também é importante a formação. No Brasil não existe uma escola de preservação. Quem se dedica à preservação de audiovisual são pessoas de formação mais ou menos similar, mas que terminam de se formar aqui dentro. Somos uma escola para esses técnicos especializados. Eles podem ir para Cinematecas de fora e também recebemos outros aqui. É uma rede que apoia essa formação", disse Dora Mourão, Diretora Geral da Cinemateca, na abertura do evento.

"Temos clareza de que a Cinemateca ainda não é conhecida como deveria. Ela precisa se mostrar ao público, pensando na formação de plateias e também para que as pessoas entendam o que é uma Cinemateca. Devemos sair daquela máxima de que é um lugar onde se guardam filmes velhos. São filmes antigos, sim, mas fundamentais para a cultura do país e a formação da sociedade", ressaltou. 

A Diretora concluiu: "É hora de desenvolvermos uma política pública para a área de preservação de maneira mais perene, que não tenha sustos dependendo do governo que entra ou sai. Já aprendemos muito. É momento de lutar para que realmente essa política se instaure. A descontinuidade a gente já conhece muito bem, agora gostaríamos de conhecer a continuidade". 

Modernização e reformas estruturais 

Uma das principais frentes de ação do projeto pretende ampliar e modernizar a sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Atualmente, está em curso o desenvolvimento do projeto executivo para as obras de ampliação da área de guarda e tratamento de acervo e restauração do conjunto arquitetônico histórico na Vila Mariana. 

O projeto contempla a expansão dos espaços de laboratórios, reconhecidos internacionalmente, e atualização tecnológica, assegurando a sobrevivência de mais de 120 anos de história do cinema e do Brasil. Entre as intervenções previstas, estão ainda adaptações da Sala Oscarito e grandes intervenções nos depósitos de acervo. O objetivo é garantir que mais filmes e documentos possam ser preservados e difundidos.

Projetos de preservação 

Entre os projetos de preservação em andamento por meio do Viva Cinemateca, um dos destaques é o tratamento da coleção de nitratos (PRONAC 212939). Essa iniciativa visa catalogar, digitalizar e conservar os filmes em nitrato de celulose, que compõem a coleção mais antiga do cinema brasileiro, com registros audiovisuais que remontam à primeira década do século 20. Trata-se de uma oportunidade única de preservar e compartilhar esses registros com a sociedade. Uma amostra dos primeiros resultados do projeto foi exibida no evento de lançamento nesta quarta. 

O Viva Cinemateca também inclui uma proposta de conservação, duplicação e difusão dos cinejornais do acervo do Canal 100 (PRONAC 221750), maior acervo cinematográfico do futebol brasileiro, além de diversos outros temas que marcaram a sociedade brasileira no período de 1957 a 1986. Além da qualidade inovadora das imagens, as coberturas futebolistas ganharam vida nas narrações de Cid Moreira e Corrêa Araújo. 

O projeto contempla, ainda, a modernização da infraestrutura técnica de projeção audiovisual, consolidando a excelência técnica das salas de exibição da Cinemateca Brasileira.

Ações especiais para 2023

Para marcar seu novo momento, a Cinemateca Brasileira prevê uma série de ações especiais para 2023.

Em julho, a instituição irá promover o Festival Cultura e Sustentabilidade, um encontro para discutir a agenda ESG com os parceiros, trazendo reflexões sobre o tema para instituições e projetos culturais. 

Outra frente do Viva Cinemateca é um programa de difusão que vai promover a circulação do acervo, debates, mostras nacionais, exposição e ações educativas. A programação não se restringirá a São Paulo, passando por outras 12 cidades do país.

Mostra itinerante 

Entre as ações, está a mostra itinerante A Cinemateca é Brasileira. De agosto a dezembro, irá percorrer o país uma seleção de 17 filmes que perpassam diferentes momentos históricos, propostas estéticas e abordagens temáticas, demonstrando a riqueza do cinema brasileiro ao longo dos mais de 120 anos de história. "A ideia é fazer um panorama década a década, com pelo menos um filme de cada, começando em 1929 até os dias de hoje. É um conjunto de filmes que representam o cinema brasileiro e ajudam a formar público para ele", detalhou Dora. Entre os títulos já anunciados, estão "Macunaíma", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", "5x Favela", "Ilha das Flores" e "Bacurau". 

A programação, que também conta com ações educativas e formadoras, vai visitar espaços culturais e salas de exibição de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Canaã dos Carajás (PA), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Luiz (MA) e Vitória (ES).

Em São Paulo, no mês de outubro, uma exposição homônima será aberta na sede da instituição. Maior acervo de filmes da América do Sul, a Cinemateca Brasileira contará a sua história e, consequentemente, a história do cinema brasileiro, por meio de uma mostra que vai mesclar acervos documentais e recursos digitais. Além da exposição presencial, está prevista também uma versão para o ambiente digital.

Campanha 

O novo momento da Cinemateca será divulgado com uma campanha de mídia, de abrangência nacional, que apresentará os objetivos do projeto. Com o mote "Cinemateca Brasileira – Memória em Movimento", a campanha visa resgatar o papel do audiovisual na memória dos brasileiros e ressaltar a função da Cinemateca neste trabalho de preservação da história do país. 

Nas peças, são feitas referência a dez grandes filmes e produções de TV nacionais, como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto; "Central do Brasil" (1998), de Walter Salles; e a novela "Mulheres de Areia" (1973), da TV Tupi.

A matriz da campanha é "Tudo o que você lembra do nosso audiovisual, a Cinemateca preserva", e ela estará nos cinemas, digital, TVs, rádio e eventos, entre outras janelas, além de produtos personalizados, como cartazes, cadernos e ecobags. 

Patrocinadores 

O Projeto Viva Cinemateca conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, como patrocinador estratégico, da Shell, como patrocinadora master, e Itaú Unibanco, como copatrocinador. 

Aprovado na Lei Rouanet, o projeto permite a empresas e pessoas físicas destinarem parte do imposto de renda para a iniciativa (Art. 18 da Lei Federal de Incentivo à Cultura).

2 COMENTÁRIOS

  1. Que ideia fantastica, principalmente restaurar o que restou da novela mulheres de areia da tv tupi, a historia original de Ivani Ribeiro. Estou muito feliz, como gostaria de rever mais capitulos desta novela que é uma obra prima, o remake vive sendo repetido com sucesso, a nova geração merece conhecer este grande sucesso. Obrigado Cinemateca Brasileira, acertou em cheio!

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