Durante um keynote de duas horas, com uma superprodução poucas vezes vista em eventos corporativos e certamente das mais impactantes do maior evento de eletrônica de consumo dos EUA, a CES, a Intel praticamente não falou de processadores (seu core business). Sobre laptops ou dispositivos móveis, nenhuma palavra. Por pelo menos metade do tempo da apresentação realizada nesta segunda, 8, em Las Vegas, Brian Krzanich, CEO da empresa, falou de vídeo e de todo o potencial que, na visão da empresa, começa a se abrir com o conceito de realidade virtual, realidade aumentada, vídeo volumétrico, "voxels" em lugar de "pixels", immersive media…
A visão de futuro da Intel estrá estritamente aliada ao uso de novas tecnologias de vídeo no cotidiano, na imensa capacidade de processamento e transmissão que este conteúdo demandará, de como (ai sim a empresa entra no jogo) serão necessárias tecnologias para processar essa informação. Em suas próprias palavras, a Intel quer deixar de ser uma empresa de semicondutores para ser uma empresa de dados. Em 2020, prevê a empresa, cada pessoa gerará, por dia, 1,5 GB de informação. Um carro conectado gerará 4,4 TB de informação por dia. Um avisão conectado, 5 TB. Uma fábrica conectada, 100 TB. São volumes assim de informações necessários para abastecer os sistemas de inteligência artificial que estão sendo criados. E boa parte da informação será coletada ou interagida na forma de vídeo.
Feito este exercício de futurologia a Intel gastou boa parte da apresentação para falar do True TV, sua plataforma de vídeo imersivo, em que centenas de câmeras são arranjadas de forma a criar uma captação tridimensional do evento. Algumas experiências foram vistas este ano nas transmissões dos jogos da atual temporada da NFL e da NBA (fotebol americano e basquete profissional). Nas Olimpíadas de Inverno, na Coreia do Sul, serão pelo menos 30 eventos transmitidos com essa tecnologia, sendo metade ao vivo e metade sob demanda. "É uma quantidade inimaginável de informação coletada por estas câmeras, e o nosso desafio é justamente criar formas de processar tudo isso em tempo real", diz ele. A NBC, que detém os direitos dos Jogos Olímpicos para os EUA, será a parceira.
A Intel também construiu recentemente, em Los Angeles, um estúdio para a captação de cenas com a tecnologia, e durante a CES anunciou uma parceria com a Paramount Pictures para explorar o potencial da tecnologia. "O que fazemos é substituir o conceito bidimensional de um pixel de imagem por um pixel tridimensional, que pode estar em qualquer ponto do espaço captado. Chamamos esse pixel de voxel", explicou Krzanich. Uma das formas de "entregar" esse conteúdo ao telespectador é por meio de dispositivos de realidade virtual, em que o espectador pode estar em qualquer ponto do estádio ou da cena em tempo real e se deslocar no espaço virtualmente.
A Intel aposta que estas tecnologias terão aplicações médicas inimagináveis, por exemplo, ou para a interação virtual entre as pessoas, e serão a base para o desenvolvimento de aplicações de realidade virtual ainda não concebidas. "Não é uma tarefa simples, mas estamos focados em resolver estes problemas".
O desenvolvimento de aplicações de realidade virtual nesse nível exigirá, na visão da Intel, novas abordagens no processamento das informações. Por isso a empresa está apostando no desenvolvimento de processadores neuromórficos, que emulam o funcionamento do cérebro no processo de aprendizado artificial, e de processadores quânticos. Durante a CES a Intel anunciou o desenvolvimento de um primeiro processador de 49 qubits (unidade de medida de processadores quânticos).