Cabo requer avaliação diferenciada do mercado

As empresas de cabo lutaram por mais de 30 anos para convencer Wall Street de que deviam ser avaliadas por parâmetros diferentes dos usados para outros setores.
Tradicionalmente, analistas de investimentos usam a relação entre os ganhos das empresas e o preço das ações para avaliar o desempenho das companhias. É simplesmente a relação entre os últimos 12 meses de lucros e o preço da ação. Tipicamente, se o P/L (preço sobre lucro) da empresa for menor que 10, é considerada uma boa compra. Maior que 10, é considerado um investimento de risco.
Dentro deste cenário, vieram as empresas de cabo, nos anos 70 e 80. Elas não tinham lucros por definição. Isso porque trata-se de um negócio de capital intensivo, que exige grandes alocações para a depreciação das redes e pagamento de juros sobre o capital investido. Isso isentou a indústria de impostos, mas também deixou-a sem lucros para mostrar a Wall Street.
No fim das contas, os CEOs de operadoras de cabo conseguiram convencer alguns analistas a usar outra forma de medição para determinar a saúde de suas empresas: o EBITDA, ou lucros antes de juros, taxas, depreciações e amortização. À medida em que os analistas aceitaram a jogada, foram convencendo mais e mais investidores de que ações de cabo eram uma boa compra.
Mas a mágica não durou para sempre. Quando as ações de Internet começaram a pipocar no mercado, nos anos 90, usaram a mesma argumentação, e foram seguidas pelas empresas de new media e as que vendiam produtos como redes ópticas.
Quando estas empresas entraram em colapso, nos últimos dois anos, uma das vítimas foi o EBITDA. Mais e mais analistas começaram a voltar ao velho P/L como medida mais segura da saúde de uma companhia, não importa o setor em que atua.
Neste cenário, o cabo volta a sofrer, em comparação a outras indústrias. A maioria das MSOs não reporta lucros e portanto não têm P/L algum, ou quando têm, é tão alto que chega a ser ridículo. Até a conservadora Cox Communications, que reporta lucros, tem um P/L de 89, mesmo depois de uma queda de 33% em suas ações este ano.
Só para comparar, a gigante do petróleo Exxon tem um P/L de 22; a General Electric tem 20, e a tele SBC Communications tem P/L de 15.
Até o P/L das empresas de cabo atingir o patamar do resto do mercado, ou até a indústria convencer os analistas de que ainda vale a pena olhar para o EBITDA como medida de sucesso, as ações de cabo continuarão a penar.

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