Com direção de Clara Deák e Joana do Prado, "Sociedades Matriarcais" estreia no GNT em 16 de agosto

Clara Deák e Joana do Prado (Foto: Divulgação)

"Sociedades Matriarcais", série documental da Spray Media em coprodução com o GNT, conta a história de quatro das últimas sociedades matriarcais e matrilineares do mundo: os Bijagós, na Guiné Bissau; os Minangkabau, na Indonésia; os Khasi, na Índia; e os Bribri, na Costa Rica. A estreia será no GNT no dia 16 de agosto, quarta-feira, às 23h30, após o programa "Saia Justa". Dirigida e roteirizada por Clara Deák e Joana do Prado, a série mostra as culturas e valores de cada sociedade por meio de depoimentos das matriarcas. No primeiro episódio, as diretoras apresentam os quatro grupos e suas líderes e destacam como seus valores são passados de geração em geração. 

"Antes de começar este projeto, não imaginávamos como a sua trajetória seria longa. Ao mapearmos as sociedades matriarcais ainda existentes, não tínhamos ideia de como seria o contato com cada uma das culturas retratadas na nossa série. O mais desafiador, ainda no início de pré-produção, foi encontrar pesquisadores locais que tivessem contato direto com as comunidades. Passada esta etapa, e já na fase da pesquisa de campo – feita à distância por conta da pandemia -, começamos a realmente trocar com as culturas e conhecemos personagens incríveis", contou a dupla de diretoras e roteiristas Clara Deák e Joana do Prado em entrevista para TELA VIVA. 

"Quando entramos em contato com culturas diferentes, nossa maior preocupação é o cuidado com a abordagem. Cuidamos para que este encontro não interfira muito na expressão espontânea de nossos personagens. Mas, sabendo que a riqueza deste contato está justamente na troca, nos posicionamos de forma muito aberta e porosa para que o resultado fosse potente para todos. Um exemplo disso foi nosso encontro com a Professora Raudha, uma pessoa de muito notoriedade na sociedade Minangkabau. Ela é uma das autoridades mais respeitadas na sociedade e testemunhar a forma doce e firme com a qual ela exerce sua liderança e ao mesmo tempo ser convidada a entrar em seu mundo, que ela abre para poucos, foi uma honra. E isso foi possível e se tornou realidade somente depois que ela nos convidou para um chá e nos conheceu. Fomos primeiro entrevistadas por ela para depois entrevistá-la. No final dessa troca intensa, as margens já estavam mescladas. As duas visões de mundo, a nossa e a dela, já tinham sido apreendidas por cada uma e havia um respeito mútuo muito grande. Essa foi a maior beleza dos encontros que tivemos", observaram. 

"Sociedades Matriarcais" (Foto: Joana do Prado)

Processo de pesquisa 

A série  contou com a investigação das pesquisadoras Bruna Rodrigues, Beatriz Monteiro e Maria Julia Bottai em conjunto com o produtor executivo Gustavo Gama Rodrigues e os pesquisadores locais em cada comunidade. Além disso, o mapeamento prévio das sociedades foi feito pela antropóloga Priscila Matta, pesquisadora colaboradora do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA-USP) e que tem experiência na área de etnologia indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: corpo, saberes locais e natureza.

"Em um projeto como esse, a pesquisa é a parte mais importante do trabalho, pois nos dá o embasamento teórico para entender o que queremos contar. Nesse sentido, além da antropóloga brasileira que nos orientou no mapeamento das sociedades, foi essencial conhecer os trabalhos de antropólogas que estudam especificamente as sociedades matriarcais. Descobrimos que no meio acadêmino este é um assunto controverso porque há uma dificuldade de se chegar a um consenso sobre a definição exata de matriarcado. Porém, o trabalho da antropóloga alemã Heide Göttner-Abendroth nos abriu os olhos para uma outra perspectiva e nos inspirou muito, pois trouxe à tona assuntos dos quais queríamos falar, como maternidade, igualdade, coletividade e sustentabilidade", explicaram. 

"Além disso, a segunda fase da pesquisa foi ainda mais essencial: encontrar as personagens, no caso as matriarcas, que iriam contar essas histórias. Para isso, contamos com um time de pesquisadoras brasileiras, mas também com o trabalho essencial dos pesquisadores locais, muitos deles membros dessas comunidades. Sem eles não teríamos conseguido superar as barreiras geográfica, cultural e linguística durante todo o processo, que foi remoto", reforçaram. 

Valores diferentes e contraste

As sociedades retratadas pela série são geograficamente e culturalmente muito distantes de nós, no Brasil. Nesse sentido, as diretoras explicam que durante as trocas em cada uma das comunidades, se atentaram para a forma como regiam diante de valores tão diferentes dos nossos: "Aqui cabe destacar que somos duas diretoras e, por sermos mulheres de uma sociedade patriarcal, os paralelos que traçamos eram sempre de muito contraste. Descobrimos que o matriarcado não é o exato oposto do patriarcado, como muita gente imagina, com as mulheres dominando os homens. Mas, em termos de valores, são sim sociedades muito diferentes, e foi isso que guiou nossa narrativa. Nos chamou a atenção, por exemplo, a forma como exercer a maternidade nestas sociedades é tão diferente da nossa. Principalmente porque a figura da mãe é a figura central da cultura, e portanto protegida, valorizada e reverenciada por todos". 

Elas ainda analisam: "Sabemos que não vamos mudar nossa sociedade do dia para a noite, e que dificilmente ela se tornará um matriarcado, mas queríamos provocar uma reflexão no público do que será que podemos aprender com essas culturas e essas matriarcas". 

Próximos projetos 

Ao longo do desenvolvimento, Clara e Joana questionaram muito se o fato de uma grande parte dos lares brasileiros ser liderada por mulheres não era uma indicação de que também vivíamos num matriarcado. "Mas é diferente, pois nas sociedades que visitamos, a estrutura social em si permite que as matriarcas estejam em pé de igualdade com os homens em todos os lugares da sociedade, nas esferas privada e pública, e os valores são pautados por elas. Enquanto aqui, muitas das matriarcas desses lares são mulheres que sofreram abandono e tiveram que abraçar uma responsabilidade e uma sobrecarga dentro de uma estrutura patriarcal que não as favorece. São mulheres que exercem um matriarcado muitas vezes invisível para além dos muros de suas casas. No entanto, temos certeza de que a força dessas mulheres é inquestionável e inspiradora", apontaram. Nesse sentido, um desejo já semeado de ambas é produzir um projeto centrado na força "matriarcal" de mulheres brasileiras. 

"Sociedades Matriarcais" será exibida às quartas, às 23h30, com reprises aos domingos, também às 23h30. Os conteúdos também estarão disponíveis no Globoplay + Canais.

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