Em despedida, Motta ataca "privataria" nas telecomunicações

A renovação da presidência da Telebrás, realizada nesta quarta-feira, 12, rendeu também um dos desabafos mais contundentes contra a privatização vindo de uma fonte inesperada, dada as circunstâncias. O protesto contra o modelo atual das telecomunicações é de autoria de Jorge da Motta e Silva, ex-presidente da estatal, destituído na manhã de hoje para dar lugar a Rogério Santanna. Em artigo intitulado "Delação premiada", Motta ataca a privatização, põe em dúvida os avanços obtidos pela iniciativa privada e elogia a iniciativa do governo federal de revitalizar a Telebrás e de lançar o Plano Nacional de Banda Larga.
O ex-presidente inicia seu desabafo dizendo que ficou "cinco anos, cinco meses e cinco dias" em silêncio "sobre as críticas infundadas que a mídia nacional publicou e ainda publica contra a Telebrás", mas que, agora, fora da estatal, decidiu dar esse "grito sufocado por tanto tempo, para repor o verdadeiro papel que teve a empresa ao longo desses 38 anos de existência". Para Motta, os grandes avanços obtidos nas comunicações brasileiras se deram durante o período de operação plena da Telebrás. E ataca duramente os idealizadores do modelo de privatização, implantado em 1997.
"Mas eis que surgem novamente, com as garras aguçadas, os cavaleiros do apocalipse. Os 'gênios' que criaram o atual modelo das telecomunicações, que um brilhante jornalista classifica de privataria. Não a privatização em si, mas o formato", provoca o ex-presidente. "Quem não se lembra da célebre frase 'estamos no limite da irresponsabilidade', em conversa gravada entre o então presidente do BNDES e um diretor do Fundo Previ (naquela época já se grampeavam as conversas telefônicas)?", ironiza logo depois.
Para o ex-presidente da Telebrás, os "arautos do modelo da privatização" hoje defendem que o governo continue incentivando as empresas "para levar aos brasileiros o que já deveriam ter feito ao longo desses 12 anos de gordas tarifas e perdão de obrigações assumidas nos contratos de concessão que não cumpriram". Frisa ainda a própria distribuição dos ativos da Telebrás, no valor de R$ 31 bilhões, e as compensações fiscais concedidas às concessionárias na ordem de R$ 8 bilhões. "Agora querem também ditar as políticas públicas de telecomunicações", ataca.
Motta elogia então a iniciativa do governo de revitalizar a Telebrás e de criar o PNBL, entendendo que a iniciativa servirá para corrigir distorções no setor, assegurando que a população tenha acesso aos serviços a preços compatíveis com sua capacidade de pagamento. "Começa agora um novo tempo com o Programa Nacional de Banda Larga. A palavra-chave é concorrência. Não ao monopólio privado. Essa, a minha delação. O prêmio é a volta da Telebrás", finaliza o ex-presidente da estatal.
Na troca de comando da empresa, realizada na manhã de hoje, Motta aproveitou a situação para citar o seu artigo e dizer que não irá para a iniciativa privada. Os ex-dirigente da Telebrás, no entanto, não revelou seus planos profissionais.

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