"Nós criamos esse caos", diz CEO da Cox ao sintetizar o impacto do video online na TV a cabo

A indústria de TV por assinatura nos EUA volta a viver um momento de crise existencial. Depois de ter passado os últimos anos comemorando, de certa forma, o fato de ter passado sem grandes arranhões pela crise econômica que se abateu sobre o mercado norte-americano desde 2008, o que mostram os operadores e programadores reunidos na edição deste ano da NCTA Cable 2011, em Chicago, é uma incerteza latente sobre o futuro. No debate inaugural do evento, que é o maior congresso de TV paga dos EUA, os principais executivos da indústria procuraram passar uma mensagem de otimismo, mas não esconderam o desconforto ao serem confrontados com desafios como o crescimento de plataformas de distribuição online como o da locadora virtual Netflix, ou o fenômeno dos cable cutters, que são aqueles consumidores que estão simplesmente optando por cancelar a assinatura de TV paga por conseguirem o conteúdo de interesse online.
O modelo da NetFlix é especialmente assustador para os operadores de TV paga porque se trata de uma plataforma de distribuição de conteúdo sob demanda, mediante pagamento, mas que está acontecendo sem a participação direta dos operadores de cabo, a não ser quando eles são os provedores da banda larga utilizada para levar os conteúdos. A NetFlix tem sido especialmente bem sucedida em instalar o seu aplicativo de reprodução dos conteúdos em TVs conectadas e em plataformas como tablets e smartphones, sem que os operadores de cabo consigam ter nenhum controle do que está acontecendo. E o pior, mais da metade do tráfego de dados das redes de banda larga é hoje gerado pela NetFlix.
Quem melhor sintetizou a situação foi o CEO da Cox, Patrick Esser. "Nós criamos esse caos ao criar uma plataforma de banda larga. Esse caos cria oportunidades. Temos que buscar novos modelos de negócio, os que já existem e os que não existem. Mas infelizmente não controladmos tudo. Só controlamos uns 60% do que acontece nesse ambiente, e o resto não está conosco", disse, ao comentar o fato de que a própria banda larga trazida pelos operadores de TV a cabo é quem mais está abrindo a oportunidade para empresas como Google, Amazon, Apple, NetFlix, Facebook se tornarem as principais provedoras de conteúdos relevantes para o consumidor final.
Do ponto de vista dos programadores, a pressão parece ser menor do que em outros anos. Questões como conteúdos gerados pelo usuário ou fragmentação da audiência parecem não ser mais as maiores fontes de procupação. Para Philippe Dauman, CEO da Viacom, o quadro é positivo: "A televisão é a fundação dos modelos que temos hoje, os programadorees continuam com um papel fundamental em engajar e envolver os consumidores", disse, referindo-se à demanda ainda crescente por conteúdos originais e de qualidade. Sobre a relação com os operadores, Dauman disse: "as duas partes da nossa indústria, programadores e operadores, fizeram a torta crescer, e estaremos juntos daqui para frente".
Sem conteúdo original
Para a Viacom, a sinalização do NetFlix de que pode passar a oferecer conteúdo original não é uma ameaça. "Netflix é um serviço de acervo com quem temos uma relação de distribuição. A programação original não é o negócio principal deles e não é algo simples deles fazerem. Da nossa parte, estamos 100% focados em programação, pensando no consumidor". Não foi o que fez a programadora Showtime, que retirou os conteúdos da NetFlix quando se viu ameaçada por uma atuação concorrente, e não apenas de distribuição. Para Jeffrey Bewkes, CEO da Time Warner Inc. (programadora), o NetFlix está claramente inserido no contexto do modelo já conhecido de subscription VOD. "Isso existe em muitas plataformas de TV por assinatura, mas é fato que eles oferecem algo que o consumidor quer, o que é adequado para quem não consegue pagar uma taxa de programação constante. Mas não oferecem conteúdos locais, o que o cabo oferece", argumentou.
Para a indústria de TV a cabo dos EUA, contudo, a mensagem dos usuários está clara: é preciso buscar novos modelos de distribuição e novos modelos de negócio que sejam mais adequados ao que o consumidor está buscando nessas novas plataformas online. "O que as empresas de software como Apple e Amazon estão fazendo é buscando uma distribuição de conteúdos multiplataformas. É isso que precisamos fazer também", disse Neil Smit, CEO da Comcast.
Otimismo
Para Jeff Bewkes, da Time Warner, apesar dessas ameaças que surgem no horizonte, a indústria de TV a cabo tem muito futuro pela frente. "Ainda estamos vivendo a manhã desta indústria. Estamos inventando as melhores coisas. Pense no que fizemos em termos de infraestrutura. A razão de as pessoas terem conteúdos nos tablets e smartphones é justamente essa infraestrutura. Nós fizemos estas estradas, e isso nos faz uma indústria vibrante e relevante", disse Bewkes.

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