Plataforma Cardume abre seu primeiro edital para produção de curta-metragem

Lançada no final de 2019 por Daniel Jaber e Luciana Damasceno (foto), um casal de atores e produtores de cinema, a Cardume chegou ao mercado de streaming com o objetivo de difundir a produção nacional de curtas-metragens e apoiar o mercado audiovisual independente do Brasil. Com assinatura popular, que vai de R$ 5 (Plano Peixe) a R$ 14,90 por mês (Clube de Benefícios), a plataforma busca criar público para o formato e destina 80% de sua renda para os realizadores dos filmes em catálogo, além de ações de formação e fomento. “A ideia da Cardume surgiu em 2015 quando, voltando de um festival, eu e minha companheira falávamos sobre como é comum a gente ver filmes incríveis nos festivais e, depois, não conseguir mais achá-los – especialmente curtas. Começamos, então, a pensar em uma espécie de Netflix de curtas-metragens. No início, a ideia parecia absurda, por questões de complexidade. Eu sou estatístico também, trabalho com análise de dados, e mais para frente aprendi um pouco sobre programação e resolvemos ir adiante com a ideia. Era tudo de forma muito embrionária, com o sentido romântico de fazer com que os filmes fossem visualizados”, relembra Daniel Jaber em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

A plataforma começou a receber os filmes e teve seu lançamento oficial no final de 2019. “Já sabíamos que, provavelmente, ela atingiria um público da área, como produtores, alunos e demais profissionais, mas o alcance foi muito além do que a gente imaginava. O crescimento foi muito grande e, a receptividade, imensa. No começo, a ideia era não cobrar pelas assinaturas, mas decidimos fazer isso primeiro para manter a plataforma e, depois, para recompensar os próprios produtores. Mais do que exibidores, fomos nos entendendo articuladores para o setor”, completa o produtor. 

Hoje, os produtores que querem colocar o filme na Cardume preenchem um formulário e, a partir daí, a obra passa pela curadoria da plataforma, que é formada, em maioria, por cineastas. “É uma equipe bem heterogênea no sentido de gênero, raça, sexualidade… Todo filme é direcionado para, pelo menos, três consultores. Eles dão uma nota e, se o curta atingir a nota mínima estabelecida, entra para o catálogo do serviço. É um processo gratuito para o produtor, que começa a receber pelo seu filme se ele for aprovado”, explica Jaber. 

Pouco tempo depois que a Cardume foi lançada, veio a pandemia – período em que o streaming, que já vinha crescendo no Brasil, passou a ampliar seu alcance ainda mais, com as plataformas já existentes vendo suas audiências subirem e outras novas chegando ao mercado. Para o formato curta-metragem, o streaming é uma janela extremamente benéfica, uma vez que, conforme dito por Jaber, esses filmes muitas vezes ficam restritos ao circuito de festivais, desconhecidos pela público geral: “Acredito muito no curta-metragem. É um espaço onde o produtor pode experimentar mais em termos de linguagem e técnicas, por exemplo. Além disso, é um formato que se encaixa em janelas específicas. Em um trajeto de metrô, por exemplo. Não dá para assistir a um longa mas, a um curta, sim. Existe muito espaço para o curta e esse espaço é pouco explorado. Temos um projeto de levar curtas-metragens para as salas de aula também”. 

Ações de fomento e o primeiro edital 

Em um primeiro momento, o objetivo da Cardume era fazer com que os curtas fossem visualizados e que o próprio mercado tivesse esse ambiente online para conhecer uns o trabalho dos outros. “A partir daí, pensamos que poderíamos fomentar o mercado de alguma forma e nos perguntamos o que o meio precisava. A primeira resposta que surgiu foi verba. Editais são escassos, poucas cidades têm editais voltados para curta, especialmente aquelas que estão no interior dos estados. Por isso boa parte da verba que entra na Cardume é distribuída aos produtores. Ainda assim, sentíamos que era possível fazer mais. Por isso decidimos lançar um edital, como forma de fazer essa roda girar. Queremos que o audiovisual brasileiro possa fazer mais filmes e filmes cada vez melhores”, afirma um dos criadores da plataforma. 

As inscrições para o 1º Edital Cardume para Produção de Curtas-Metragens estão abertas a partir desta terça-feira, dia 15 de junho. Será selecionado um projeto de curta-metragem de baixo orçamento com roteiro de até 20 páginas. O vencedor receberá um prêmio de R$ 15 mil para a realização do filme e uma verba extra de R$ 1,5 mil para poder inscrever seu título em festivais nacionais ou internacionais de cinema. 

Para seu primeiro edital, a Cardume também contou com o apoio de parceiros, que oferecerão diversos benefícios para que o realizador ou realizadora do projeto eleito possa desenvolver o filme dento de um prazo de dez meses. São eles: consultoria de produção, oferecida pela produtora Habitante Filmes; três diárias de equipamentos de gravação e monitoração, incluindo uma câmera Alexa LF, tripé, baterias, lentes, link e follow, cedidos pela locadora de equipamentos Filmes do Bem; tratamento de cor, oferecido pela produtora Rec Color; finalização de áudio em stereo, oferecida pela produtora Rec Studio; e distribuição profissional do curta-metragem na janela de festivais pela Tarrafa Produtora e Distribuidora pelo período de um ano.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 15 de agosto pelo site. Não há taxa de inscrição, mas o realizador precisa ser assinante do Clube de Benefícios para participar. “Este edital é inteiramente financiado pela verba arrecadada com as assinaturas da plataforma. Agradecemos a cada assinante que valoriza e incentiva o cinema nacional, além dos nossos parceiros, que nos ajudaram a tornaram isso possível”, diz a co-fundadora Luciana Damasceno.

Serão aceitas inscrições de projetos de qualquer lugar do Brasil e não há restrições quanto ao gênero do filme. “Os únicos critérios são que os produtores sejam brasileiros – morando ou não no Brasil – e que a estimativa de duração do filme seja de, no máximo, 20 minutos”, detalha Jaber. Os projetos passarão por uma avaliação de três etapas, que serão feitas por pessoas que já trabalham na curadoria da Cardume, além de convidados. Os projetos serão avaliados seguindo critérios artísticos e técnicos. “Estamos buscando parcerias com outras iniciativas para amplificar e aprimorar o Edital. A ideia é seguir realizando edições anuais e talvez até semestrais”, completa. 

 Próximos planos 

“A ponta do iceberg é fazer os filmes serem vistos, mas o corpo é fazer com que mais filmes sejam feitos. Para o segundo semestre, queremos fazer um edital semelhante, mas voltando apenas à distribuição, isto é, para filmes já prontos”, adianta Jaber. 

Outro plano da Cardume – este já em execução – é incluir legendagem nos filmes disponíveis no catálogo da plataforma, com opções em inglês e espanhol. “Já temos um público grande que acessa a Cardume de fora do Brasil, então existe essa demanda”, finaliza o produtor. 

A plataforma 

A Cardume tem atualmente 200 títulos no catálogo, sendo mais de 70 disponíveis exclusivamente no portal. Os curtas foram selecionados entre quase 1400 inscritos e entre eles, há premiados em diversos festivais, como “Boca de Fogo” (Luciano Pérez Fernández), “Ingrid” (Maick Hannder) e “O Malabarista” (Iuri Moreno). Toda semana há uma estreia na Cardume. Em 2020, foram mais de 120. 

Debates online com os realizadores, mediados pelos fundadores do portal, também fazem parte da programação. A plataforma promove ainda intercâmbio entre escolas de audiovisual, permitindo que alunos de uma instituição conheçam o trabalho feito em uma outra, e tem parcerias com festivais de cinemas e instituições culturais.

Os assinantes podem optar pelo Plano Peixe (R$ 5/mês), que dá acesso a todos os filmes do catálogo, ou Clube de Benefícios, que também inclui descontos em cursos, serviços e editais exclusivos para profissionais do audiovisual. Para o Clube de Benefícios há planos mensal, trimestral, semestral e anual, com valores de R$ 11,90 a R$ 14,90/mês, e a primeira mensalidade, independente da periodicidade, está com preço promocional de R$ 9,90.