Investimento em A Fábrica é resultado do reconhecimento ao audiovisual brasileiro, diz Luiz Noronha

A entrada de um grande investidor na produtora A Fábrica é uma etapa importante na trajetória da empresa e que já estava prevista desde a sua criação. É o que conta o CEO, Luiz Noronha, em entrevista a TELA VIVA: "A Fábrica foi desenhada com a visão de que, em tempo, atrairia a atenção de investidores. Foi montada se preparando para este momento". De seu lançamento, em janeiro de 2016, até aqui, a produtora criada por veteranos do audiovisual conquistou um papel de destaque no setor. "Conseguimos ter bons balanços e curva de crescimento ascendente contínua. Soubemos nos posicionar como alvo interessante para este tipo de investidor", completa Noronha. A produtora anunciou no inicio deste mês que passa a ser controlada pela Banijay Americas, uma divisão da Banijay, holding internacional que controla diversas empresas de produção e distribuição de conteúdo para televisão e plataformas multimídia.

Luiz Noronha, CEO de A Fábrica (Crédito: Divulgação)

O processo de entrada do novo sócio, desde o primeiro contato até o anúncio de aquisição da participação da Banijay, levou apenas 14 meses. Em partes, pelo desenho estrutural desde o início de A Fábrica que Noronha mencionou anteriormente. Mas, além disso, a produtora já havia iniciado o processo de entrada de capital anteriormente com outro player, um fundo de investimentos, que foi interrompido pela pandemia de Covid-19. Quando as conversas com a Banijay iniciaram, portanto, a produtora já estava com tudo pronto. "O bom é que eles não são um fundo de investimento, mas produtores. São formas diferentes de enxergar o investimento. Eles querem produzir com qualidade e circular o conteúdo globalmente", comemora Noronha. Para ele, o maior orgulho do processo é o selo de qualidade que a gestão do sócios recebeu. "Teve uma due diligence de todos os nossos contratos. Isso mostrou que sempre tivemos uma gestão sólida, que funciona", diz.

Mercado Global

As consequências reais e de médio prazo do investimento são a ampliação dos investimentos e a inserção em um mercado global. Para A Fábrica, as parcerias globais podem acontecer dentro da própria estrutura do grupo ao qual agora faz parte. Simultaneamente, pode contar com o conhecimento e talento da equipe da estrutura global. "A gente começa a fazer parte do mundo. O head de scripted da Banijai é um norueguês que coordena criativos do mundo todo. Abre uma perspectiva totalmente nova. Já tínhamos projetos desenvolvidos em inglês, mas agora é diferente, a nossa estrutura é globalizada", diz Noronha. "É um momento excitante, mas assustador ao mesmo tempo, pelo volume de 'calls' e línguas faladas", completa.

Com a entrada na Fábrica, a Banijay busca se expandir no mercado brasileiro de conteúdo roteirizado – em não-ficção, já são líderes com a Endemol Shine Brasil. Isto não significa que a Fábrica não pode usar seu novo status como oportunidade para levar seu conteúdo para outros territórios. Segundo Noronha, o crescimento da Fábrica não está ligado exclusivamente ao crescimento da operação no Brasil. Pelo contrário, ele enxerga na globalização dos grandes players de mídia uma oportunidade para seus fornecedores também se tornem globais. "Se os players são globais, por que os produtos veiculados por eles não devem ser?", questiona. O CEO – que segue no comando da Fábrica, assim como a equipe de gestão formada pelos sócios anteriores à entrada da Banijay – vê uma tendência no mercado de se produzir mirando grandes territórios e até o mercado global. "Vejo uma tendência de dividir o investimento em produção entre centros de custos de diferentes territórios nesses grupos panregionais. Os fornecedores também devem ser panregionais", diz.

Investimentos

A Fábrica agora se prepara para entrar no mercado de dramaturgia de larga escala. Para isso, está juntando forças com a Endemol Shine Brasil para ter acesso aos novos estúdios recentemente anunciados. A Banijay inaugurará no Brasil, no primeiro semestre de 2023, os Estúdios Banijay, anunciados como o maior complexo de produção audiovisual independente da América Latina. O espaço com 70 mil metros quadrados passará por uma reforma e será gerenciado pelo time da Endemol Shine Brasil.

Com isto, a Fábrica já está se colocando no mercado como uma estrutura capaz de fazer dramaturgia de larga escala. "Vamos seguir com as séries boutique. Os novos projetos, pelo tempo de maturação necessária, são para 2024 e 2025. Não vamos fechar a venda de uma novela hoje para entregar amanhã", explica Noronha.

Atualmente a Fábrica produz o seriado de TV por assinatura de maior audiência do Brasil, "Vai Que Cola", que está em sua 10ª temporada para Multishow e Globo, e o estúdio tem duas séries roteirizadas chegando às plataformas de streaming nos próximos meses, incluindo "Sem Filtro", uma comédia desenvolvida em parceria com a Netflix, que deve estrear no início de 2023. Além de "Sem Filtro", o estúdio se prepara para lançar "A Divisão", uma coprodução com a Afroreggae Audiovisual. A série policial brasileira está programada para ser lançada na Globoplay em 2023.

Do lado cinematográfico, A Fábrica tem produzido títulos originais para lançamento nos cinemas, bem como para plataformas de streaming. O estúdio recentemente conquistou a maior a audiência para um filme não falado em inglês na história da Netflix com "Modo Avião". Em 2021, "Lulli", da Netflix, uma outra produção original de A Fábrica, esteve no top 10 das paradas em vários países, incluindo o Brasil. A Fábrica lançou seu primeiro filme nos cinemas em 2018, "Minha Vida em Marte", que vendeu mais de cinco milhões de ingressos nos cinemas do Brasil e foi premiado como a melhor comédia do ano no país. Atualmente, o estúdio tem oito longas-metragens em andamento, incluindo a comédia "Cansei De Ser Nerd", em parceria com Hungry Man para a Paramount Pictures e "Era Uma Vez Minha Primeira Vez", baseado no livro da autora best-seller brasileira Thalita Rebouças, uma produção da Warner Bros.

Para dar conta do volume já contratado de conteúdo e da expansão da novelas, a Fábrica está aumentando as áreas de desenvolvimento de projetos e de criação de roteiro. As equipes serão ampliadas em 25%. O investimento já estava planejado, mas foi acelerado com "o final feliz da negociação" com a Banijay.

Desafios

Além da ampliação de territórios e de área de atuação, a Fábrica enfrenta agora o desafio e de se adequar à estrutura do grupo global do qual faz parte. "Eles querem que a gente siga fazendo o que sempre fizemos, não existe orientação para mudar nosso estilo. Continuamos numa relação direta dos sócios com os players do mercado", conta Luiz Noronha. Por outro lado há um grande impacto na adaptação na estrutura de gestão para um padrão internacional. "Agora somos julgados por padrões e indicadores diferentes. É outro nível de exigência. Estamos inseridos em uma hierarquia e temos que prestar contas com relatórios em determinados formatos", explica.

Brasil

Para o produtor, o movimento da Banijay no Brasil pode ser visto como reconhecimento de que existe no país empresas com capacidade trabalhar em mercado global e criativos que podem oferecer conteúdo de qualidade em qualquer lugar do mundo. "O Brasil, com o streaming, se tornou importante no mercado global. É um consumidor gigante de audiovisual e com cultura ocidental, capaz de consumir o que vem de fora e produzir para ser consumido no global", comemora Noronha.

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