O diretor de programação da Net Serviços, Fernando Magalhães, minimizou o impacto das cotas de programação criadas na Lei 12485/2011. No seminário "Os efeitos da nova lei da TV por assinatura", organizado pela Converge Comunicações em parceria com o Museu da Imagem e do Som nesta quinta, 17, Magalhães disse que, na prática, o impacto da nova regra é administrável. "Por enquanto, vamos ter que aumentar a distribuição de alguns canais já distribuídos pela Net", disse. No prazo de três anos, admitiu que terá de acrescentar "cinco ou seis canais" ao line-up. "Praticamente todas as cidades estão com as redes digitais, diminuindo a dificuldade de incluir estes canais. Vamos ter problemas nas cidades analógicas pequenas, onde a conta não fecha para a digitalização", disse.
Segundo ele, no entanto, a operadora não pretende ampliar o line-up com mais canais, além daqueles que será obrigada a contratar para cumprir as cotas.
Independentemente das cotas, disse, a entrada de novos canais envolve a relevância, a disponibilização de conteúdo para o VOD da Net, o Now!, e o custo. "Temos dificuldade em lançar canais lineares, porque já temos 100 e não existe canal novo, que crie relevância para o assinante", disse ao responder se acreditava que as atuais programadoras, como Globosat e Band, é que ocupariam o espaço para as cotas.
"O que faz diferença agora é o conteúdo não-linear, on demand", completou. Segundo ele, é preciso encontrar um formato de financiamento para este tipo de conteúdo, seja por publicidade, seja com o uso de recursos incentivados. "No modelo on demand, eu dou de graça o que eu receber de graça e cobro o que me é cobrado. O jogo é diferente, pois o dono só ganha se o conteúdo gerar interesse", disse. Segundo Magalhães, é preciso entender que muitos dos canais e programadoras que hoje têm seus conteúdos distribuídos são parcerias das operadoras de longa data, "inclusive de tempos em que todo mundo estava quebrado", e por isso é natural que essas parcerias se mantenham. Ele disse acreditar que o maior impacto da política de cotas não será no surgimento de novos canais, mas sim nas parcerias entre produtores e programadores para incluir produção nacional nos canais já existentes.
Tamanho é documento
Para Marcos Amazonas, do Grupo Bandeirantes, e também presidente da associação de operadoras NeoTV, para uma operadora do tamanho da Net é mais fácil negociar programação e de falar de valores, prazos e demandas. "Não é um passeio, mas um agradável rali de fim de semana", brincou. "No nosso caso é uma travessia do deserto carregando a bagagem à pé". Amazonas diz que a nova lei não levou em consideração os pequenos operadores, em pequenas localidades, sem previsão de digitalização da rede. "A regulamentação precisa levar em consideração os pequenos", cobrou.
Bom para todos
O produtor Kiko Mistrorigo, da TV Pinguim, comemorou a chegada de um mercado maduro com as novas regras. "É difícil buscar coprodutores internacionais sem ter um canal nos apoiando no Brasil", diz.
Provocado por Anthony Doyle, da Turner, que se manifestou da plateia, Mistrorigo concordou que é melhor produzir para um canal de grande audiência, e não para um com "500 mil assinantes". " A audiência é importante, até por conta do licenciamento", disse. Doyle propôs levar à Ancine a ideia de compensar a cota dos canais pequenos, que poderiam ficar livres da obrigação, nos canais com maior audiência. "Alguns canais têm temas mais fácil de ser abordado com o conteúdo local", disse. "Se o ajuste é bom para todos, deve ser colocado na mesa", completou Mistrorigo.