Amazon quer dar voz a grupos sub-representados e sair do eixo Rio-São Paulo

Malu Miranda, head de originais da Amazon no Brasil, participou nesta terça-feira, 19 de outubro, de um painel do Reach – braço do BrLab voltado às discussões sobre audiências e mercados – sobre plataformas e narrativas originais. Na ocasião, a executiva falou sobre o que a plataforma espera em relação à produção em parceria com produtoras independentes: "Estamos procurando de tudo, mas com um certo ineditismo. Precisa ter alguma coisa no projeto que dê uma faísca, algo que você não acharia em nenhum outro lugar. Nossa curadoria consiste em buscar essa originalidade, dar voz a grupos sub-representados e também sair do eixo Rio-São Paulo, falar de todo o Brasil. Adoramos quando surge uma ideia louca, que sugere uma combinação ousada entre gêneros. A coisa mais divertida do streaming é isso: não tem muito limite, existe liberdade para brincar. É como se fosse uma TV com canais infinitos, você faz usa própria grade. Quanto mais conseguimos inovar e diversificar, melhor". 

Novas vozes 

Miranda afirmou que seu trabalho envolve entender quais são as novas vozes que devemos e podemos ouvir, isto é, o que representa melhor nosso país. "Penso sempre em diversidade, se a gente tem visto diversidade nas telas e eu acho que ainda não. Não há consistência, é frustrante. Isso é algo que eu gostaria de focar muito. Ajudar nesse equilíbrio para realmente representar o Brasil como ele é. A ideia é ser mais verdadeiro", analisou. 

Para jovens autores, ela afirmou que o caminho está aberto. A plataforma trabalha com um portal de submissões online ao mesmo tempo em que participa das rodadas de negócios dos eventos de mercado atrás desses novos conteúdos. "Esses novos autores têm histórias que nunca foram contadas, então queremos chegar até eles e valorizar isso. E é importante não só ouvir essas vozes, mas também criar um ecossistema onde essas pessoas tenham sucesso na trajetória", ressaltou. 

Tendências de conteúdo 

Para roteiristas e criativos que estão desenvolvendo novas histórias e desejam trabalhar em parceria com a Amazon, a executiva aponta que o caminho ideal seria olhar para o que já existe a fim de encontrar lacunas, isto é, entender o que está faltando. Sendo mais específica, ela fala sobre algumas possíveis tendências de conteúdo, como true crime, que tem feito sucesso não só na Amazon, mas em diferentes plataformas. Como exemplo, ela cita a série "Dom" e os filmes inspirados na história de Suzane von Richthofen, "A menina que matou os pais" e "O menino que matou meus pais", que são versões ficcionais de histórias de crimes reais, todos disponíveis no Prime Video no Brasil. "O audiovisual tem essas ondas e, agora, true crime está em pauta, tanto na versão ficcional quanto documental", cita. 

Para além do true crime, Miranda fala em "olhar para subgêneros" e menciona um interesse por histórias que combinem gêneros e formatos diferentes, como ação de não-ficção e romance de não-ficção. Ela também defende as produções de terror, que "o público brasileiro ama muito, mas a produção nacional ainda não explora tanto"; histórias de época brasileira que, embora demandem mais recursos, não estão descartadas, pois "os recursos vêm da força do projeto e do seu potencial de audiência"; e sci-fi que, assim como o terror, tem espaço para crescer por aqui. "Tem muita coisa que a gente nunca fez. Estou nessa campanha por forjar novos caminhos e buscar o ineditismo", definiu. 

A força do conteúdo local 

Muitas vezes, produtoras independentes trabalham com a preocupação de que a obra tenha capacidade de viajar. Mas, de acordo com Miranda, isto não é algo que deva estar no foco principal da produção: "Nossa experiência prova que quanto mais específico e relevante culturalmente para o país, mais aquele conteúdo viaja. Porque assim as pessoas se identificam com alguma coisa ali. 'Round 6', da Netflix, uma produção coreana, reforça essa ideia. Queremos fazer coisas para o Brasil, com conteúdos extremamente brasileiros, e não só porque o Brasil quer ver, e sim porque achamos que esse conteúdo viaja. 'Manhãs de Setembro' e 'DOM' são séries nossas que perfuraram muito bem fora do país. E são histórias bem locais. Por isso o objetivo é continuar fazendo produtos locais de qualidade e que falem com a gente e sobre a gente". 

Novelas em vista? 

É do interesse de diferentes plataformas investirem nas novelas – a própria Netflix já sinalizou essa possibilidade. Mas, para Miranda, o caminho não seria fazer a novela brasileira que estamos acostumados a ver na TV aberta, que é um produto muito específico: "Reforço que nós procuramos muito uma coisa que o público não consegue assistir em nenhum outro canal ou plataforma. Por isso replicar conteúdo de novela, como ele existe, não é nosso foco. Temos que refletir sobre o que é especificamente uma novela. Existem melodramas que se apresentam como séries mas que são como novelas, como 'This Is Us', por exemplo, que ainda traz isso de ter muitos capítulos. O caminho, para nós, é achar o melodrama brasileiro e trabalhar em cima disso". 

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