Rodrigo França estreia na direção de longas com "Barba, Cabelo & Bigode", nova comédia da Netflix

"Barba, Cabelo & Bigode", novo filme de comédia da Netflix, estreia na plataforma em 28 de julho. Dirigido por Rodrigo França, que estreia na direção de longas-metragens, em codireção com Leticia Prisco, o roteiro é assinado por Anderson França, Marcelo Andrade e Silvio Guindane. A produção é d'A Fábrica. 

Na trama, Richardsson (Lucas Koka Penteado) termina a escola e não sabe o que fazer da vida. Embora tenha planos de entrar na faculdade, o que ele quer mesmo é cortar cabelos no Saigon, o salão de beleza da sua mãe, Cristina (Solange Couto), no bairro carioca da Penha. Só que a matriarca tem outras expectativas para o filho, que passam longe do salão da família – o que não quer dizer que ela não aceite uma ajudinha. Em busca de realizar seu verdadeiro sonho, Richardsson não consegue deixar de se meter em várias confusões, enquanto espalha cortes estilosos pelo Rio de Janeiro.

O longa é estrelado por Lucas Koka Penteado e Solange Couto. Completam o elenco Juliana Alves, Rebecca, MV Bill, MC Carol, Yuri Marçal, Jeniffer Dias, Sérgio Loroza, Neuza Borges, Luana Xavier, Xando Graça, Nando Cunha, Bruno Jablonski e Leandro Santanna. 

Assista ao trailer: 

"Tenho uma história de 30 anos no teatro como diretor, dramaturgo e ator, além de algumas experiências como diretor de curtas. Nessa trajetória, sempre busquei falar de maneira simples e popular, e não popularesca. Tenho necessidade de comunicar para o povo e com responsabilidade em relação às narrativas. O que me toca é subverter uma lógica distanciada, hegemônica, que acredita que determinado grupo é de uma maneira porque não vivencia, não experimentou tais lugares", refletiu o diretor Rodrigo França em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

O filme tem cenas de humor e é predominantemente de comédia. Nesse sentido, França analisou: "Existe uma especificidade de humor no subúrbio. Eu venho da Penha, coincidentemente a história se passa lá, e aprendi desde cedo que não se ri do outro, se ri de si. A forma das pessoas levarem essa vida sofrida é o humor, mas a partir de dentro. A gente tem um grande cuidado com essa responsabilidade do humor. A periferia tem isso, quase um código de ética sobre até que ponto vale rir de alguma situação ou do outro". 

Lucas Penteado e Yuri Marçal em cena de "Barba, Cabelo & Bigode", que estreia na Netflix na próxima quinta-feira, 28 de julho

Estreia como diretor de longas 

"Barba, Cabelo & Bigode" é o primeiro longa que França dirige – e ele espera que esse seja apenas o começo. "Assim como o caminho que construí no teatro, quero experimentar de tudo. Quero estar em ótimos projetos – clássico, drama, comédia… Mas acho especialmente difícil a comédia. Embora sinta que, no Brasil, ela está em segundo plano em relação à respeitabilidade dos atores, fazer rir é muito difícil, principalmente nesse humor que a gente se propõe. Não é um filme de gargalhada, nem quisemos isso. Pelo contrário, apostamos nessa 'nova' forma de fazer comédia, que traz pontos de inspiração a respeito dos quais refletimos", disse. 

O filme aposta na identificação do público com os personagens, que são bastante críveis. Essa sensação de aproximação é reforçada por algumas escolhas de linguagem – o personagem principal, por exemplo, por diversas vezes fala olhando diretamente para a câmera, quebrando a chamada quarta parede. "O roteiro já tinha timidamente uma sinalização nesse sentido e seguimos nessa comunicação direta. Passamos por uma pesquisa muito positiva de audiência, que revelou que o filme se comunica com todos os grupos em relação à faixa etária, mas principalmente com os jovens. Eles precisam desse papo direto, dessa troca. E o Lucas (que interpreta o protagonista), é brilhante nisso, a câmera namora com ele e ele namora com a câmera. É algo muito difícil, falo até como ator, porque pode soar forçado", explicou o diretor. 

Além dessa "conversa direta", o formato também aposta em linguagens típicas da internet, com cenas que se assemelham aos Stories do Instagram, com recursos como textos, gifs e figuras. "Essa relação com a internet, com os elementos que ela trouxe, não tem mais volta. Há uma necessidade de comunicação direta nesse momento, especialmente por conta das redes sociais. E eu particularmente gosto muito de internet", completou França.

De forma geral, ele avalia essa primeira experiência "da melhor forma possível". França contou que, quando recebeu o convite da Fábrica, não quis construir um diretor diferente do que já era. "A responsabilidade como diretor eu já tinha, mas no teatro tem uma relação muito artesanal e muito coletiva. Já o cinema é mais solitário. Claro que um filme é feito por muita gente, mas a decisão, no fim, é do diretor. É ele quem pensa e decide a partir daquilo que muitos profissionais estão oferecendo. Tem que estar ali o tempo todo, é um trabalho de atleta. Foi um processo exaustivo, mas muito feliz", concluiu. Ao todo, foram seis semanas de filmagem. 

Produção d'A Fábrica tem roteiro de Anderson França, Marcelo Andrade e Silvio Guindane

Diversidade no audiovisual 

O longa conta com protagonismo negro na frente e atrás das câmeras. França acredita que, em termos de diversidade e abertura de espaços, o audiovisual nacional já avançou, mas que ainda há muito a ser feito. "É importante frisar que nós caminhamos, senão diminuímos as lutas. Mas não dá para ter uma falsa simetria, ainda é muito aquém, há poucas mulheres independente da raça dirigindo, o universo ainda é muito do homem branco. Mas as pessoas que conseguiram furar essa estrutura já mostraram sua competência e, ao mesmo tempo, todas as pessoas que subverteram essa lógica já mostraram inclusive para a indústria a necessidade de um audiovisual mais diverso e plural. O resultado é mais fiel e mais bonito, não é a caricatura de algo, e sim uma reprodução daquilo que você tem a vivência. Vale a pena apostar na diversidade, isso já foi provado. A gente caminhou, mas ainda falta muito", finalizou o diretor. 

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