Livro "Crocodilo", de Javier Arancibia Contreras, terá adaptação para o cinema

A PBA Cinema se prepara para levar às telonasuma adaptação do romance "Crocodilo", escrito por Javier Arancibia Contreras, vencedor do Prêmio APCA 2019 e indicado ao Prêmio Jabuti no mesmo ano. A adaptação do livro para o cinema é assinada por Rita Toledo e a direção do filme está a cargo da dupla Salsa, composta por Diego Santana Claudino e Guto Azevedo. O trio tem como desafio manter o mesmo tom do autor à história, que aborda o suicídio de forma direta, sem evasivas. 

"Finalmente, depois de quase dois anos desde que adquirimos os direitos para adaptação do livro, decidimos que o 'Setembro Amarelo' de 2021 seria o momento ideal para anunciarmos esse projeto tão sensível e urgente. 'Crocodilo' é uma história tão humana que chega a ser universal e temos testemunhado isso com a sua aceitação em diferentes fundos internacionais", afirma Claudino. "Queremos levar a história da forma mais responsável e impactante ao maior número de pessoas possível, sem filtros, com muito respeito e muita verdade", completa Azevedo. "O suicídio é um tabu e é difícil falar sobre ele. O filme aborda o tema sob uma perspectiva humana, sem buscar explicações, tirando o foco de causas ou diagnósticos. A história fala da dificuldade de comunicação entre as pessoas, especialmente no universo masculino, entre pai e filho. Acho que essa é uma questão fundamental hoje", pontua Toledo.

"Crocodilo" tem seu ponto de partida no suicídio de Pedro, um rapaz de 28 anos de idade, filho do renomado jornalista Ruy, de 73 anos, e de Marta, uma ex-editora de livros. Um relato sensível ao mesmo tempo diligente sobre como um ato desconcertante repercute na vida das pessoas próximas, sobretudo na dos pais. Em meio ao luto, Ruy e Marta reagem cada um à sua maneira em relação à morte do único filho. Enquanto ela se recolhe na tentativa de processar a perda, Ruy parte em uma busca desenfreada por respostas que expliquem o porquê de alguém aparentemente tão feliz e sadio tirar a própria vida. O filme é contado sob o ponto de vista desse pai através de sua investigação.

"Esse projeto tem tudo a ver com os filmes autorais que produzimos na Argentina e na Espanha, que estão correndo festivais importantes como Tribeca. Agora chegou a vez do Brasil e estamos muito felizes, pois temos nessa produção um time muito talentoso cujos trabalhos conversam", afirma Mayra Gama, sócia e manager director da PBA Cinema. Gama se refere à dupla de diretores, Diego Santana Claudino e Guto Azevedo, que escolheu para seu primeiro longa o livro de Javier Arancibia Contreras, e a roteirista responsável por essa adaptação, Rita Toledo. "Os três são artistas de muita sensibilidade, cujo trabalho acessa lugares profundos nas questões humanas. O match foi instantâneo, como se livro, diretores e roteirista estivessem se procurando para fazer esse filme", analisa. 

Para a realização do filme, a PBA Cinema – operação no Brasil da argentina Primo Buenos Aires – está firmando algumas parcerias com produtoras internacionais, como a Czar, produtora belga que tem em seu currículo filmes como "Ex-Drummer", "Courrer", "Un Ange" e "Rookie", além produzir séries como "The Missing", "Les Miserables" e "The White Queen". 

O próximo passo é encontrar um distribuidor no Brasil. "Ao desenvolver o filme, você precisa pensar para quem está contando essa história e aonde quer chegar com ela. Para isso é fundamental ter um distribuidor desde o início", diz Juliana Vedovato, produtora executiva da PBA, responsável pelo projeto no Brasil. 

O autor do livro 

Javier Arancibia Contreras, autor de "Crocodilo", revela que o livro foi escrito sem nenhum tipo de planejamento. "Foi um forte incômodo inconsciente que me levou a escrever a primeira frase do livro. Nesse momento, percebi que algumas histórias de pessoas que havia conhecido em vários momentos da vida e que haviam se suicidado estavam se avolumando e me afligindo, sem que percebesse. A partir daí, a história foi surgindo muito rápido. Em dois meses, a primeira versão já estava pronta", relata.

Para Contreras, o tema do suicídio gera muito incômodo e, com isso, uma espécie de alienação consciente parece tomar conta de todos. "As pessoas preferem não saber e não falar sobre o assunto, o que é um erro visto o aumento substancial de casos a cada ano que passa. Aceitar que o problema existe e compreendê-lo é essencial para o debate e acredito que tanto o livro quanto o filme, ainda que no campo da ficção, podem gerar discussões pertinentes com a sociedade", afirma.

Ele avalia que, com a pandemia, percebeu-se que a saúde mental das pessoas é algo que tem de ser observado com toda a atenção que merece. "A solidão contemporânea cada vez mais fortalecida pelo distanciamento tecnológico tem feito estragos muito sérios, principalmente entre os mais jovens. A metáfora do "crocodilo" que só revela o superficial e esconde todo o resto, flerta muito com esse novo tipo de sociedade em que vivemos. E, por isso estou muito feliz que o filme, por ter um alcance maior de público, esteja sendo realizado e tomara que, além do aspecto artístico, ele consiga gerar dúvidas e questionamentos a quem o veja. Que os incômodos não se internalizem e que sejamos capazes de falar sobre o suicídio de uma maneira madura", finaliza. 

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