Compartilhamento de senhas dos serviços de streamings: novo vilão a se combater, junto à pirataria

Não é novidade que a indústria do entretenimento perde bilhões em receitas todos os anos, prejuízo antes creditado quase que exclusivamente à pirataria de filmes e séries. O problema encontrou terreno fértil com a balconização do streaming: à medida que mais e mais estúdios e produtoras lançavam seus próprios serviços, o consumidor ou fez escolhas, limitado pela renda, ou caiu em promoções tentadoras e pouco seguras e confiáveis.

* Tim Pearson é Vice-Presidente, Soluções de Marketing da Nagra.

Mais recentemente, porém, o compartilhamento de senhas tem sido visto com preocupação. O que antes era tolerado e até mesmo considerado benéfico aos negócios, por aumentar a popularidade da marca e do serviço, despertar o interesse do público e, potencialmente, ser capaz de somar em número de assinaturas, se revela agora como um novo vilão para os streamings.

A mudança de percepção se dá porque há um ponto em que a concorrência começa a limitar o crescimento e a lucratividade. O compartilhamento de senhas passou a ter um impacto tão grande nessa capacidade de conquistar novas assinaturas que a indústria se deu conta do que virá a ser um novo ponto de inflexão, se esperar mais para agir.

A Nagra estima existir 30 milhões de indivíduos em nove milhões de lares assinando um serviço pirata, só nos EUA. Com o compartilhamento, a projeção conservadora de perda de receita em 2024 é estimada pela empresa de pesquisa e consultoria de mercado Parks Associates em 12,5 bilhões.

O empilhamento de assinaturas, mais oneroso para o consumidor, fez com que os piratas logo detectassem a oportunidade de explorar o compartilhamento casual de senhas pelo roubo e sequestro de credenciais ou configurando um serviço próprio de streaming com conteúdo ilegal.

O mercado do compartilhamento também favoreceu a proliferação dos marketplaces de vendas ilegais de credenciais, reduzindo a receita de assinatura voltada ao financiamento das produções originais de conteúdo por parte dos streamers. No mercado paralelo, assinaturas de streamings como Netflix, HBO Max e Disney+ saem por até um dólar, no câmbio de hoje, pouco mais de R$ 5,00.

Diante da concorrência desleal, a base de assinantes de streamings não cresce como poderia, prejudicando o faturamento tanto quanto os recursos destinados a cada nova produção, exclusiva e atraente, cujos investimentos são sempre significativos.

Tecnologia disponível

Para barrar o compartilhamento de senhas entre os familiares e amigos, a Netflix está validando um teste em alguns países da América Latina, que consiste no envio de um código de verificação cada vez que o acesso é feito por um IP diferente do usualmente utilizado pelo assinante. Feita a verificação, o endereço IP é registrado e o mesmo processo passa a ser necessário cada vez que o IP muda. A estratégia é dificultar o acesso da plataforma em locais diferentes, transformando o compartilhamento em uma verdadeira via-crúcis.

De outro lado, para combater os piratas, proprietários de conteúdo e provedores de serviços se esforçam para cobrir cada nova brecha de segurança que se abre, sem que isso signifique desproteger outro recurso importante.

Tamanha versatilidade dos piratas exige uma abordagem holística sobre o que fazer e como transformar o consumidor em um assinante regular, considerando o melhor retorno do investimento a partir de estratégias antipirataria. Dentre as principais ferramentas usadas para combater a infração de direitos autorais estão a marca d'água – que pode identificar a origem da pirataria -, segurança cibernética, proteção de streaming, proteção de dispositivos e os serviços antipirataria. Muitas empresas têm alguns desses serviços, algumas têm todos. Tais ferramentas ajudam a manter o negócio viável por mais tempo. Não pensar em como fazer essa estrutura funcionar em conjunto é deixar dinheiro na mesa.

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