Paris Filmes quer reocupar salas com o cinema nacional

A Paris Filmes anunciou recentemente que lançará 61 longas-metragens entre julho de 2022 e dezembro de 2025. Em entrevista a este noticiário, Márcio Fraccaroli, CEO da Paris Filmes, explica um pouco da estratégia da distribuidora, que também produz através de seu braço Paris Entretenimento. Segundo o executivo, o volume de lançamentos é um esforço para reestabelecer o espaço do cinema brasileiro nas salas de exibição. "É o momento de não deixar que a indústria americana tome conta de 100% da bilheteria. Temos que fazer muito para acertar um pouco e ocupar um espaço importante. É ali que o consumidor vai poder ver a sua própria realidade", diz.

"Durante dois anos 'tiramos' todo mundo da sala de cinema. Precisamos trazer de volta. Perdemos o hábito de consumo do cinema nacional na pandemia", diz Márcio Fraccaroli, o CEO da Paris Filmes.

No cenário com grande capilaridade de distribuição, por conta das múltiplas janelas, não existe mais um mercado obvio, seja na forma de distribuir, seja no perfil do consumidor. Os últimos anos, com as salas fechadas, só aumentaram a distância entre o mercado de cinema e o seu público. "Quem é o consumidor da sala de cinema, qual a faixa etária, perfil? O cinema nacional não tem o algoritmo do streaming para descobrir. O público acima dos 35 anos de idade já está mais longe do cinema e a gente ainda não conhece muito bem os que estão abaixo desta faixa", diz.

O mercado exibidor, apesar de incentivos e medidas de mitigação dos efeitos da pandemia, encolheu na pandemia. Fraccaroli lembra que o público no Brasil só cresceu quando a indústria nacional entregou títulos que atraiu consumidores diferentes. A lógica é que, embora o conteúdo estrangeiro seja capaz de manter a indústria de exibição, é o filme nacional o motor do crescimento deste mercado. "As franquias já 'estão na conta'. O que surge de diferente no local é o que vai trazer um público diferente e uma bilheteria que 'não estava na conta'", explica.

O "público diferente" é o das faixas etárias e perfis socioeconômicos que não têm o hábito, e a possibilidade, de ir ao cinema. Segundo Fraccaroli, a bilheteria no nacional deu granes saltos quando as classes C e D ocuparam as poltronas. Como exemplo, cita "Dois Filhos de Francisco", um marco do cinema brasileiro. "Acertaram a mão. Deu tudo certo e resultou numa bilheteria de mais de R$ 30 milhões", diz.

O volume de lançamentos programados para os próximos três anos, diz o CEO da Paris Filmes, está profundamente relacionado à decisão de guardar os lançamentos previstos para o período da pandemia, o que não foi uma realidade, e nem mesmo uma possibilidade, para grande parte do mercado. "Tomamos a decisão de guardar os projetos para lançar em cinema no retorno das salas. Muitos tiveram que entregar para outras janelas por necessidade financeira", diz. "Eu entendo que preservar o lançamento para o cinema é o que vai trazer a retomada. Durante dois anos 'tiramos' todo mundo da sala de cinema. Precisamos trazer de volta. Perdemos o hábito de consumo do cinema nacional na pandemia", completa.

Janelas

Há, para o distribuidor, uma necessidade de olhar para as janelas e formas de remuneração no cenário com alta demanda por parte das plataformas de streaming. A opção da Paris é levar todos os seus lançamentos nacionais para as salas cinematográficas, respeitando a sequência tradicional das janelas. "Alguns terão mais aderência, outros menos, mas temos que experimentar", diz.

O tempo destinado a cada uma das janelas, no entanto, já não pode seguir o mesmo. "Hoje o filme tem de quatro a oito semanas para monetizar nas salas para depois 'viajar'. Eu acho o ideal um período de seis a oito semanas, do 'Avatar' ao pequeno lançamento, depois desse período pode seguir para outros serviços".

Não se trata apenas de preservar o mercado de salas – o respeito a um período de exclusividade para a janela – mas adotar um padrão que facilita a tomada de decisão do distribuidor e, sobretudo, "não confunde a cabeça do consumidor". "Vale tudo para preservar o hábito de ir ao cinema", finaliza.

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