"Notícias Populares" recria a polêmica redação do tradicional jornal popular paulistano

A série "Notícias Populares" estreia no dia 29 de setembro no Canal Brasil, como parte das comemorações de 25 anos do canal. Os sete episódios inéditos vão ao ar sempre às sextas, às 22h30, e ficam disponíveis no Globoplay + Canais a partir do dia 29. A obra – uma coprodução do canal com a produtora Kuarup Audiovisual, criada pelo jornalista André Barcinski e pelo cineasta Marcelo Caetano – retorna aos anos 1990 e aborda com bom humor as principais histórias do jornal Notícias Populares, o NP, que circulou em São Paulo por quase 38 anos, entre outubro de 1963 e janeiro de 2001.

O roteiro foi escrito por Barcinski em parceria com Marcelo Caetano, Ana Carolina Francisco e Ricardo Grynszpan e cada um dos sete episódios traz uma história que foi manchete do jornal. Conforme contou Barcinski no lançamento da série para a imprensa nesta segunda, 25, o acervo de reportagens permitiria para fazer cinco temporadas só com as maiores reportagens. "Tivemos que escolher em um manancial imenso as reportagens que iriamos trabalhar", conta o criador. Os personagens são fictícios, mas buscando retratar o caos que era a redação do jornal. Na busca pelas histórias, foram realizadas pesquisas em mais de mil exemplares do jornal e várias entrevistas. "Além do acervo do jornal, tivemos acesso aos acervos pessoais de alguns dos jornalistas", conta Caetano.

Projeto antigo

Em entrevista a TELA VIVA, Keila Castro, diretora geral da produtora Kuarup, conta que a série foi contratada em 2018, com um orçamento de R$ 4,5 milhões e contou com recursos de edital do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Com a chegada da pandemia, a produção foi interrompida e acabou sendo gravada apenas em 2022. "A série foi feita com um orçamento defasado em quase cinco anos. Já era um orçamento apertado quando foi contratada e complicou ainda mais pela inflação de 30% a 40% sobre o audiovisual nesse período", conta a produtora.

Segundo Keila, a série é resultado de um grande esforço coletivo. No final, para conseguir cumprir com as entregas, a produtora e o canal fizeram um aporte adicional. Para haver uma segunda temporada, destaca, tem que haver outra fonte de financiamento ou reduzir o número de episódios.

A head de Projetos e Conteúdo Audiovisual do Canal Brasil, Marina Pompeu, diz que sem uma revisão do teto de investimento com recursos do FSA em séries de ficção, não será possível seguir realizando conteúdo com este padrão. "A gente precisa do FSA para viabilizar o conteúdo. O 'Notícias Populares', com a grana que tínhamos, já foi muito complicado. A equipe fez milagre. Tivemos que fazer ajustes, diminuir o número de episódios e virar coprodutores", diz. Para ela, o FSA falha em não acompanhar as necessidades do mercado. "Para ficar no teto, sempre pensamos em minisséries e poucos episódios. Já recebemos propostas incríveis que desistimos porque vimos que não dá para seguir na negociação", diz. Para que haja outra temporada do "NP", ela concorda que é necessário um orçamento "mais confortável para todo mundo poder trabalhar".

Produção de época

A história central se passa no início dos anos 1990, quando o jornal está em crise e sofrendo críticas pelo teor sensacionalista. Paloma (Luciana Paes), antiga correspondente em Paris de um dos maiores jornais do Brasil, é convocada para uma dura missão: chefiar os repórteres e modernizar o NP. Ela terá que driblar seus próprios preconceitos para cobrir casos espetaculares como as histórias do bebê diabo, do bando de palhaços e de uma rebelião de prostitutas. A redação é formada por repórteres com métodos questionáveis, porém, quanto mais absurda é a capa, mais o jornal é vendido.

Keila Castro conta que o cenário foi montado no prédio da Folha de São Paulo que abrigou a redação real do NP. Para isso, apesar de a produção ter alugado o espaço, houve um "apoio muito generoso" da Folha. Barcinski, que trabalhou no NP, conta que o cenário ficou igual à redação original. A equipe, diz o criador do conteúdo, conseguiu reconstruir o caos das redações da época. "Era uma redação barulhenta, caótica, com gente fumando, barulho da rua e que recebia a população que trazia reclamações e sugestões de pauta", detalha.

Marcelo Caetano conta que ainda havia muito objeto de época guardado na Folha de São Paulo que pôde ser usado. "Era um período de transição da máquina de escrever para o computador, mas o NP era mais atrasado, usava a segunda mão dos equipamentos da Folha", conta. Além disso, a equipe teve acesso a diversas horas de material bruto de um documentário produzido na redação do NP por um dos proprietários da Kuarup, Alcides Ferreira, como trabalho de faculdade quando estudava jornalismo na ECA-USP. "A ambientação foi um trabalho muito cuidadoso da diretora de arte Maíra Mesquita", completa.

Elenco

A trama é protagonizada por Luciana Paes e ainda conta com Ana Flávia Cavalcanti, Ary França e Rejane Faria no elenco, além de uma participação especial de Bruna Linzmeyer.

"A minha personagem não existiu, só que ela é a maneira que o espectador vai ter para observar o 'NP', com esse olhar de 'normalidade' sobre o que acontecia no jornal. Aos poucos ela vai se transformando e transformando a maneira com que ela vê o Brasil, porque o 'NP' tem muito essa coisa desse jogo de cintura brasileiro, de uma série de coisas que você não acharia possíveis e a maneira como se lidava com essas coisas representava o Brasil", comenta Luciana sobre a sua personagem.

O elenco também traz nomes como o de Ana Flávia Cavalcanti no papel de Greta, jornalista com foco em celebridades; Rui Ricardo Diaz aparece na pele do editor-chefe do NP Matias; Clayton Mariano é o repórter Helcio, que adora uma pauta sensacionalista; Luiz Bertazzo vive o colunista de cinema Luna, que batalha para escrever críticas para o grande público; Rejane Faria aparece como a fotógrafa experiente Marina; Lucas Andrade interpreta o "foca" Adilson, além de Ary França, Fabio Herford, Tuna Dwek, Ed Moraes, Hugo Villavicenzio, Teka Romualdo, Jackie Obrigon, Flow Kountouriotis, Henrique Zanoni, Verónica Valenttin e Germano Mello.

Bruna Linzmeyer vive Rata, jornalista em uma das principais emissoras de TV do país. A repórter rivaliza com o NP na busca por matérias inusitadas e consegue dar furos históricos, como o Gari Galã (Ricardo Teodoro), deixando Paloma preocupada com a concorrência.

Segundo Marcelo Caetano, houve uma preocupação em buscar um elenco "diferente", dando oportunidades a atores que ainda não estão nas produções mainstream e, ao mesmo tempo, permitindo que atores já mais habituados às grandes produções pudessem desenvolver personagens com nuances distintas das que costumam trabalhar. "Precisamos renovar o elenco. Essa série tem muitas surpresas em relação a isso", diz o diretor. Caetano além de diretor, se destaca como produtor de elenco, posição que ocupou em "Aquarius" (2016), "Bacurau" (2019) e a série recém lançada série "Cangaço Novo" (2023). Ele também dirigiu o longa "Corpo Elétrico" (2017) e a série "Hit Parade" (2021), também parceria da Kuarup com o Canal Brasil e de Caetano com André Barcinski. Atualmente prepara seu segundo longa-metragem chamado "Baby", com previsão de estreia para 2024. Também trabalhou como assistente de direção em filmes como "Tatuagem" (2013) e "Boi Neon" (2015).

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