Festivais e Mostras brasileiros reivindicam reconhecimento como elo potente da cadeia audiovisual 

Mesa “Mostras e Festivais como setor estratégico para o audiovisual” no Fórum Audiovisual Mercosul 2023 (Foto: Divulgação FAM)

Nesta segunda-feira, dia 25 de setembro, representantes do Fórum dos Festivais estiveram reunidos em um painel no Fórum Audiovisual Mercosul, que é parte da programação do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM). No debate, eles trouxeram à tona as principais reivindicações do setor de mostras e festivais nacionais e reiteraram a importância que esses eventos têm no ecossistema audiovisual. 

Márcio Blanco é Presidente do Fórum dos Festivais e diretor do Festival Visões Periféricas. Em sua fala, destacou que entre as principais demandas do Fórum está o desenvolvimento, com dotação orçamentária, do Pronaf, o Programa de Incentivo ao Setor de Mostras e Festivais que foi instituído por uma portaria do MinC em 2017. E para o grupo, as ações resultantes deste programa devem ser elaboradas e desenvolvidas com acompanhamento do setor de mostras e festivais e suas representações. 

Outra reivindicação importante é o retorno da linha de financiamento para mostras e festivais com recursos do FSA. Essa linha, que era de fluxo contínuo, aconteceu em 2018/2019 e, segundo Blanco, foi "o melhor dos mundos". Ele pontuou: "Nós sofremos muito com a falta de perspectiva para os festivais. Não podemos depender só de conjunturas políticas. Precisamos de fontes de financiamento estáveis, que garantam que a gente consiga se planejar a longo prazo. Sabemos que existe um problema do cinema produzido chegar ao público. Por isso o FSA, além de investir em produção, também precisa se voltar à exibição. E não é só exibição em salas de cinema – é festival e mostra também". O retorno dos editais de fomento para mostras e festivais propostos por empresas estatais, como Petrobras e Caixa Econômica Federal, também é uma solicitação do Fórum. 

A lista de reivindicações segue com a participação institucional – a entrada de organizações representativas de mostras e festivais no Conselho Superior de Cinema e no Comitê Gestor do FSA; a informação – o apoio do poder público a ações de pesquisa de dados do setor de festivais de cinema e audiovisual, fazendo ver toda sua diversidade temática e potência econômica; e pontuação de festivais e mostras – contabilização da realização de festivais e mostras a título de pontuação de suas produtoras na Ancine. 

De modo geral, o Fórum dos Festivais chama a atenção para a necessidade de mudança de visão na cadeia produtiva, pensando a exibição como um elo que vai além da remuneração econômica de filmes. "Essa é a visão da Ancine – enxergar o cinema como uma cadeia econômica que remunera seus filmes e seus profissionais. Mas, sem cumprir dois direitos básicos, essa remuneração não acontece: o direito de acesso ao filme por parte do público e o direito de circulação por parte do filme", ressaltou Blanco. 

Para reforçar esse ponto, ele trouxe alguns dados: em 2019, antes que a cota de tela expirasse, 90% dos filmes exibidos em salas de cinema (252) fizeram menos que 10 mil espectadores. "Ou seja, não é só questão de cota. É claro que ela é um mecanismo fundamental de proteção de mercado, mas sozinha a cota não dá conta de escoar toda a produção. Por isso, os festivais precisam ser reconhecidos como um elo importante para que a produção chegue ao público. A Ancine não contabiliza o público dos festivais como um público válido para os filmes. Mas precisamos reconhecer esse público como oficial. Há filmes que fazem um circuito maior em festivais do que em salas de cinema. Os festivais potencializam o alcance das obras", enfatizou. 

Panorama dos festivais no Brasil 

O Fórum dos Festivais é atualmente a única entidade no Brasil juridicamente formalizada que representa do setor de mostras e festivais no Brasil e no exterior. A atual gestão é formada por 16 festivais e o Fórum conta com 66 festivais como membros cadastrados, além de representar 30 que acontecem no exterior. Entre as principais missões da organização, estão promoção do desenvolvimento social e cultural; defesa do patrimônio histórico, artístico e imaterial; estudos e pesquisas; promoção do intercâmbio entre festivais para o pleno desenvolvimento dos mesmos; e colaboração com o Estado como órgão técnico e consultivo para solução dos problemas que se relacionam com a categoria representada, entre outras. 

Entre os anos de 2016 e 2022, o Brasil promoveu anualmente mais de 300 festivais – com exceção de 2020 que, por conta da pandemia, foram 241. No ano passado, o número foi de 366. Os eventos são diversos. São 124 festivais "gerais", mas também existem 27 universitários, 22 regionais, 20 de cinema fantástico, 15 voltados à produção LGBTQIAP+, 13 de obras de realizadores negros, 11 de obras dirigidas por mulheres, 11 infanto-juvenil, dois de produções da periferia e dois de cultura indígena. "Esse recorte temático é importante para entender como os festivais têm uma função política que ajudou a promover uma transformação representativa no ecossistema do audiovisual. Os recortes temáticos são muito associados às políticas identitárias, e os festivais também são responsáveis por construir essa noção de identidade no audiovisual. Se hoje temos dentro do audiovisual uma nítida diversidade maior do que 15 anos atrás, é porque esses eventos reuniram as produções desses realizadores, criando um movimento em torno dessas identidades e desses recortes", observou o Presidente do Fórum. 

Ele também apontou os impactos dos festivais e salientou que assistir filmes em uma sala de cinema é uma experiência social coletiva e que, portanto, festivais são espaços de sociabilidade, representatividade e visibilidade. Os impactos em questão foram divididos em: cultural – difusão da produção nacional e internacional, revelação de novos realizadores e formação de rede, renovação da linguagem audiovisual, formação de público, reflexão sobre as obras e o país e capacitação e formação; econômico – geração de renda nas regiões onde os festivais atuam, ações de mercado e fomento ao turismo; e político – os festivais promovem importantes articulações políticas para todo o setor. 

"Com a popularização do streaming, toda a atenção foi voltada para o impacto dessas plataformas no audiovisual. Mas a forma de consumo que elas oferecem é principalmente para o ambiente online, que é mais individualizado, na casa de cada um. Para a geração mais nova, que está acostumada a fazer tudo pelo celular, essa experiência é mais individualizada ainda. Por isso é bom marcar a diferença entre o consumo que acontece no streaming e aqui, no ambiente de festival, que permite o encontro olho no olho, trocas, formação de público e essa experiência coletiva", afirmou o diretor. "Na pandemia, os festivais migraram para o online, o que também foi bom, porque conseguimos um alcance que não tínhamos. Hoje, os festivais acontecem na sala de cinema e também alcançam um público de outras partes do país e também de fora, graças às plataformas", acrescentou. 

Dos 366 festivais que abriram inscrição em 2022, 96 são estreantes, isto é, realizaram sua primeira edição. "Muito disso foi por conta da criação da Lei Paulo Gustavo. Isso significa que, quando existe incentivo, os festivais aparecem. Veremos nos próximos três anos um boom de festivais acontecendo Brasil afora. Eles cumprem um papel importante de escoamento da produção de cinema brasileiro", concluiu Blanco. 

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