No streaming, AVOD e modelos de nicho se posicionam com relevância na estratégia das empresas

Television production concept. TV movie panels

As oportunidades para o modelo de AVOD e de nicho no mercado de streaming nacional foram tema do segundo painel do Streaming Brasil – evento virtual organizado pelas publicações TELETIME e TELA VIVA – nesta segunda-feira, dia 26 de abril. Durante a discussão com os especialistas participantes, ficou claro que estamos num momento de consolidação de modelos de negócios dentro do setor, sem que um em especial esteja se desenvolvendo em detrimento do outro. "Vamos ver inclusive uma mesma plataforma oferecendo todos os modelos", apontou Cícero Aragon, CEO da Container Media e da Box Brazil. 

Falando em tendências, Maurício Kotait, gerente geral da ViacomCBS no Brasil, enxerga um crescimento das plataformas de streaming gratuitas no Brasil, com a publicidade seguindo esse caminho, e um "nichamento" dentro dessas plataformas. Seria o caso da Pluto TV, serviço gratuito do grupo de mídia que reúne conteúdo on demand e canais ao vivo – 36 atualmente – e é bancado via publicidade. Em 130 dias no Brasil, a Pluto já alcançou a marca de seis milhões de usuários ativos por mês, número que esperava atingir somente no final do ano. "O mercado consumidor entendeu o serviço muito rápido e percebeu que a publicidade é fundamental para ele rodar. Nosso objetivo é ser o maior player de AVOD do mercado. Até o fim do ano teremos 50 canais com excelente conteúdo, de diferentes players, entre a própria Viacom e parceiros, incluindo canais de TV aberta e rádios", adianta. 

Kotait explica que o serviço trabalha com um modelo de compartilhamento de receitas, sendo que não há compra de conteúdos, e sim parceria. "Se o player tem conteúdo pra produzir um canal próprio dentro da Pluto, tudo o que é veiculado ali será dividido como publicidade. É um modelo fácil e prático. Além disso, o produtor não precisa liberar todo o conteúdo dele pra gente – pode selecionar uma porcentagem, por exemplo. A partir da Pluto, as pessoas conhecem o negócio e acabam assinado. O melhor lugar pro produto pago é o produto não-pago. AVOD funciona como impulsionador, como primeira degustação de produtos premium", aposta. A publicidade está presente na Pluto no ao vivo e também no on demand, com breaks curtos, sem skip, em um formato parecido com o da TV tradicional. Os intervalos são de, no máximo, dois minutos. "A audiência tem aceito bem, entende que é uma moeda de troca", garante o executivo. 

Sobre a tendência de nicho que citou, Kotait exemplifica o ponto com o exemplo dos Estados Unidos, onde a Pluto possui 250 canais lineares: "Os canais são de nichos bem definidos e acredito nesse movimento dentro das plataformas. Não digo que teremos 250 canais no Brasil, mas vamos chegar aos três dígitos com certeza".

Mercado de nicho 

Quem entende bem do assunto é Julio Worcman, fundador do Curta!. "Tudo o que eu faço é de nicho desde sempre", brinca o executivo, que está por trás de marcas como o canal Curta!; do Curta!On, clube de documentários que funciona por acesso direto ou via NOW; da Tamanduá TV, streaming com filmes e séries; e da recém-lançada TamanduáEdu, plataforma de streaming para uso em educação que reúne conteúdos como filmes, documentários e animações de produção nacional e internacional. De acordo com a plataforma, mais da metade dos filmes disponíveis estão classificados segundo a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) para uso por professores e alunos de todos os níveis de ensino, áreas de conhecimento, componentes curriculares e habilidades. "Foi um produto desenvolvido com propósito bem específico de nicho educativo", define Worcman. Na prática, as escolas selecionam, dentro do acervo da plataforma, uma média de 450 filmes iniciais para montar seu planos próprios de forma customizada, em sintonia com seus currículos e com a sua marca, contando com ajuda da equipe do serviço, e então os alunos tornam-se elegíveis para acessar os acervos segmentados por cada nível de ensino – como Fundamental e Médio, por exemplo – e assistir aos filmes indicados pelos professores na escola ou com amigos e familiares. 

O projeto é a evolução de uma experiência gratuita anterior, patrocinada pela Petrobras, entre 2007 e 2011, o Curta na Escola, que atraiu o interesse de 27 mil escolas e 68 mil educadores de todo o Brasil. "Naquela época, já encontramos uma demanda dos professores por usar conteúdo audiovisual nas escolas", relembra. 

Como citado anteriormente, o Curta! possui diversas janelas de seu conteúdo, como o Curta!On, que tem acesso direto ou via NOW, e Worcman adianta que a ideia é colocá-lo em outras plataformas, como Amazon e Vivo. O serviço é uma marca de nicho de documentário cultural que reúne cerca de 450 documentários premium. "Queremos ser mais distribuídos, levar esse nicho para vários lugares. No caso do canal linear, podemos até estar na Pluto TV futuramente", avalia. 

Também com um produto de nicho recém-lançado, Cícero Aragon, mais especificamente a Container Media, é o nome por trás do lançamento da Grêmio Play, plataforma que reúne conteúdo esportivo dedicado ao time e entretenimento para toda a família. A ideia da novidade é buscar nichos, como a torcida de um clube, para oferecer, além de um conteúdo personalizado, o conteúdo genérico do streaming e da TV por assinatura. "Esta conexão de nichos será o diferencial na hora de escolher uma assinatura", aposta Aragon. 

Na plataforma do Grêmio são oferecidos mais de 7,8 mil conteúdos sob demanda, entre produções brasileiras, filmes de longa e curta-metragem dos principais estúdios de Hollywood, séries, animações, documentários, shows e conteúdos destinados ao público infantil, além de conteúdos exclusivos relacionados ao clube. Outras novidades disponibilizadas pela Grêmio Play são os lançamentos da Grêmio TV no Ar, canal de TV do Grêmio, e a Grêmio Rádio, rádio com programação musical e esportiva, ambas produzidas pela Box Brazil em conjunto com o Grêmio. 

"Em toda plataforma de esporte disponível até então o pensamento central é o jogo de futebol. Mas queremos ir além, visando o crescimento do mercado. Essa conexão entre o time de futebol pode ser muito maior do que aquela criada só na hora da partida. A Grêmio Play é como se fosse um operador virtual de conteúdos por assinatura do Grêmio. Acreditamos muito nessa conexão permanente, guiada por conteúdo do time, canais lineares, VoD, integração de apps, com a vantagem de um único login e senha. É um modelo que deve funcionar muito", acredita Aragon. O executivo afirma que eles inclusive já estão em negociação com outros times. "Queremos quebrar os paradigmas de que plataforma de esporte é só futebol", declara. Como tendência para o mercado, o CEO aposta justamente nisso: uma agregação de modelos em um único ambiente. "O que tem mais condições de dar certo é um ambiente que possibilita integrar tudo. Precisa acabar com aquela história de 20 logins e senhas diferentes e ter tudo centralizado em um mesmo ambiente. As pessoas querem curadoria, alguém escolhendo por elas", defende. 

Descentralização na entrega do conteúdo 

Carolina Vargas, CEO e fundadora da Stenna Media, empresa especializada na distribuição de produtos lineares e não-lineares (plataformas OTT, SVAs e streaming), representa uma grande quantidade de propriedades e conteúdos e faz essa distribuição em várias frentes. "Temos ferramentas que nos ajudam a entender a tendência do mercado e costumo dizer que precisamos seguir as tendências que os números nos apontam", afirma. "O 'antes' e o 'durante' a pandemia já são perfis de consumo bem diferentes, assim como o conteúdo que performa bem no Sul não é o mesmo que vai bem no Nordeste. Por isso acredito nessa descentralização na entrega do conteúdo, que é bem nichada. Cada região consome um tipo de conteúdo", completa. 

A executiva bate na tecla da experiência do usuário e defende que metadados são importantes para toda a cadeia: "Estamos trabalhando na popularização dos metadados para as plataformas. Só com esse tipo de experiência do usuário o nicho consegue aparecer para a publicidade, e as plataformas vêm fortes nesse sentido". Essa entrega nichada, focada na experiência do usuário, é o que Vargas aponta como tendência de mercado. 

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