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Criação de conteúdo kids demanda responsabilidade e disponibilidade de olhar a criança de igual para igual

“Conteúdo Original Kids: O desafio de criar para uma geração hiperconectada, hiper exposta e hipervigiada” foi tema de painel nesta quarta-feira, dia 27 de abril, durante o Rio2C 2022. Na mesa, criadoras e executivas discutiram sobre os desafios e responsabilidades na produção de conteúdo para esta geração, refletindo sobre os efeitos da tecnologia na mente e dos “alphas” e quais tendências definirão essa geração. A mediação do papo foi da diretora executiva de entretenimento da Conspiração Filmes, Juliana Capelini, responsável pela produção da série “D.P.A. – Detetives do Prédio Azul”, bem como dos três filmes da franquia.

Flávia Costa, head de conteúdo original da Unidade Infantil da Globo, abriu a conversa: “Quando entrei no Gloob, em 2012, estávamos criando o posicionamento para lançar o canal. Na época, uma pesquisa me chamou muito a atenção – ela dizia que 89% das crianças ouvidas acreditavam que poderiam mudar o mundo. A partir daí, passamos a refletir sobre como falar com uma criança que tem tanta esperança. No primeiro momento, isso é bom. Mas também traz muita responsabilidade. Criamos então três pilares: diversão, inspiração e ambiente saudável. E acho que estamos num bom caminho nesse sentido, apresentando para as crianças um ambiente leve e divertido”. 

Já Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, ressaltou que a geração alpha quer co-criar – e isso esteve em mente para a produtora desde o começo: “Pensamos sempre em coisas que as crianças consigam fazer em casa, isto é, gerar interação. E em todos os conteúdos tentamos transmitir valores positivos. As crianças vão assistir aos programas e criar referências. É uma responsabilidade muito grande entender o que as crianças estão passando, pensando e querendo”. 

Marina Filipe, Gerente Sr. de Produções Originais da Warner Media Latin America para Kids & Family, contou que sempre quis trabalhar com algo que pudesse causar impacto – e que não existe caminho melhor para isso do que criar para crianças. “É uma responsabilidade enorme e, no caso do Cartoon, ainda mais, porque produzimos conteúdo para a geração alpha mas, anteriormente, também produzimos pros pais dela. Ou seja, é uma responsabilidade atrelada à credibilidade, que transpassa gerações. Nesse sentido, acho que temos que estar disponíveis para enxergar a criança de igual para igual. Ouvir mais do que falar. Não pode cair no conteúdo infantil por acaso – tem que existir um interesse genuíno de entender cada etapa de desenvolvimento dessas crianças. Disponibilidade é o principal aspecto”, pontuou. 

Para Karen Castanho Vega, produtora da Biônica Filmes, o desafio não é criar conteúdo especificamente para a geração alpha, e sim a responsabilidade criar conteúdo para criança. “Nos próximos anos, a geração alpha vai atingir dois bilhões de pessoas. Ela representará 20% da população mundial. O que fazemos hoje vai refletir nos adultos que elas serão no futuro – por isso a responsabilidade é enorme. E não podemos subestimar a inteligência das crianças em nenhum momento”, argumentou. 

Relação com as telas 

O contato das crianças com as tecnologias – especialmente as telas dos celulares – é um tema sensível. É nítido que, com a pandemia, o tempo de tela delas aumentou. E dificilmente vá reduzir. Para as executivas, o caminho agora é entender como lidar com essa relação. 

A Biônica Filmes é a produtora dos longas live action da Turma da Mônica – “Laços” (foto) e “Lições”. Em ambos os filmes, os personagens não mexem no celular em nenhum momento. “Os distribuidores achavam isso muito estranho, questionavam se as crianças iriam se engajar com aquele universo sem telas. Mas o Daniel Filho, o diretor, sempre pensou no Bairro do Limoeiro desse jeito. Fizemos uma pesquisa de audiência e nenhuma criança trouxe isso à tona. Elas não sentiram falta”, revelou Karen. A produtora ainda salientou que as telas não necessariamente devem ser vistas como algo totalmente negativo: “As crianças hoje se tornaram mais empáticas por estarem globalmente conectadas. Elas estão mais ligadas no que acontece com o outro”. 

Como criar conteúdos para atrair as crianças 

Não tem fórmula mágica para conquistar a atenção da geração alpha, mas as executivas têm alguns apontamentos. Para Karen, da Biônica, o foco está em histórias muito bem produzidas: “Às vezes, as pessoas acham que a produção para crianças pode reduzir o padrão de qualidade. Pelo contrário – às vezes, ele é ainda mais alto do que na produção adulta, especialmente por conta da responsabilidade. Nós buscamos contar boas histórias e que tenham propósito. No momento, estamos desenvolvendo quatro conteúdos – alguns deles com a Turma da Mônica – e todos têm propósito. É algo que naturalmente está na cabeça das crianças”. 

Para Marina, o desafio nesse sentido é entender as diferentes etapas de desenvolvimento e necessidades das crianças. Ela ainda traz à tona outra questão: a pandemia. “O que nós passamos vai marcar essa geração profundamente, de um jeito que ainda não sabemos como. Precisamos ficar atentos a isso e sermos muito empáticos”, alerta. “E além de boas histórias, acho que precisamos de bons personagens – eles, no fim, são a porta de entrada para as boas histórias. Ressalto ainda o humor. Ele abre portas e é nossa forma de nos conectar com todas as gerações”, afirma. 

“Narrativas inovadoras e divertidas” é o que a Druzina Content valoriza. Entre os próximos projetos da produtora, estão “Gigi Come o Que?”, uma série que aborda com leveza questões relacionadas a restrições alimentares, e um live action para a Nickelodeon que segue o modelo das telenovelas. “Uma característica nossa é a coprodução. Estamos no Sul, fora do eixo Rio-São Paulo, e muito abertos para coproduzir e buscar narrativas diferentes. Somos produtores criativos, trabalhamos no projeto desde o começo, lemos e relemos milhares de vezes. Queremos levar nosso conteúdo para o máximo de telas possíveis – e conteúdos com a nossa cara e que não tenham fronteiras”, contou. 

Flávia acredita que para capturar a atenção das crianças a estratégia é estar em todos os lugares que ela está. Como exemplo, ela cita o case de “D.P.A. – Detetives do Prédio Azul”, que se desdobrou em TV, cinema, YouTube, teatro, redes sociais e VoD, entre outros formatos. “O objetivo é cobrir todos os pontos de contato. Qualquer conteúdo que criamos, pensamos em como podemos desmembrá-lo. Para nós, tudo tem cauda longa. Série de uma temporada não nos interessa. Nosso público espera novas temporadas, spin-off e desdobramentos. Não adianta ser uma ideia genial se ela não tiver fôlego”, declarou. 

Construção de personagens 

Conforme mencionado por Marina, bons personagens são essenciais. “Para nós, todas as características são válidas no que se trata de construção de personalidade dos personagens. Não queremos mostrar os defeitos do personagem com o foco em como melhorá-los. Cada personagem tem sua fortaleza e o complemento deles garante a diversidade”, explicou.

Flávia concorda e conta: “Fazemos um mapeamento completo para cobrir o máximo de personalidades – temos personagem tímido, falador, extrovertido, inseguro… Apresentamos personalidades diferentes para que as crianças possam se identificar. Nossa equipe de conteúdo pensa dessa forma, com o objetivo de gerar identificação na criança. É um trabalho profundo – e delicioso”. 

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