Definido como uma "videomontagem" pelo próprio realizador Carlos Alberto Mattos, também pesquisador e crítico, "Taiguara – Onde Andará teu Sabiá?" é um tributo ao cantor e compositor Taiguara Chalar da Silva (1945-1996). Desenvolvido a partir de materiais disponíveis na internet, o vídeo é uma resposta à ausência de um documentário sobre o artista de forte presença poética e política. A produção não tem objetivo comercial e será lançada no dia 1º de dezembro, às 17h30, em uma live no canal do YouTube do Gustavo Conde, junto com o crítico de música Antonio Carlos Miguel. "Taiguara – Onde Andará teu Sabiá?" não vai circular por mostras e festivas, apenas ficará disponível no canal Vimeo, com acesso gratuito.
O eixo da narrativa é um depoimento autobiográfico concedido em áudio ao jornalista paranaense Aramis Millarch, em 1984. A partir desse ponto, Mattos organizou trechos de shows de televisão, entrevistas, fotos e artigos da imprensa para pontuar o itinerário do compositor. Cenas de filmes brasileiros, cuja utilização foi autorizada por seus diretores e produtores, ajudam a ilustrar falas e músicas de Taiguara, a única voz a narrar o seu próprio percurso.
"Taiguara foi um dos mais talentosos músicos e letristas da música popular brasileira, mas tem sua obra menos reconhecida e festejada do que merece", afirma Mattos. "Minha ideia com este vídeo foi estimular a realização de um filme 'de verdade' sobre esse artista genial, cuja história de vida é igualmente fascinante", explica.
Nascido no Uruguai de pai músico e mãe cantora, crescido no Rio de Janeiro entre Santa Teresa e a Lapa, Taiguara surgiu na cena musical em São Paulo, no começo da década de 1960. De shows universitários ao Juão Sebastião Bar e dali aos grandes festivais de música, a carreira progrediu como cantor romântico. O vídeo de Mattos contém cenas raras do longa-metragem "O Bolão", de Wilson Silva, em que Taiguara atua como protagonista, e de "Crônica da Cidade Amada", de Carlos Hugo Christensen, que tem canções interpretadas por ele.
Suas letras repletas de insinuações eróticas e políticas despertaram o furor da censura na década de 1970, fazendo dele um dos compositores mais vetados da época. A perseguição o levou a exilar-se primeiro na Europa, depois na África, o que só fez acentuar sua indignação contra a ditadura brasileira, a lógica capitalista excludente e as garras longas do imperialismo.
Quando retornou ao Brasil, na virada dos anos 1980, Taiguara estava plenamente engajado nas causas da esquerda. Assinou uma coluna de ideias revolucionárias no jornal Hora do Povo e costumava rechear seus shows de chamamentos ao socialismo. Gravou discos de louvor às culturas indígena e africana, chegando a se casar com a líder indígena Eliane Potiguara. A amizade com Luís Carlos Prestes tinha matizes de relação pai-filho.
Depois de uma longa tentativa de tratamento em Cuba, Taiguara morreu de câncer na bexiga em 1996. Deixou um rastro de ideias e belas composições. O álbum "Imyra Tayra Ipy, Taiguara" costuma frequentar listas dos melhores discos já produzidos no Brasil. Taiguara deixou também duas filhas e dois filhos naturais, além de uma filha da união anterior de Eliane Potiguara, que ele adotou como legítima. Todos envolvidos de alguma maneira com a música.