Criada e dirigida pelo produtor executivo Marcelo Braga, a Santa Rita Filmes está completando dez anos de mercado e já contabiliza nove longas-metragens, com destaque recente para a trilogia de true crime sobre o caso Suzane von Richthofen, composta pelos títulos "A Menina que Matou os Pais", "O Menino que Matou Meus Pais" e o recém-lançado "A Menina que Matou os Pais – A Confissão", que chegou ao Prime Video na última semana, e ainda para o longa "No Ritmo da Fé", um dos filmes de língua não-inglesa mais vistos globalmente na Netflix na primeira semana de agosto. A produtora também já produziu quatro documentários e 12 séries documentais, como "Milton Nascimento – Intimidade e Poesia", "Tu Casa Es Mi Casa", com Paulinho Moska, e "Guerreiros da Floresta", que estreou pelo Canal Futura.
"Desde o início, a intenção foi aproveitar toda a experiência que eu havia conquistado em mais de 20 anos divididos em passagens por TVs e outras produtoras para, então, focar em produções que pudessem, de alguma forma, fazer a diferença, buscando sempre formatos, gêneros e histórias que tivessem algum impacto na audiência", refletiu o produtor Marcelo Braga, fundador da Santa Rita Filmes, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Foram anos de aprendizado – testamos alguns formatos, apostamos mais em uns do que outros, erramos em apostas e acertamos em outras, e isso faz parte do negócio. Entretanto, sempre acreditando numa entrega com qualidade e de relevância. Faço um balanço positivo destes anos de atuação num mercado altamente competitivo".
Braga relembrou que a produtora iniciou sua história focada em produzir projetos para a Pay TV de variados gêneros e formatos, mas logo no início também apostou no conteúdo ficcional para longa-metragem de baixo ou médio orçamento à época. "De maneira geral, acho que a evolução destes projetos que conquistaram relevância de audiência foi fruto de pesquisa e apostas. Os modelos de negócio foram variados, sempre mesclando o fomento via leis de incentivos, mas apostando também na criação de parcerias com coprodutores e/ou distribuidores, num modelo de investimentos privados para buscar resultados em diversificadas janelas de exibição", explicou.
Trilogia de true crime virou case
Os filmes baseados no caso Von Richthofen simbolizam uma das grandes experiências positivas da história da produtora. Atualmente, os três estão no Top 10 de conteúdos mais vistos do Prime Video, com o título mais novo ocupando a primeira posição. "Apostamos num gênero que não era nada explorado no Brasil. Arrisco dizer que somos pioneiros na aposta do true crime e ao inovar ainda mais com um case como este, com duas versões do mesmo crime, o que foi um grande acerto. Íamos fazer somente um filme, contando as duas versões paralelas, e após vários debates concluímos de que fazer dois filmes diferentes seria o grande feito deste projeto", contou.
Braga, que assina a produção dos longas, afirmou que, quando decidiram pelo caso e focaram os dois primeiros filmes com narrativa principal trazendo a história de amor vivida pelo casal Suzane e Daniel até o crime cometido pelos três assassinos, incluindo o irmão dele, Cristian, já sabiam que teriam formas de avançar numa trilogia, contando os oito dias entre o assassinato e a confissão. "Mas não restam dúvidas de que a aposta só virou realidade devido ao grande sucesso de audiência e total repercussão que os filmes conquistaram", avaliou.
Mudança de estratégia
Logo no início da pandemia, com o mercado praticamente estagnado, a Santa Rita resolveu apostar em filmes um pouco menores do ponto de vista de investimento de produção e em um modelo de negócios acreditando em resultados no TVOD, VOD e, como terceira janela, o SVOD: "Foi e é um jogo de risco, mas precisávamos manter aquecida a produção. E assim fizemos quatro filmes neste período: dois infanto-juvenil, uma comédia e um filme com uma narrativa cristã e de superação".
A experiência com esses títulos impulsionou a produtora a arriscar em novos desenvolvimentos de conteúdos para estes diversos públicos. "Faz parte do nosso negócio apostar em vários gêneros", definiu o produtor. Um dos targets que a produtora conseguiu atingir foi o infanto-juvenil. Ela produziu, por exemplo, "Hora de Brilhar", com Sophia Valverde, disponível no Disney+, e "A Garota Invisível", também com a atriz, que pode ser assistido na Netflix.
O investimento em projetos documentais também é prioridade para a casa: "Destacamos as séries 'Tu Casa Es Mi Casa', uma viagem que revela uma América Latina moderna e contemporânea, que contempla contribuições latinas para as mudanças globais, e 'Guerreiros da Floresta', que aprofunda-se nas culturas de etnias indígenas abordando semelhanças e particularidades de estilo de vida, além da luta por preservação ambiental e sobrevivência". Braga adiantou os próximos projetos documentais da produtora, já em fase de finalização: "Primavera nos Dentes – A História de Secos & Molhados", para o Canal Brasil como primeira janela; "Janis, amores de Carnaval", para o Arte1; além de uma série para o SescTV e outra para a TV Cultura. "O núcleo documental da produtora está aquecido", pontuou.
Próximos projetos
Falando em próximos projetos, vem aí mais uma aposta no true crime da Santa Rita: o primeiro original da produtora para a Amazon Studios e Prime Video, "Maníaco do Parque", projeto que vai contar com um filme de ficção e ainda uma série documental. "Este será, com certeza, o grande lançamento para 2024. Mas eu diria que, para os próximos dois anos, teremos muitos produtos relevantes, que farão cada qual sua trajetória. Temos uma rica carteira de projetos para mostrar ao mundo", garantiu.
Futuro do mercado
Braga também falou sobre a evolução do audiovisual nacional para um futuro próximo, considerando especialmente o que o setor enfrentou nos últimos anos. "Essa retomada pós-pandemia, trazendo um novo Governo e a atuação mais determinada em prol do audiovisual, tanto por parte do Ministério da Cultura como Ancine, só tem a colaborar com o aquecimento do mercado. A pandemia trouxe uma maior consciência à população sobre a arte. Foi um longo período, onde o aconchego do lar e a procura por conteúdos audiovisuais fizeram toda diferença de nossa sobrevivência em tempos tão difíceis", relembrou. "Além disso, a indústria do audiovisual gera um PIB enorme, isso sem contar com a quantidade de geração de empregos pelo setor. Justamente essa retomada de governo de esquerda, que tem esta conscientização, fará com que mais e mais conteúdos sejam produzidos, mas o que vencerá mesmo será sempre a resiliência de enfrentar períodos prós, contras ou indiferentes ao setor. E eu, como sou otimista e resiliente, espero vencer junto com esta retomada cultural".
E pensando no futuro, o produtor também comentou o atual momento de definição de importantes marcos regulatórios, como regulação do streaming e cotas de tela. "Sabemos da importância de se regulamentar o setor. Somos um país com protagonismo no consumo de audiovisual mundial, geramos uma enorme receita para empresas ao redor do mundo e os nossos produtos merecem ter mais espaços de exibição garantidos. Seja em salas de cinema, seja no streaming, seja no cabo, onde for. A suspensão da cota de tela no governo anterior foi um baque para todo o setor. Vivemos hoje uma espécie de 'ebulição cinematográfica' novamente, e será muito importante conseguirmos encontrar a melhor forma de se equacionar as expectativas entre produtores, distribuidores e exibidores. O elo entre as três cadeias de produção deve ser harmonioso, saudável e justo a todos. Não adianta uma só ponta ter resultados. O que não podemos aceitar é o retrocesso", defendeu.
Por fim, Braga concluiu: "Somente com a regulação do streaming e a cota de tela nas salas de exibição teremos condições de não só fomentar a nossa rica produção de audiovisual, mas como de ter garantias de janela de exibição para os produtos nacionais. Assim já é em grande polos, como França, Inglaterra, Coreia do Sul, Espanha e México, e até países vizinhos nossos, como Argentina e Bolívia. Isso será fundamental não só para o crescimento, mas como um enriquecimento de nossas histórias".