Peça-filme "Aquilo de que não se pode falar" tem temporada virtual de 8 a 15 de dezembro

Baseado no livro "Vaca de Nariz Sutil" – que completou 60 anos em 2020 -, escrito por Campos Carvalho, o projeto "Aquilo De Que Não Se Pode Falar" parte da premissa de fazer coexistir, em um mesmo processo de criação, duas línguas e culturas que pouco conversam entre si: LIBRAS e Português.  A dramaturgia textual e a cena irão, consequentemente, lidar com duas formas / forças de linguagem. Dessa forma, a encenação projeta uma comunhão peculiar entre tais línguas e acolhe também possíveis colisões entre elas. A peça-filme terá temporada de 8 a 15 de dezembro, sempre às 19h, gratuitamente, com ingressos retirados através do Sympla. 

"'Aquilo de que não se pode falar' é uma obra que responde a um longo processo. O projeto que dá origem a ela se iniciou em 2016, quando me deparei com o livro 'Vaca de nariz sutil', de Campos de Carvalho, e o imaginei se tornando espetáculo em um solo de teatro-dança, onde eu viveria o soldado esquizofrênico avassalado pela guerra. Foi aí que o Vinícius Arneiro, diretor do espetáculo, lançou a proposta de reavaliarmos o projeto e convidarmos um ator surdo para compartilhar a cena comigo dando corpo a Aristides, personagem que divide um quarto de pensão com o soldado. Eu fiquei encantado com a ideia. Na obra de Campos de Carvalho, embora compartilhem o mesmo quarto, os personagens nada sabem um do outro. No romance, Aristides é um personagem episódico, sempre narrado e apresentado de forma um tanto pejorativa por parte do soldado. Após conversas com a Erika Rettl, integrante do grupo Moitará que tem um belo projeto com artistas surdos, reformulamos o projeto", conta Filipe Codeço, idealizador do projeto em parceria com Vinicius Arneiro. 

"Aquilo De Que Não Se Pode Falar" é interpretado por um ator surdo, cuja língua materna é LIBRAS, e um ator ouvinte, que tem o português como matriz.  Ao gerar duas linhas narrativas que se desdobram mutuamente, a dramaturgia  se desenvolve  sem hierarquia linguística e abre diversas leituras. A peça-filme é um retrato contundente da devastação subjetiva operada pela guerra, além de um convite à reflexão sobre os perigos presentes no discurso e no militarismo em âmbito local e global.

A trama narra o regresso de um soldado que, em campo de batalha, é diagnosticado com esquizofrenia e afastado de suas funções. Ele chega na cidade e aluga uma vaga num quarto de pensão próximo ao cemitério, ao entrar no recinto, depara-se com um desconhecido, um homem surdo com quem vai dividir o quarto. Foi criada uma dramaturgia surda em um processo de transcriação, compartilhado entre o dramaturgo Diogo Liberano, o ator Marcelo William e os intérpretes de LIBRAS Jhonatas Narciso e Lorraine Mayer. 

As línguas de sinais foram internacionalmente banidas dos ambientes educativos por mais de 100 anos a partir de resoluções de uma conferência de educadores de pessoas surdas (formada em sua maioria por ouvintes) realizada em Milão em 1880 e os ecos dessa resolução são sentidos até hoje, se manifestando em um quase desconhecimento das línguas de sinais por parte da população ouvinte.

O link de acesso direto ao vídeo será via Sympla. A peça-filme ficará disponível de 8 a 15 de dezembro, até às 19h. No último dia, excepcionalmente, às 19h, haverá uma breve conversa online, aberta ao público com a presença do elenco e equipe. Acessível em LIBRAS.

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