A Net Serviços anunciou nesta terça, dia 3, que, para "preservar a liquidez e manter as obrigações operacionais em dia, considerando a falta de disponibilidade de recursos no mercado para financiar suas necessidades de capital de giro", vai "reavaliar o seu fluxo de caixa enquanto busca uma estrutura de capital adequada". É, segundo analistas ouvidos por este noticiário, um aviso de que a empresa não deve pagar seus compromissos, pelo menos os mais imediatos. Ontem, dia 2, a empresa deveria ter pago juros referentes à segunda emissão de debêntures. Ainda não correu o prazo formal para que possa ser declarado o default desse pagamento, mas segundo a Standard & Poor's, a empresa deixou de honrar vencimentos de R$ 23,5 milhões nos últimos dias. A S&P reclassificou o rating da Net para o nível de default.
Segundo o fato relevante da empresa, "a companhia continua a trabalhar em conjunto com o Bank of America e, além disso, contratou o The Blackstone Group como seu assessor financeiro". A Net diz ainda que "o processo em questão não impactará as operações ou serviços prestados aos assinantes da Net Serviços. A companhia comprende a necessidade de se obter uma solução satisfatória para a sua estrutura de capital dentro de um curto espaço de tempo. Para tanto, pretende completar e discutir a análise de sua estrutura de capital durante a segunda quinzena de janeiro de 2003".
Dólar
A Net chegou a acertar com os credores, no meio do ano, uma forma de reequacionar sua dívida de curto prazo, mas tal acordo implicava a conversão de boa parte dos vencimentos para real ao dólar do dia. Com a desvalorização da moeda brasileira, essa operação ficou desvantajosa para a Net, que abortou a operação. No último relatório financeiro, referente ao terceiro trimestre, a empresa anunciou vencimentos de mais de R$ 300 milhões para o quarto trimestre, que não existiriam se a renegociação tivesse sido concluída. Na conference call realizado há duas semanas Leonardo Pereira, diretor financeiro da empresa, informou que desse total havia ainda R$ 200 milhões a serem pagos ou renegociados. Em entrevista a esse noticiário logo após a conference call, o executivo disse que a rolagem estava sendo feita caso a caso com os credores, mas reconhecia a dificuldade de boas condições para conseguir capital de giro. Pelo visto, essas condições ficaram tão ruins que a Net resolveu arcar com o ônus de assumir uma postura mais objetiva e eventualmente até parar de pagar os bancos, pelo menos nessas próximas semanas. O prazo que a Net estabeleceu para apresentar uma proposta (final de janeiro) coincide com o prazo das renegociações da Globopar, apesar de serem duas negociações paralelas. Ao todo, a Net Serviços apresentava em 30 de setembro um endividamento líquido equivalente a R$ 1,2 bilhão e R$ 118 milhões em caixa.
No mercado de TV paga, contudo, a decisão da Net foi encarada de forma positiva, pelo menos pelos programadores. Todos entendem que a empresa, mesmo em dia com os bancos, já não recebia nenhuma vantagem por isso, mas mesmo assim forçava-se a reescalonar seus pagamentos com os fornecedores para não ficar sem caixa. Agora a crise ficaria, pelo menos, "socializada", na visão destes fornecedores.
