Publicidade lida com novo espaço no streaming, pressão por diversidade além do discurso e maior conexão com o conteúdo 

O diretor Claudio Cinelli, da Brigitte Filmes (Foto: Divulgação)

A Brigitte Filmes está completando três anos de mercado. Inaugurada em abril de 2020, em meio à pandemia, a produtora já desenvolveu mais de 100 projetos desde então, somando trabalhos de entretenimento e publicidade. O diretor Claudio Cinelli – que, na produtora, comanda diretamente a área de publicidade – conversou com exclusividade com TELA VIVA e falou um pouco sobre os caminhos que o mercado deve seguir esse ano e as principais tendências para o setor. 

A situação neste primeiro trimestre é nova: além de uma redução significativa da pandemia, há a ainda recente mudança de governo, que apresenta um horizonte mais otimista para o audiovisual nacional e o setor cultural de modo geral. Mas, diante desse contexto, Cinelli enxerga cenários distintos. "Para o conteúdo, com certeza vai ser melhor, especialmente pelo fato de termos trocado o governo. Nos últimos anos, sofremos muito pela não prioridade que foi dada à cultura e, agora, temos um governo que se preocupa com questões que, a meu ver, são básicas. Então a tendência é que voltem a abrir novos editais e, assim, a mudança seja positiva. Em contrapartida, perdemos um pouco do dinheiro do streaming – pelas fusões e por problemas internos organizacionais deles. Então tem a parte boa, dos editais e de um governo preocupado com a gente, e a parte ruim, relacionada às mudanças nas plataformas", analisou. 

Já para a publicidade, ele acredita que esse primeiro semestre ainda é o momento de tatear e entender como serão os próximos meses. "Desde o último governo Lula, as mudanças presidenciais foram no susto, na verdade. A mudança para o Bolsonaro, do ponto de vista do mercado financeiro, era positiva, então o dinheiro continuou entrando. Mas agora é um outro tipo de mudança. Começo do ano é mais fraco mesmo, mas continuamos trabalhando. Os clientes estão observando, vendo para onde vai a economia, quanto teremos de investimento. Do lado da publicidade, esse ano ainda é uma incógnita, ao contrário do conteúdo, onde o jogo está mais definido. De qualquer forma, será muito mais fácil do que na pandemia. Estamos otimistas com as duas áreas, mas com essa ressalva de entender melhor como os clientes verão o novo governo e quanto de dinheiro vão colocar apostando no crescimento do país", concluiu. 

Produção publicitária encontra nova janela, caminhos e objetivos 

Recentemente, uma nova e importante janela surgiu para o mercado publicitário: o boom dos canais FAST somado à abertura de espaço para publicidade dentro de plataformas de streaming já consagradas, como a Netflix. "Eu já via o mercado caminhando para isso rapidamente. A publicidade sempre vai achar o caminho, onde as pessoas estão, essa é a função dela. Lá atrás, não tinha nada online. Quando surgiu o YouTube, a publicidade já entrou ali logo de cara. Então é isso que ela busca, o tentar chegar logo. Quanto mais pioneiro for o anunciante, melhor", observou Cinelli. "Não tenho dúvida de que, em qualquer mídia que surgir, a propaganda irá se embrenhar. Com as particularidades de cada uma, é claro. Por exemplo, os smartphones obrigaram a gente a começar a filmar na vertical. A gente vai se adaptando, descobrindo novas linguagens. A publicidade vai atrás de novos talentos para tentar se conectar com o público. Entende como é a audiência de cada meio. Ou seja: a publicidade vai continuar porque é muito rentável. E a Netflix vai ganhar muito dinheiro com esse negócio", enfatizou. 

Para além das novas janelas, outro movimento é uma mescla cada vez maior entre publicidade e conteúdo, em uma via de mão dupla. Por exemplo: na Brigitte, quem comanda a área de conteúdo é o Felipe Novaes, mas ele sempre apresenta projetos para clientes e agências, participando portanto das negociações para publicidade. "Vejo uma mistura das coisas. O conceito de 'branded content' já ficou datado. Hoje, é um jeito mais contemporâneo de fazer isso. O movimento passa por uma publicidade que, dentro dos canais, se torna mais interessante e aparece inserida na programação de forma inteligente, como parte da história. Ao mesmo tempo, é necessário apresentar ações para marcas vindas dos criativos do conteúdo, que pensam diferente dos criativos da publicidade. Isso já está se cruzando bastante e, no futuro, vai se cruzar o tempo todo", previu o diretor. "Falamos muito de inclusão e tem a ver com isso também: com mais cabeças pensando, e não um cara chefão dando todas as ideias e as pessoas seguindo. Acredito que não importa de onde vem a contribuição, se ela for boa. Tem a ver com uma mudança de pensamento e uma quebra de estruturas", acrescentou. 

Por fim, Cinelli destacou também uma mudança na mensagem que as marcas querem passar – algo que já vinha acontecendo e se intensificou durante a pandemia, quando o público passou a prestar mais atenção em tudo o que estava consumindo, valorizando cada vez mais marcas que tenham posicionamento e propósito com os quais ele se identifique. 

"Com a mudança de comportamento da sociedade, as marcas correram para continuar uma transformação que já vinha sendo feita. Agora, acho que vamos entrar em um novo momento, que é: não adianta comunicar e não fazer. Porque tem muita marca que se preocupou rapidamente em colocar diversidade de todos os tipos nos seus filmes mas, nos bastidores, nada havia mudado. Em reuniões, a gente sentia quando era só da boca pra fora. Se não for verdade o que ela está dizendo na propaganda, com certeza vai se dar mal. Já estamos entrando nesse momento e o próximo passo é essa transformação acontecendo cada vez mais. Mudanças não acontecem de uma hora para a outra, mas esse momento é muito mais interessante, isto é, de ir em busca de fazer na prática o que trazemos no discurso", finalizou. 

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