Omarson Costa afirma que mercado está só começando e projeta grandes mudanças tecnológicas

(Foto: Reprodução YouTube)

Omarson Costa é consultor e especialista em streaming e tem uma longa trajetória no mercado, com passagens por empresas como Netflix, Vivo e Roku. No novo episódio do "Café com Pixel", programa do canal do YouTube da TELA VIVA criado em parceria com o escritório CQS/FV Advogados, Costa analisa o cenário atual do mercado de streaming e faz projeções para o futuro. 

Embora o segmento de streaming não seja novo, o consultor acredita que esse mercado ainda esteja "na infância" e longe de estar saturado, como alguns especialistas afirmam. Ele ainda sugere a troca da expressão "guerra do streaming", frequentemente utilizada para descrever o cenário competitivo das plataformas, por "streaming party". O especialista analisou: "Existem umas quatro bilhões de pessoas conectadas à Internet. Ao mesmo tempo, a Netflix, que é a maior plataforma de streaming da atualidade, tem 260 milhões de assinantes globais. Ou seja, entre esse número de assinantes e o número de pessoas que têm acesso à Internet, existe um mercado gigante. O streaming está só começando". 

Ele também não acha que essa tal "guerra do streaming" tenha um vencedor, justamente porque o jogo está só começando. "Tem muita coisa acontecendo, muita novidade tecnológica aparecendo. Esse mercado ainda vai crescer muito e mudar completamente – as características do que assistimos, como assistimos, as interações que temos com a TV, o que é a televisão, as tecnologias disponíveis… Tudo isso vai mudar". E ainda que a Netflix seja hoje a maior plataforma global, não dá para dizer que ela está dominando o cenário porque existem outros gigantes "correndo por fora", como o YouTube, que essencialmente também faz parte desse segmento. "Se olharmos para o share time, as visualizações e o engajamento no YouTube no comparativo com os streamings tradicionais de conteúdo, ele está muito melhor. No final, quem vai ganhar essa briga é quem não gasta tanto com produção de conteúdo. E nesse sentido, o YouTube e o TikTok, que são 'user generation content', têm vantagem. Eles são mais saudáveis, financeiramente falando. Mas ainda tem muito mercado pela frente. É cedo para dizer quem ganhou ou perdeu". 

Uma preocupação que Costa levanta é em relação a quais serão os profissionais que estarão "tocando o barco". Ele explica: "Ninguém se formou em streaming. Não existe uma formação para isso, a gente aprendeu fazendo – pelo menos os pioneiros. Mas não é porque você comprou um carro de Fórmula 1 que automaticamente você se transforma em um piloto. Ou seja: não adianta querer ter uma plataforma ou investir em qualquer coisa dentro do mercado de streaming se não tiver as pessoas certas para fazer isso. E não existem tantas pessoas certas – afinal, o mercado está começando. O maior risco está aí. É um mercado novo. A própria Netflix já derrapou e corrigiu. Tem muita coisa a ser testada". 

Novas estratégias 

Outra empresa que ele citou em destaque é a Amazon, que recentemente adotou uma nova estratégia para a publicidade dentro da plataforma: todos os clientes do seu serviço de streaming, o Prime Video, nos Estados Unidos e Canadá, passaram a assistir anúncios entre os conteúdos. Quem não quiser vê-los, terá que pagar uma taxa extra de US$ 2,99 mensais. A novidade já está valendo nos dois territórios e, em breve, chegará também na França, Itália, Espanha, México e Austrália. "Estou atento aos números que essa estratégia vai gerar. Para mim é o lançamento recente mais promissor e inteligente. Vamos aguardar os resultados. É um modelo que já nasce com uma base de publicidade gigantesca. Analistas falam em dois, três bilhões de dólares gerados nesse novo negócio já no primeiro trimestre. É algo extremamente relevante". 

Streaming x TV aberta 

Segundo uma projeção pessoal do consultor, em meados de 2030 o streaming passará na frente da TV aberta na disputa pela verba publicitária no Brasil. "Isso significa que temos em torno de seis, sete anos para ver o dinheiro migrar de um lado para o outro. Por trás desse risco, entra a regulamentação. E algumas provocações: será que as emissoras abertas terão de abrir capital? Elas poderiam ter um capital estrangeiro maior do que têm hoje? São milhares de implicações. Elas passariam a discutir o viés do telejornalismo com outros países. Num universo de fake news, traz certos perigos e reflexões que devem ser consideradas", pontuou. 

E, pensando ainda nessa relação TV aberta e streaming, Costa falou sobre o mercado FAST, isto é, os canais de streaming que exibem conteúdo com propagandas, de forma 100% gratuita. Hoje, os players FAST trabalham com licenciamento de conteúdo – ainda não há nenhum desses canais produzindo conteúdo independente ou exclusivo. "Mas, no momento em que algum FAST começar a fazer isso, será literalmente uma TV aberta. Aí, eles entram em uma guerra direta com a TV aberta, já que terão grade de programação com conteúdo linear monetizado por publicidade. É a TV aberta que estamos acostumados, a mesma coisa. Isso também traz implicações regulatórias – e sempre ressalto que as leis, em geral, são atrasadas em relação a avanços tecnológicos. 

Regulação 

Aproveitando o tema da regulação, o consultor ainda apresentou sua visão em relação à iminente regulação do streaming. "Se eu tivesse um lugar à mesa nessa conversa, ia colocar: estamos regulando vídeo. Ponto. Seja Tiktok, YouTube, Netflix, Globoplay ou até TV aberta. Senão abre para discussões do tipo: cinema é uma coisa, TV é outra, um coleta Condecine, o outro não… Não dá para ser assim, para regular dessa maneira. Para mim, o primeiro passo é esquecer o meio, abstrair mesmo. Estamos falando de regular vídeo.  Lá fora, alguns países adotaram a regra de ter uma licença para operar como streaming. A Internet permite ir para qualquer lugar. Nada impede que uma plataforma lance um telejornal ao vivo, por exemplo. A Jovem Pan, por exemplo, é rádio, mas passa todos os dias no YouTube. Na Internet não tem barreira", argumentou. 

Nessa discussão, um dos pontos críticos é como tratar então os conteúdos gerados por usuários – como no YouTube ou no TikTok. Costa opinou: "As plataformas terão que ter a identificação. Para ter regulação, tem que ter controle. E para ter controle, tem que ter dado. De um jeito ou de outro, precisa ter o cadastro completo da pessoa – e ela vai responder por o que eventualmente vier a falar. Essa é minha análise, pensando exclusivamente do ponto de vista da tecnologia". 

Investimentos em esportes 

Um movimento expressivo das plataformas de streaming nos últimos anos foi o investimento em transmissões esportivas. Nesse ponto, o consultor observa que esporte é um custo crescente. "A conta empata ou às vezes até dá prejuízo para quem licencia. Investimento em esporte não é algo que você faz de maneira isolada. Quem pode continuar pagando essas contas a longo prazo são as big techs, como Amazon e Apple. Talvez a Netflix, que pegou um esporte que não é mainstream para testar", avaliou. 

"As plataformas vão continuar licenciando esporte, e isso entra direto na competição com a TV aberta. Se amanhã elas decidem pagar pela exclusividade – e algumas têm caixa para isso – a TV aberta fica sem. Acredito que em cinco, dez anos, as plataformas vão ditar esse relacionamento. Num horizonte mais largo, acho que as próprias ligas vão tomar conta disso. Como a Fórmula 1, que é independente nesse sentido. No futuro, com uma rede de Internet ainda mais rápida e uma estrutura mais organizada, nada impede que a FIFA, que hoje licencia a Copa do Mundo para a TV aberta, não precise mais fazer esse esforço. Ela é a dona do espetáculo, pode transmitir como quiser. Mas isso ainda não é viável economicamente. Num horizonte de dez anos, pode ser. As ligas serão independentes, o que trará ainda mais fragmentação. O desafio é eles concordarem em como vão dividir o dinheiro", completou. 

Perspectivas para o futuro

O cenário atual do streaming é caracterizado por um grande número de plataformas. Mas, para o especialista, isso não faz com que o negócio não seja sustentável. "Assim como tem mais de mil canais na TV, é natural que existam mais de 100 aplicativos de streaming", comparou. 

Ele explicou que o negócio do streaming tem três grandes centros de custos de investimentos: produção, distribuição e a própria plataforma e a tecnologia envolvida. "Você precisa equilibrar esses pratos. É viável, você pode ter apps voltados para nichos, e acredito que isso ainda vá se manter – mas não necessariamente serão negócios bilionários como as grandes plataformas de hoje. E olhando para o futuro, essas três caixinhas vão mudar muito", afirmou. "Na parte de conteúdo, teremos inteligência artificial, realidade alternativa e uma série de tecnologias que vão influenciar diretamente nessa produção e reduzirão os custos. Eventualmente serão criados personagens virtuais, por exemplo. As produções não precisarão mais de tantos atores e atrizes. Hoje, o boom do custo de produção veio da demanda de todo mundo querendo produzir séries originais e, do outro lado, pouco elenco. Isso inflaciona o mercado. Quando tem tecnologia para virtualizar tudo isso, os custos serão mais gerenciáveis", apontou. 

Já na parte de rede de distribuição, Costa reitera que, hoje, as transmissões ao vivo no streaming ainda não oferecem a mesma experiência da TV aberta – no caso de uma transmissão de esporte, por exemplo: "O 5G está aí, mas vai demorar alguns anos para massificar. Quando começar a chegar lá na frente, a tecnologia da Internet começa a ser viável coo experiência. A rede CDN vai evoluir e permitir esportes ao vivo. Por isso agora os esportes estão migrando cada vez mais para o streaming". Por fim, ele conclui: "Ter a tecnologia certa e executivos que dominam e conhecem o negócio e sabem como orquestrar tudo isso é o que vai fazer a diferença". 

Assista à entrevista na íntegra no canal do YouTube da TELA VIVA ou abaixo:

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