Internet ultrapassa barreiras e impacta diretamente no conteúdo produzido na TV

(Foto: Renata Moniz)

Todo ano a morte da televisão é anunciada. Mas, ao que tudo indica, esse dia ainda parece longe de virar realidade. O live streaming brilhou em eventos nos últimos anos, ao mesmo tempo em que a TV adaptou conteúdos "da internet" para compor suas grades. No painel "A Revolução do Live Streaming: Redefinindo a Televisão do Futuro", realizado na Vidcon nesta sexta, 7, especialistas discutiram os caminhos, as problemáticas e as possíveis soluções para essa fusão de TV e internet. 

Um dos participantes da mesa foi Felipe Castanhari, influenciador e criador de conteúdo especializado em ciência e história. Para ele, a TV obviamente não irá morrer, mas seguirá se transformando. "Assim como a própria internet está se transformando com o passar do tempo. A gente tenta acompanhar algoritmo, que é uma coisa completamente diferente de como era na TV. O Ibope identificava o que as pessoas gostavam de assistir, enquanto o algoritmo escolhe o que elas vão assistir. A maneira que o conteúdo é entregue mudou, ao mesmo tempo em que a produção de conteúdo sofreu transformações com a internet. Quando comecei, existiam seis ou sete canais. Hoje são inúmeros. O digital deu oportunidade e voz para muita gente", pontuou. 

"Agora, o algoritmo que mudou o conteúdo na internet está mudando também a TV. Ultrapassou essa barreira e está afetando também o tipo de conteúdo que é produzido na TV. Os conteúdos feitos tradicionalmente para a TV já são pensados para a internet também. Não tem como não pensar no digital quando se produz um programa de TV, pois é um caminho para ele continuar rendendo e chegando a outro tipo de audiência", completou. 

Eduardo Brandini é Diretor de Parcerias para TV, Filmes, Esportes e Jornalismo no YouTube Brasil e trouxe para a discussão um ponto importante, que já é bastante debatido no mercado desde o início da ascensão das plataformas de streaming: o fato de que, hoje, a concorrência não é mais entre canais, e sim entre tudo o que ocupa o tempo das pessoas: "No fim do dia, a gente concorre contra o tempo da pessoa. Por isso o maior desafio para o produtor de conteúdo ou para a plataforma no sentido de reter a audiência é que a concorrência é com as 24 horas do dia das pessoas. Mais do que entender a audiência, o desafio é ter essa compreensão. Então construir elos de comunicação é essencial. Por exemplo: eu perdi o 'MasterChef' na TV, mas sei onde ir para encontrar aquele conteúdo". 

Leandro Fiamenghi, do time de digital da Endemol Shine Brasil, acrescentou: "Quando falamos de alcançar outros públicos, nós como indústria e criadores temos o desafio de alcançar o máximo de pessoas possíveis, mas ao mesmo tempo às vezes não estamos enxergando algo que está acontecendo aqui do lado". Ele explicou essa visão contando sobre uma série de pequenos dramas inspirados em telenovelas que eles produziram no Kwai. "Uma plataforma nascendo de repente pode ter uma entrada muito boa com o público que não estava sendo atingido pelo meu conteúdo anterior. A série no Kwai foi importante para atingir um público que a gente não estava esperando. São oportunidades de negócio. Quando a gente vai produzir conteúdo, tem que estudar os hábitos de consumo das pessoas que estão naquela plataforma. Essa série foi produzida para seis marcas – e é uma parceria que tem dado frutos". 

Diversidade passa por cocriação  

Thamirys Marques, gerente de estratégia de conteúdo na Digital Favela, afirmou que a grande tendência quando falamos de creator economy é cocriação. E que ninguém melhor do que os criadores de conteúdo para conhecer verdadeiramente a comunidade. Por isso é importante trazê-los para a mesa e proporcionar essa troca. "Quando trazemos para esse recorte de classe e raça, e estamos falando de mais da metade da população, conseguimos ganhar em termos de narrativa. É uma galera que foi por muito tempo invisível no mercado e que ainda é invisibilizada. Quando fazemos as negociações com as marcas, elas querem pessoas pretas, 'mas não muito'. A mesma coisa com periféricos. Então como conseguimos de fato colocar essas pessoas no protagonismo e ouvir o que elas têm para falar verdadeiramente?", questionou. "Ainda não conseguimos chegar e ouvir muita gente. Quando trazemos essas pessoas para a mesa, aí sim estamos falando de outro nível de conteúdo, discussão e representatividade. E, no final, de lucro também", ressaltou. 

Para Brandini, falta ajudar na capacitação: "As plataformas dão espaço para que cada um produza do seu celular, mas não é todo mundo que tem um celular que pode produzir. É preciso o mínimo de capacitação para que eles concorram com a grande indústria e com as plataformas. São necessárias iniciativas para fomentar esse sistema".

As vantagens do live streaming 

A verdade é que o live streaming nada mais é do que TV ao vivo. "A TV nasceu assim, o ao vivo não é novidade", salientou Fiamenghi. "O ao vivo tem duas características importantes, e que representam bastante o trabalho do influenciador digital: a interação com o público, que é diversa e rápida, e ele sente que pode ser ouvido, e a autenticidade. O ao vivo não tem a salvaguarda da pós-produção. Aquele conteúdo que você está assistindo é aquele que está acontecendo. Num mundo em que estamos cheios de estímulos diversos e enganosos, reconhecer autenticidade e credibilidade em alguma coisa é bem importante – para quem está assistindo, para quem está produzindo e para as marcas associadas", destacou. 

Castanhari citou ainda a imprevisibilidade: "Isso atrai as pessoas. Qual a graça de assistir a um jogo gravado? Se alguma coisa importante aconteceu, você já ficou sabendo por outros meios. Na internet isso funciona bem também. É o 'tudo pode acontecer'. A falta de programação é muito atraente".  

O poder interferir também foi citado. "Do chat, pode vir um insight. Essa questão de se sentir pertencente à produção daquele conteúdo", concluiu Thamirys. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui