Produzindo longas e séries documentais, bigBonsai quer trabalhar também com seriados de ficção

A bigBonsai, produtora de São Paulo dos sócios Deborah Osborn, Felipe Briso e Gilberto Topczewski, atua na produção de conteúdo audiovisual tanto com projetos de entretenimento quanto com comunicação de marcas e vem cada vez mais ampliando seu portfólio com diferentes gêneros e formatos. Neste ano, a empresa lançou uma série de trabalhos: entre eles, o longa-metragem "O Livro dos Prazeres", baseado na obra de Clarice Lispector, com direção de Marcela Lordy; o podcast original Globoplay "Leila", com narração de Leandra Leal, que conta a história da tentativa de assassinato da atriz Leila Cravo nos anos 70; a série "Olhares Brasileiros", com Abílio Diniz, e "200+", sobre o desenvolvimento do Brasil nas áreas de economia, saúde, educação e sociedade desde a sua independência, ambas para a CNN Brasil; além de uma série de projetos de entretenimento para marcas, como "Receitas com Calabresa", com Dani Calabresa para a Perdigão, que foi lançado no Globoplay. E entre os projetos mais antigos, destaque para os documentários "O Barato de Iacanga", disponível na Netflix, e "Dominguinhos", de 2014. 

"Temos esse histórico, desde o início da produtora, há cerca de 15 anos, de combinar projetos de marca e de entretenimento. Os de entretenimento têm um ciclo bem longo, demoram mais para sair, mas neste ano 'pegamos tração', mantendo nossa trajetória de comunicação de marca mas também colocando no ar diversos projetos de entretenimento muito bacanas. 'O Livro dos Prazeres', por exemplo, ficou pronto durante a pandemia. É um filme muito bonito, que nos deixou muito felizes com o resultado. Fizemos também os projetos com a CNN e nosso primeiro podcast. Foi um ano que conseguimos conciliar tudo isso", contou Felipe Briso. "São todos projetos nos quais acreditamos muito e que trazem temas relevantes. Isso os une, independente de formato", completou Deborah Osborn. Os dois bateram um papo exclusivo com a TELA VIVA. 

Para os sócios, é essencial se apaixonar pelo projeto antes de topar seguir com ele. "Sabemos o trabalho que dá, o tempo que demora. Então ou a gente está dentro, compra a briga, realmente gosta da ideia e das pessoas que estão envolvidas, ou não funciona. Isso é um processo natural. Quando olhamos pra trás, vemos esse ponto em comum, isto é, nosso envolvimento quase visceral com cada projeto", definiu Briso. 

Apesar da carteira de projetos grandiosos, a estrutura da produtora é relativamente pequena: são 14 pessoas fixas, além dos profissionais que chegam exclusivamente para determinada obra. "Ao longo do tempo, começamos a atrair pessoas que entendem nosso trabalho e trazem projetos que fazem sentido para nós. Atualmente, estamos com diversos projetos que surgiram assim, isto é, por meio de pessoas que viram aqui um terreno fértil para desenvolverem determinadas ideias e temáticas. Muitas vezes são pessoas fazendo seu primeiro filme, ou que vieram de outras áreas, querem contar uma história e se associam à nossa expertise para desenvolve-la. Na parta de marcas, onde as demandas são mais específicas, temos um pool de diretores com os quais sempre trabalhamos", disse o produtor. 

Novos projetos 

Se 2022 foi um ano de estreias relevantes para a produtora, a tendência é que o próximo ano siga por esse mesmo caminho, uma vez que a atual lista de projetos em desenvolvimento é extensa. 

Entre eles, está a série documental "Acende a Luz", que será dirigida por Paula Sacchetta e Renan Flumian. São cinco episódios, com quatro personagens em cada um deles, que giram em torno da temática do sexo na terceira idade. A ideia é ter uma mostra representativa e diversa – com homens, mulheres, pessoas cis, trans, héteros, homossexuais, bissexuais – vindos das cinco regiões do Brasil. Sara Stopazzolli, pesquisadora do podcast "Leila", também integra a equipe. O projeto surgiu a partir de um curta de mesmo nome, da mesma dupla de diretores. "O curta despertou na Paula uma vontade de falar mais sobre esse assunto, então ela começou a pesquisar e a mapear esse universo. Ela trouxe para nós esse primeiro material e trabalhamos juntos no desenvolvimento. No primeiro semestre, durante o Rio2C, participamos de uma rodada de negócio e vendemos o projeto para o GNT. Agora, ele está em pré-produção. Será uma série documental de cinco episódios de meia hora cada. Os personagens irão jogar luz nesse assunto, que ainda é tabu, ao mesmo tempo que é tão encantador. Na época do lançamento do curta, ele fez bastante barulho, e esperamos que com a série também seja assim", contaram os sócios da bigBonsai. "É um projeto incentivado, via Artigo 3º, e estamos esperando a liberação do recurso. Idealmente, rodamos ainda este ano, em dezembro. É um projeto relevante e atual. As pessoas estão vivendo mais e continuam ativas, por isso é essencial falar sobre o sexo na terceira idade. Ainda tem muito preconceito em torno do assunto. Acredito que estamos no timing certo para falar disso, as pessoas estão mais preparadas", acrescentaram. 

Outro projeto na esteira é a segunda temporada de "Minha Vida é um Circo", para a HBO. A primeira, lançada em 2018 e disponível na HBO Max, com oito episódios de uma hora cada, acompanhou uma trupe de circo brasileira em uma viagem pela Argentina, Espanha, França, Holanda, México, Estados Unidos e Peru. Agora, o mesmo time vai para Ásia, com passagens já confirmadas pelo Japão, Índia e Mongólia. Essa continuação já estava prevista há alguns anos, mas a pandemia postergou sua realização. "É uma série documental com elementos de ficção. Atualmente, estamos em pré-produção, pesquisando e decidindo os outros destinos. A ideia é filmar no primeiro semestre de 2023", adiantaram.

A lista segue com dois documentários musicais. O primeiro deles é "Luiz Melodia – No Coração do Brasil", sobre o ator, cantor e compositor brasileiro de MPB, rock, blues, soul e samba, com direção de Alessandra Dorgan. O filme será exibido pelo canal Arte1 e traz em sua equipe a diretora musical Patrícia Palumbo e o montador Joaquim Castro, que já trabalhou anteriormente com a bigBonsai no filme do Dominguinhos. Narrado em primeira pessoa, ele parte de mais de 50 horas de material de arquivo. No momento, a história está sendo "costurada", em fase de montagem. O outro documentário é sobre o cantor e compositor Sérgio Sampaio, cujo nome ainda não fora divulgado, e que será dirigido por Hugo Moura. O projeto é uma coprodução com o Canal Brasil. "Estamos sentindo essa onda de documentários musicais que partem da própria obra, trazem essa história em primeira pessoa. Para esses dois, ainda estamos tentando captar mais recursos, para que possamos tocar os projetos do jeito que imaginamos", ressaltou Deborah. 

Apesar de já terem esses quatro grandes projetos em desenvolvimento, a bigBonsai ainda quer assumir uma nova empreitada: as séries de ficção. "Estamos focando muito nisso para os próximos anos. Temos projetos legais Estamos entendendo o que está acontecendo no mercado, especialmente com todas essas fusões das empresas. Mas queremos muito fazer", revelou a produtora. "Dentro do nosso portfólio, é algo que ainda não fizemos e, agora, queremos apostar. Entendemos que precisávamos antes de um amadurecimento nosso, dentro da própria produtora, para fazer isso com o nosso nível de qualidade e de relevância. Nossos quatro projetos atuais demandam bastante energia, mas tudo o que sobre está sendo dedicado para essas ideias de séries de ficção", complementou Briso. 

Relação com os players e os novos mercados 

O produtor comentou que nos últimos anos, dada a situação de redução de incentivos e todas as questões com a Ancine, a relação com os players ficou um pouco tumultuada – mas que, ainda assim, é uma relação positiva. Nesse sentido, ele destaca que a primeira série original nacional da Amazon Prime Video, por exemplo, foi uma produção da bigBonsai: "Tudo ou Nada – Seleção Brasileira". "Nós conhecemos muita gente, estamos no mercado há bastante tempo, então com certeza isso facilita. Por outro lado, acho que os players estão em uma situação delicada. O Brasil não é um país tão rico e, por isso, as pessoas não vão manter tantas assinaturas de streaming. Se você começa a olhar os números de assinantes, eles não são muito animadores. Nesse contexto, entendo que, do lado dos players, é difícil de arriscar mesmo. Eles acabam ficando mais conservadores do ponto de vista de conteúdo e optam pelo que sabem que 'dá certo'. A maioria das produções originais nacionais não arrisca muito. Até porque é um mercado ainda imaturo e muito concorrido. A tendência é que, com a maturação do mercado, as coisas comecem a ganhar outros rumos, com movimentações mais nichadas e os players investindo em determinados tipos de conteúdo. Aí começa a fazer mais sentido para a diversidade de produtoras que temos no país", analisou. 

Briso prosseguiu: "Gostamos muito dos projetos que temos na nossa carteira. Eles são bem recebidos pelos players, isso mantém a conversa quente. Mas os canais e plataformas ainda estão tateando para entender o que vai funcionar e fazer sentido em um mercado super competitivo. Nessa briga por assinantes, entendo que não é tão simples apostar em conteúdos com recortes diferentes, com esse olhar mais 'alternativo'. Ainda estamos num caminho de maturidade tanto por parte deles quanto da própria produção também. Precisa de maturidade dos dois lados para chegar a determinados lugares". 

Comunicação de marca e entretenimento como áreas complementares 

Desde a sua fundação, a bigBonsai desenvolve projetos publicitários e conteúdos de entretenimento e encontrou um equilíbrio interessante dentro dessa equação. "Nunca pensamos em ganhar dinheiro com a publicidade para gastar no entretenimento. Sempre acreditamos, na verdade, que nosso trabalho com as marcas precisa dessa oxigenação que ganhamos com projetos de entretenimento. As pessoas com quem a gente trabalha, a linguagem que desenvolvemos no entretenimento… Tudo isso oxigena nosso trabalho com comunicação de marcas. E ele, por sua vez, traz um olhar comercial – no bom sentido – para os nossos projetos de entretenimento. Com o filme 'O Livro dos Prazeres', por exemplo, podíamos ter optado por um lançamento 'cabeça', focando nesse lado de filme de arte. Mas é um projeto inspirado em Clarice Lispector, fala sobre empoderamento feminino e tantas coisas que convergiam que fazia mais sentido partir desse pensamento, juntar as pontas e fazer essa estreia ter mais impacto. Mesma coisa com o podcast 'Leila'. É importante pensar em como fazer a coisa 'acontecer' em um mundo com tanta informação. O trabalho com a publicidade ajuda nessa mentalidade de tornar nossos projetos de entretenimento mais comerciais, isto é, que façam algum tipo de barulho. Ter uma grande estrela no elenco, de forma isolada, não funciona mais. Tem que ter pertinência e relevância para dar ganchos, fazer a ideia circular e transformar isso em audiência para o projeto. Na nossa trajetória, é algo que sempre temos em mente", explicou Briso. 

E do outro lado, ele afirmou que estamos num momento de transformação da produção publicitária, em um movimento das marcas realmente investindo em projetos que são entretenimento – para além da publicidade por si só: "As marcas estão bancando isso. Saindo do universo dos influenciadores e fazendo projetos mais complexos. É um caminho sem volta. As pessoas não assistem mais propaganda como antes. O streaming, por exemplo, está abrindo para a publicidade, mas sabemos que não será para qualquer uma, especialmente não para aquele formato tradicional de televisão. Haverá um conteúdo de marca específico para esse tipo de canal, o que é muito animador. Eles vão querer coisas que façam sentido dentro da plataforma, que não polua o conteúdo. Existe um compromisso com credibilidade e qualidade". 

Visão para o futuro 

As expectativas da produtora são positivas. No que diz respeito aos fomentos, Briso avalia que não existe como não voltar: "Em todos os lugares do mundo existem mecanismos nesse sentido. Acordos, incentivos, coisas não ligadas a determinados governos, e sim que funcionam de forma independente. Acredito que no Brasil isso também tende a normalizar". E ele finaliza: "Por outro lado, temos olhado muito para projetos não-incentivados – com os players, TVs, existem outras formas de viabilizar e que também são interessantes. Cada projeto tem sua vocação. Nossa visão é otimista. Em um mundo com cada vez mais telas, a produção deve ficar cada vez mais diversificada. Dentro desse nicho, achamos que as coisas fazem sentidos. Estamos prontos para diferentes cenários". 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui