Publicidade
Início Newsletter (Tela Viva) “Regra 34”, de Julia Murat, estreia nos cinemas em 19 de janeiro

“Regra 34”, de Julia Murat, estreia nos cinemas em 19 de janeiro

Cena de "Regra 34", de Julia Murat (Foto: Amina Nogueira)

O filme brasileiro “Regra 34”, dirigido por Julia Murat, com distribuição no Brasil pela Imovision, será lançado nos cinemas na próxima quinta-feira, dia 19 de janeiro. “Regra 34” ganhou, em 2022, o Leopardo de Ouro, prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça; o prêmio de Melhor Direção de Ficção da Première Brasil, no Festival do Rio; e o Prêmio Especial do Júri na 43ª edição do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana. 

O longa ainda recebeu, no Panorama Coisa de Cinema, a Menção Honrosa Longa e Prêmio Especial do Júri APC, e no Festival de Cinema Iberoamericano Huelva, na Espanha, o Prêmio AAMMA. A protagonista de “Regra 34”, Sol Miranda, levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema Iberoamericano Huelva, na Espanha, o prêmio de Melhor Interpretação Festival Mix Brasil, além de uma menção especial no Festival des 3 Continents, realizado na França. O filme fez uma trajetória em mais de 30 festivais internacionais. 

“Regra 34” conta a história de Simone (Sol Miranda), uma jovem negra que acabou de ser aprovada na defensoria pública e pagou os estudos fazendo performance?online?de sexo como?camgirl. O?filme, uma produção das brasileiras Esquina Filmes e Bubbles Project (“Benzinho”, “Família Submersa”, “Pendular”), além da francesa Still Moving, tem distribuição da Imovision. ?Assista ao trailer: 

Trailer de “Regra 34”, de Julia Murat

“O ‘Regra 34’ começa como um filme sobre sexualidade e uma mulher descobrindo seu desejo – esse era o plot inicial. Quando comecei a pensar nele, isso sete anos atrás, foi se tornando evidente para mim que seria delicado falar desse assunto num contexto brasileiro sem contextualizar o que significa um desejo pela violência, as consequências disso no corpo de uma mulher e das pessoas que assistem. Entendi isso porque comecei a mostrar o argumento para as pessoas e recebi muitas devolutivas negativas – entre outras razões, porque era clara essa necessidade de contextualizar, fazer entender como é complicado falar de violência no corpo da mulher, principalmente no Brasil”, pontuou a diretora Julia Murat em coletiva de imprensa realizada nesta segunda, 9. 

“Quando comecei a entender esse viés, que passa por falar de política mesmo, mais sistêmica e estruturada, entrei no filme de verdade. No meio desse processo, Bolsonaro foi eleito. Minha primeira reação foi desistir de tudo, mas logo percebi que não fazia sentido desistir porque isso significaria abrir mão de uma luta por uma disputa narrativa que eu acreditava ser necessária. Nesse sentido, destaco ainda a importância das políticas públicas, que no âmbito da cultura devem existir não só para fomentar filmes economicamente, mas principalmente para filmes que ajudam a gente a construir uma identidade e pensar o mundo. Isso é política pública cultural. Meus filmes, por exemplo, precisam das políticas públicas. É delicado fazer filmes complexos e contraditórios, pensados não só pelo lado comercial. Esse filme, em relação aos outros que eu já fiz, foi mais fácil nesse sentido. Mas isso no começo do processo, quando as políticas ainda estavam em pleno funcionamento. Depois, ficou mais difícil, especialmente para finalizar o filme. A sorte foi que contamos com fundos internacionais”, explicou Julia.

A atriz Sol Miranda também falou sobre o projeto: “É um filme de debates transversais. Fala sobre sexualidade, gênero, raça e também sobre anti-punitivismo. É sobre um sistema que é violento sobretudo com os corpos pretos e favelados, e esse é um debate que ainda tem fragilidades e delicadezas. Temos no filme personagens que discutem na prática a ideia de se deixar levar pelo desejo, independente de qual seja o corpo com o qual vai compartilhar esse desejo. Esse momento de colocar o filme para o público é muito sensível. Não tem como olhar pra ele e não olhar pro contexto político – o que estávamos vivendo e o que estamos vivendo agora. O filme atravessa diversos tempos e faz a gente refletir”. Ela acrescentou: “O processo de construção da personagem foi muito rico. Fomos descobrindo aos poucos. Foi mais difícil pensar em chegar na personagem do que chegar nela propriamente. O processo foi rico e cuidadoso, e a equipe soube lidar com os nossos tempos de uma forma que ficou muito confortável. Os outros atores me deram a mão também. Foi uma construção coletiva, entre equipe, direção e elenco, em um processo bem desafiador, mas muito bonito”. 

Já o diretor assistente e responsável pelo casting, Gabriel Bortolini, salientou que o filme traz um tema que ainda é muito tabu no Brasil, que é o sexo. “Não é nem sobre pornografia, mas sim sexo em si. Falamos muito pouco sobre o assunto, sendo que somos um país que consome muito conteúdo relacionado a sexo, e mesmo assim não debatemos”, afirmou. “Minha entrada no projeto foi num lugar de questionamento, e aí também no lugar do protagonismo preto. Quando a Julia me apresentou o roteiro, terminei de ler e entendi que Simone era uma mulher preta. Em teoria não era, mas o que estava no roteiro puxava para isso. Nas conversas com o possível casting, buscamos bons atores, claro, mas que também fossem conscientes do filme que queríamos fazer, para que estivessem junto de nós na jornada de construção que ainda viria, e também por conta do debate político, das possibilidades que ainda podiam sair dessa caixinha que estávamos começando a abrir. O corpo da mulher preta é onde esse debate está mais acirrado, e o filme tinha essa preocupação. A contribuição da Sol, por exemplo, se deu dentro e fora das telas. O elenco em geral esteve muito aberto a novos entendimentos dentro de seus corpos artísticos. O filme foi se tornando mais político a cada momento e é impossível não ver isso na tela”. 

Premiações 

A diretora Julia Murat já tem um histórico de prêmios em outros festivais internacionais. Seu primeiro filme de ficção, “Histórias que Só Existem Quando São Lembradas” (2011), que estreou no Festival de Veneza, foi selecionado pelos festivais de Toronto, Rotterdam e San Sebastian, ganhando 39 prêmios internacionais, incluindo Melhor Filme em Abu Dhabi, Sofia e Lima. “Pendular” (2017) ganhou o Prêmio FIPRESCI, na mostra Panorama do Festival de Berlim, e foi selecionado por diversos festivais ao redor do mundo. Ela dirigiu também dois documentários, “Dia dos Pais”, que estreou no Cinéma du Reel, em 2008, e “Operações de Garantia da Lei e da Ordem” (2017), exibido no Festival de Cinema de Brasília, além de curtas e videoinstalações.  

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile