Em cenário altamente competitivo, plataformas de streaming investem em parcerias 

(Foto: Tela Viva)

A indústria de streaming de vídeo está em plena transformação – com novos players, hábitos de consumo, a consolidação da publicidade dentro das plataformas e o advento do FAST, entre outras novidades – e o ambiente tem se mostrado pulsante e desafiador. Para discutir temas como o posicionamento, as dificuldades, as tendências e os possíveis rumos desse meio inovador e cada vez mais convergente, executivos se reuniram nesta quinta-feira, dia 10 de agosto, no SET Expo 2023, no painel intitulado "Video Streaming: Desafios e oportunidades de um ambiente convergente". 

No debate, foi possível notar que, neste mercado altamente competitivo, as plataformas estão apostando forte nas parcerias: estavam presentes representantes da Fla TV, Globoplay e YouTube – empresas parceiras entre si. O fato de um time de futebol – o Flamengo, no caso – estar em um painel sobre streaming também evidencia outra tendência do mercado, que são os novos entrantes, ou seja, empresas que não têm o conteúdo de vídeo em seu core business, mas decidiram apostar no negócio. 

"Este mercado pujante permite que profissionais de mercados como o nosso possam fazer parte. O Flamengo olha para o vídeo e o streaming como uma máquina de negócio porque nós temos um conteúdo que só a gente tem – de bastidor, vestiário, dia a dia de treino. As plataformas podem até querer investir nesse tipo de conteúdo, mas o nosso acesso é exclusivo. Hoje, temos duas verticais: aberta, em parceria com o YouTube, e o modelo de assinatura, que surgiu em 2021. Hoje, temos a Fla TV+, que nasceu dentro de uma oportunidade pela transmissão do Campeonato Carioca. No ano passado, além da plataforma que oferecemos diretamente para o consumidor, firmamos também a parceria com o Globoplay, que tem sido um sucesso. São dois meses e meio no ar e bons resultados de audiência e assinatura, mostrando cada vez mais para o clube que é um negócio relevante. Produzimos quase 200 vídeos ao mês e a tendência é crescer para se tornar um verdadeiro conglomerado de mídia, para além de um clube de futebol", afirmou Eduardo Quintes, Gerente de Marketing do Flamengo. 

"Apesar da Fla TV – antigamente TV Fla – ter sido criada entre 2011 e 2012, enquanto modelo de negócio ainda estamos no início da jornada. Somos criadores de conteúdo dentro do nosso core business, que é o futebol, e por isso necessitamos de parceiros de tecnologia – ou seja, as plataformas – para chegar aos consumidores. Com o YouTube fez muito sentido, e hoje já temos patrocinadores específicos dentro do nosso canal na plataforma. Com o Globoplay, a grande vantagem é a comodidade para o nosso torcedor que já está conectado na plataforma. É um caminho legal enquanto negócio – e estamos abertos a novas parcerias", declarou. 

Parcerias são estratégias, mas trazem desafios tecnológicos 

No cenário atual, o Globoplay destaca-se por ser um produto complexo e abrangente, uma vez que reúne conteúdo de TV aberta, fechada, VOD, podcasts, jogos e transmissões ao vivo, entre outras coisas. Nos períodos de "Big Brother Brasil", a plataforma ainda enfrenta um desafio que nenhuma outra tem, que é a migração de milhões de pessoas da grade aberta linear para o ambiente do streaming no mesmo segundo. "Mas o fato de sermos esse produto complexo e abrangente nos dá um potencial muito grande de competição no mercado. Isso nos diferencia. Estamos tentando tornar um produto cada vez mais resiliente e robusto para suportar tudo isso – mas, ao mesmo tempo, deixar a experiência fluida para o usuário entender tudo o que ele encontra dentro da nossa plataforma. É um mar de oportunidades e desafios – entre eles, o da comunicação", disse Roberta Luzio, Gerente de Produto do Globoplay. 

A executiva também ressaltou essa questão das parcerias: "Temos nossa criação de conteúdo forte, que está no nosso core, mas também estamos no posicionando como distribuidor, trazendo parceiros com o intuito de minimizar a competição – afinal, é um mercado acirrado, e dentro dessa competição, parcerias são estratégicas. Mas tem que fazer sentido para o usuário. Como produto, visamos a complementariedade. Na parte tecnológica, existem desafios variáveis. Temos parceiros que colocam os conteúdos deles na nossa plataforma, como a Fla TV, e aí precisamos fazer adaptações para trazer esse parceiro para dentro do nosso ecossistema – afinal, é a nossa plataforma". O Globoplay também trabalha com um outro tipo de parceria: com a Disney+, por exemplo, o conteúdo não é colocado no catálogo – quando o consumidor escolhe assistir, é direcionado para a outra plataforma. "São modelos complementares, que funcionam de acordo com o objetivo de cada parceria. Mas ainda existem esses desafios tecnológicos, que têm um norte de sustentabilidade e escala dentro do mercado", pontuou. 

Foco em proteção de propriedade intelectual

Phillipe Carrasco, Lead of Film, TV e Primetime Partnerships do YouTube, revelou que muita coisa mudou na empresa nos últimos anos, mas que as bases que consolidam o YouTube como plataforma permanecem. São elas: o YouTube não tem conteúdo, o conteúdo é do criador ou do parceiro, em acordos que seguem o modelo de revenue share; a proteção de propriedade intelectual, sendo a pirataria uma preocupação constante da plataforma, a fim de garantir que os conteúdos possam ser vistos e monetizados adequadamente; e a monetização alternativa, que permite que parceiros de entretenimento e companhias de mídia possam vendem seus inventários dentro do YouTube, indo além do revenue share. "Essa é a base do YouTube como modelo de distribuição. A gente opera com a distribuição e o parceiro com o conteúdo e com a maneira que ele alcançará a audiência", explicou. 

Como muitas outras empresas da indústria na atualidade, o YouTube também passa pelo desafio de comunicar e se posicionar – segundo Carrasco, porque cada pessoa consome a plataforma de um jeito diferente, e às vezes a mesma pessoa consome de maneiras diferentes ao longo do dia. Para os próximos cinco anos, o YouTube pretende fortalecer quatro verticais: AVOD, que é a base da plataforma; Shorts, a nova categoria de vídeos verticais que a empresa quer fortalecer a distribuição e a monetização; Podcasts, que são conteúdos do tipo long form; e o Prime Time, modelo de streaming pago, um SVOD dentro dos canais de poucos parceiros, somente media companies – esse é novidade, que lá fora já funciona com Paramount e HBO. A vertical de AVOD e de Prime Time são focadas em TV conectada, enquanto Shorts e Podcasts, em mobile. 

"Parcerias são desafiadoras para todo serviço de streaming. Precisamos entender se todos os envolvidos estão ganhando mesmo. Temos uma visão pragmática nesse sentido: com nossos parceiros de mídia e entretenimento, abrimos muito a conversa. Os contratos demoram meses para serem fechados porque somos flexíveis nessa questão do que faz sentido para eles e o que faz sentido para nós. Isso me dá orgulho: uma empresa de escala global sentar e 'tropicalizar' os negócios. Nosso approach é entender as necessidades e abrir nossos modelos de negócio. É um modelo tailor made, que envolve abrir a monetização e apresentar diferentes possibilidades de comercialização. Se mesmo assim não fizer sentido, não fechamos a parceria", contou Carrasco. 

"Além disso, o Brasil tem questões de mercado, audiência e legislação que diferem do mundo inteiro. Parcerias que dão certo hoje são aquelas com empresas que têm um departamento legal muito bem atualizado com o que está acontecendo no mundo e com foco em proteção de propriedade intelectual: não tem nada mais importante no nosso mercado", enfatizou. 

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