Comissão do Senado aprova Christian de Castro para Ancine; produtor defende maior capacitação econômica do setor

Christian de Castro é sabatinado pela Comissão de Educação do Senado para a diretoria da Ancine

A Comissão de Educação do Senado sabatinou nesta terça, dia 10, o produtor Christian de Castro para ocupar uma das vagas abertas na diretoria da Ancine. O nome foi aprovado com 19 votos favoráveis, por unanimidade. A expectativa é que o nome seja apreciado em plenário na primeira reunião deliberativa, possivelmente ainda nesta terça. Castro ocupará a vaga deixada por Manoel Rangel.

Castro fez, ao longo da sabatina, um retrospecto de sua carreira, destacando us experiência na gestão de investimentos e fundos para o setor audiovisual. Castro mostrou forte alinhamento com o discurso do ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão, com forte ênfase na necessidade de desburocratização e no papel econômico do setor audiovisual.

Castro colocou alguns pontos como prioridades para a a Ancine:

1) Atuação da agência como mediadora, induzindo o desenvolvimento em parceria com o Conselho Superior de Cinema, Secretaria do Audiovisual e comitê gestor do Fundo Setorial do Audiovisual;

2) Desburocratização: dar mais eficiência e eficácia em tudo o que a Ancine realiza, com simplificação e revisão das Instruções Normativas e a desoneração das exigências e intervenções ao setor, sobretudo dando mais agilidade para o FSA . "Dos R$ 3,7 bilhões destinados, apenas R$ 1,4 bilhão foi efetivamente aplicado", lembrou Christian de Castro.

3) Sustentabilidade e equilíbrio. Segundo Castro, o mercado tem uma cadeia de valor ampla, do desenvolvimento ao consumo, passando pela produção e distribuição, além dos setores de infraestrutura e tecnologia. "Todos os setores têm possibilidade de receita, mas para ter sustentabilidade precisam estreitar relações de público com o consumidor, e a Ancine deve ampliar o escopo e aperfeiçoar o fomento, reduzindo o grau de dependência, adequando-se aos modelos de negócio existentes", disse. Para ele, é possível tornar o Brasil em um centro relevante global de produção audiovisual.

4) Regionalização: Castro lembrou que o Nordeste foi a região que mais consumiu filmes brasileiros, mas isso não se refletiu no campo da produção. "Sou um produtor do Centro-Oeste e sei das barreiras. É preciso ampliar e aprimorar os programas existentes. A capacitação é fundamental e o fortalecimento dos elos da cadeia". Segundo ele, essa é a principal ação de fortalecimento, além de convênios com universidades e fortalecimentos dos escritórios regionais da Ancine.

Melhor momento

Christian de Castro disse que a Ancine e audiovisual vivem o melhor cenário possível, apesar da crise, com crescimento de 9% ao ano impulsionado pelas obras seriadas e não-seriadas de TV e aumento do cinema nas telas. "É indiscutível a importância estratégica do setor". Segundo Castro, as conquistas são evidentes e os números são muito relevantes, com o audiovisual chegando a 0,48% do PIB (maior do que a farmacêutica).

Ao ser questionado pelo senador Roberto Muniz (PP/BA) sobre como via a concorrência com gigantes globais de Internet, Christian de Castro lembrou que a  economia audiovisual passou por uma grande transformação nos últimos anos, e que "quem já estava estabelecido tem mais dificuldade de se adaptar à nova realidade". Para ele, o Brasil, como o segundo maior mercado para Netflix e YouTube, tem uma oportunidade que precisa ser aproveitada.

Sobre a regulamentação do vídeo-sob-demanda, ele lembrou que o Conselho Superior de Cinema ainda está analisando a melhor forma de conduzir essa questão, justamente porque os modelos de negócio são diferentes. "Mas precisamos trazer essa turma para jogar, afinal eles querem estar no Brasil", disse Castro. "Temos o Netflix, que saiu na frente e correu o risco. Mas outros ainda não chegaram, como o YouTube Red, a Amazon chegou agora. Como trabalhar para trazer essa turma para dentro do mercado? Criar uma Condecine para esse setor? Precisamos trazer os modelos de negócio para ver como eles se comportam e depois partir para uma regulação mais profunda. Mas primeiro precisa trazer eles para jogar aqui", afirmou. A primeira reunião do GT foi na quinta passada e o primeiro esboço deve ser apresentado no final de novembro.

Ele foi questionado ainda sobre a questão da pirataria de conteúdos e lembrou que hoje os bens audiovisuais estão entre as maiores vítimas. "O que temos olhado com atenção é a pirataria digital por streaming de conteúdo por caixinhas importadas da China. Isso tem tirado do mercado de TV paga clientes, pois o mercado não cresce mas os piratas crescem de maneira muito forte". Para ele, além da atuação do grupo de trabalho que foi criado para acompanhar a questão e das ações de repressão previstas em lei, é necessário um forte trabalho de conscientização e educação sobre propriedade intelectual.

Conquistas histórica

Castro reconheceu e elogiou todas as conquistas do setor desde a Lei do Audiovisual, mas sobretudo a partir de 2001 com a criação da Ancine. "Os avanços da política são conquistas da sociedade e é possível avançar, sem burocracia, com diálogo e tecnologia, para a participação de todos", disse o sabatinado. Ele elogiou a gestão de Gustavo Dahl e Manoel Rangel à frente da agência. Aliás, durante a sabatina, o senador Lindbergh Faria (PT/RJ) disse que a indicação de Castro era um dos raros momento de alinhamento entre oposição e governo e que a bancada da oposição votaria favoravelmente. Lindbergh deu a entender que Manoel Rangel, ex-presidente da Ancine, havia manifestado o apoio ao nome do produtor.

Um dos aspectos mais questionados senadores foi sobre a regionalização da produção. Nesse aspecto, Christian de Castro reiterou a necessidade de fortalecimento da atuação regional da Ancine com fortalecimento dos escritórios. Ele disse também que é importante encontrar, para cada região, as vocações e talentos específicos, o que passa por um processo de capacitação e estímulo. "É preciso capacitar os empreendedores criativos, olhando as vocações locais. Cada região pode ter a sua capacitação e vocação. O empreendedor brasileiro em geral é mal capacitado, ainda mais no campo criativo, em que os produtos são sempre diferentes". Para ele, é preciso entender, aproximar a estruturação financeira da área criativa, e usar o Fundo Setorial e os mecanismos de fomento para isso.

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