Como fazer o brasileiro retornar às salas de cinema ainda perturba o setor audiovisual 

Vinicius Clay, Ana Paula Sousa (mediadora), Mauricio Hirata e Glaucia Camargos (Foto: Divulgação)

O cinema brasileiro no pós-pandemia teve uma queda significativa de market share: em 2021, o número foi de 1,7%; em 2022, aumentou um pouco, chegando a 4,2% – mesmo com o lançamento de cerca de 200 longas brasileiros inéditos. Além disso, nenhum título alcançou um milhão de espectadores desde a pandemia. O tema veio à tona durante o painel "Desafios e propostas para as políticas de fomento para o audiovisual carioca" nesta quinta-feira, dia 13 de abril, durante a programação do Rio2C 2023. 

"A regulação do mercado é uma necessidade. Hoje, o Brasil está abandonado, não há regulação em nenhuma instância. E somos um país que produz muito, e muito bem. Mercado é exibir nossos conteúdos para as pessoas, atingir o povo. É levar a imagem brasileira para o povo brasileiro. Hoje, temos 3206 salas de cinema ativas. Somente 7% dos municípios têm sala de cinema. É um mercado deprimido – e acho que isso não vai mudar. É uma situação dada. O México, só para compararmos, tem o triplo. O mercado está um quintal – por isso, quando chega um blockbuster americano, todas as salas colocam o mesmo filme. Não tem ninguém impedindo de fazer isso. Não tem como ter marketshare, presença de mercado e formação de plateia se o seu produto não chega na ponta final. É uma questão grave. A política pública não pode financiar o produto e não garantir acesso ao mercado", destacou a produtora Glaucia Camargos. 

Para Mauricio Hirata, diretor de investimentos da RioFilme, um dos efeitos mais nocivos da digitalização é a mudança agressiva do hábito do público com as salas de cinema, que ele considera que, no Brasil, foi ainda mais impactante. "A pandemia só agravou um problema que já existia. A experiência cinematográfica se tornou uma coisa muito particular, que, para o público, só funciona para um tipo específico de filme. Tudo que fugir um pouco, não é cinema. Vemos diretores com carreiras longas fazendo filmes que não performam bem porque o gosto das pessoas parece ter se cristalizado. Do ponto de vista da iniciativa pública, é difícil resolver. Não é papel do poder público dizer que tipo de filme tem que ser feito, e sim da produção independente. É preciso ir atrás de dados, informações, pesquisas que ofereçam aos produtores materiais para instrumentalizá-los, para descobrirem que novos filmes são esses que vão conseguir atrair o público", sugeriu. 

O diretor defendeu ainda que seja incentivada a volta dos investimentos de distribuição em cinema: "Hoje, poucos distribuidores enxergam a sala de cinema como uma fonte de recursos. O modelo de lançamento em cinema se confundiu com o pré-licenciamento para streaming de uma forma prejudicial. O jogo inverteu. Cinema virou vitrine simbólica. Precisamos encontrar maneiras de que esse investimento privado retorne – e não é só substituir por investimento público. É mitigar os riscos para que voltem a investir. É um desafio que precisa ser dialogado com o mercado". 

Hirata também falou sobre estimular o cidadão a voltar ao cinema por meio de festivais, mostras, eventos e investimentos em programas para dar acesso a pessoas de baixa renda, entre outras ações que tenham esse objetivo principal de reconstruir o hábito. "É um problema complexo, que precisa ser abordado em suas várias pontas da cadeia. E o debate é urgente, especialmente neste momento em que temos tantas possibilidades de investimento", pontuou. 

Prioridade para a Ancine 

Vinicius Clay, membro da Diretora Colegiada da Ancine, garantiu que a agência continua acreditando no cinema. "Vemos o cinema como principal vitrine, uma janela para difusão e rentabilidade dos produtores. Achamos que devemos, sim, ampliar o número de salas de cinema", ressaltou. "Houve mesmo uma mudança de hábito, mas nossa percepção é de que o cinema não vai acabar. Precisamos combinar investimento e regulação porque os pressupostos que serviram para a implantação da cota de tela lá atrás se mantém, isto é, grandes conglomerados ainda controlam a distribuição de conteúdo e, assim, afetam a exibição de conteúdo brasileiro", completou. 

Nesse sentido, Clay declarou que a Ancine não abrirá mão de defender a cota de tela em todas as janelas. "Mas isso não é suficiente. Devemos garantir a continuidade de investimentos para poder contar com produções de alto valor agregado. É isso que atrai o espectador para ter uma experiência diferenciada. Além disso, investimentos em distribuição e divulgação são fundamentais para garantir a difusão dos filmes brasileiros", concluiu. 

3 COMENTÁRIOS

  1. Neves está coberto de razão. Está me parece do que os especialistas ou estão míopes ou não querem encarar a realidade de um ingresso custar na média uns R$40. Isso é mais que o dobro da média das assinaturas de streaming.

  2. Não interessa ingresso barato o tempo das salas de cinema acabou,eu já cheguei a assistir dois filmes em cinemas diferentes no mesmo dia.
    As pessoas estão perdidas no passado,hoje com a evolução grandiosa da internet,aliada a falta de segurança,e outros detalhes,as TVs,com telas de 70,80 polegadas poucos querem ir ao cinema.vivemos outro tempo.

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