Com mais recursos financeiros, desafio do fomento nacional é pensar em diferentes formas de financiamento 

Painel “Desafios e propostas para as políticas de fomento para o audiovisual carioca” no Rio2C (Foto: Divulgação)

Executivos do setor audiovisual nacional se reuniram no painel "Desafios e propostas para as políticas de fomento para o audiovisual carioca" nesta quinta-feira, dia 13 de abril, durante a programação do Rio2C 2023. As principais reflexões do debate giraram em torno de como aproveitar o momento atual, com maiores recursos financeiros para a atividade, para pensar em novas formas de financiamento capazes de lidar com os novos modelos que se colocam. 

Mauricio Hirata, diretor de investimentos da RioFilme, ressaltou que, neste ano, o audiovisual nacional contará com um investimento mínimo na casa dos R$ 4 bilhões, somando as leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc e valores do Fundo Setorial do Audiovisual. "É certamente um recorde na história do país. Agora, precisamos pensar em maneiras desse investimento não se perder. É uma oportunidade enorme de darmos um salto no nosso mercado – e ela não pode ser perdida por fazer uma distribuição não planejada desses recursos", reforçou. Ele contextualizou que a digitalização mudou completamente o cenário. Se compararmos com o período em que a Lei do SeAC foi criada, a situação que se apresenta hoje é completamente diferente. "O cenário era mais organizado, isto é, as lacunas e os gargalos eram mais claros. Hoje, é mais difícil de entender. A digitalização por um lado é boa, porque abre a possibilidade de muita gente produzir audiovisual com qualidade. Por outro, ela desmontou um sistema de distribuição em janelas que era a base dos modelos de negócio do audiovisual. Um dos principais desafios hoje é a monetização de conteúdos, saber como ter retorno quando a comercialização se dá em uma única janela. As salas de cinema me parecem estratégicas nesse sentido, porque permanecem como um modelo que tem espaço de dinamização. As janelas de streaming têm complexidade maior", apontou. 

A produtora Glaucia Camargos completou: "O Brasil tem um mercado cada vez mais interessante mas, de fato, o digital desorganizou tudo. Antigamente o modelo de negócio era claro, estabelecido, e foi assim durante anos. Hoje é desmantelado. Isso é ruim, porque faz com que os recursos sejam mal aproveitados. Não adianta dar dinheiro para produzir o filme se ele não terá espaço para ser visto". 

Vinicius Clay, membro da Diretora Colegiada da Ancine, participou da conversa e afirmou que a agência está buscando mais eficiência na aplicação de recursos para dar conta do desafio de garantir que os recursos cheguem para as empresas produtoras e de forma breve. "Queremos que nossa operação seja mais célere em ações de fomento. Nos próximos dias, colocaremos duas Instruções Normativas em consulta pública que têm justamente o objetivo de reduzir a carga burocrática e tornar mais eficiente a atuação da agência", adiantou. "Nesse momento, há uma discussão junto ao TCU para que a metodologia de prestação de contas seja modificada, com foco em gestão de riscos, cumprimento dos objetos e análise das despesas. Esperamos pacificar a situação e dar um tratamento específico para projetos que consideramos do passivo, mais antigos, que têm dificuldades de prestar contas. Vamos em breve resolver essa situação", anunciou. 

O diretor também falou sobre a intenção de se produzir um efetivo plano de diretrizes e metas pactuado entre o setor público e a iniciativa privada: "Para avaliarmos se estamos sendo eficientes na aplicação de recursos, precisamos avançar em indicadores que possam mensurar a ação do poder público. Esse plano é fundamental para termos um norte de onde pretendemos chegar e alcançar com esse aporte de recursos, que este ano é extremamente significativo, e chega a ser cinco vezes maior que o aporte que, até então, era o maior da história. Esse aporte vem para fazer uma reparação histórica, porque são recursos do próprio setor, do FSA, que foram contingenciados ao longo do tempo. Agora, é preciso ter clareza sobre qual a melhor forma de aplicação". 

Para Hirata, a desafiadora tarefa de pensar em novas formas de trabalhar em cima desse fomento tem alguns caminhos, como resolver questões de infraestrutura, formação, levar profissionais para competir fora e estimular o investimento privado. "E o debate da internacionalização, porque hoje tem essa possibilidade de circulação em outros países", acrescentou. "O fomento precisa atuar nas falhas de mercado, como a questão da propriedade intelectual, a diversidade de regiões e falas – de negros, mulheres, trans, povos originários – e diversidades estéticas. Esses são alguns dos papéis que o fomento precisa cumprir", elencou. 

Estímulo dos Estados 

Por fim, o executivo, do ponto de vista da RioFilme, falou sobre a importância que instituições como ela têm no sentido de complementar o trabalho das instituições federais: "Precisamos garantir que realizadores do Rio de Janeiro tenham melhores condições de trabalhar, atuando justamente nos pontos onde o federal não atua. Tem vocações que só as entidades locais conhecem e entendem. É um papel relevante a cumprir, de ser o braço de realização e aplicação de recursos, com um olhar fino para aquela realidade e os desafios que o Governo Federal não consegue ter com eficiência", disse Hirata. 

Glaucia acrescentou: "Não podemos ficar atrelados aos investimentos para o Brasil como um todo. Os Estados precisam criar seu próprio dinheiro – nos Estados Unidos eles fazem isso muito bem. Aqui, temos ações importantes da RioFilme e da Spcine. Os Estados devem, por exemplo, estimular o curta-metragista local. Dinheiro para desenvolvimento para curta-metragem faz falta, e o curta também contribui para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro".  

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