Paris Filmes quer rodar quatro longas por ano e aposta na retomada do cinema nacional a partir do segundo semestre 

Marcio Fraccaroli, diretor geral da Paris Filmes (Foto: Divulgação)

Os planos da Paris Filmes para 2023 consistem na retomada do plano de negócio da empresa de rodar no mínimo quatro longas por ano. A companhia, que começou como distribuidora e, mais tarde, se tornou também produtora, tem como foco a sala de cinema. "Como todo mundo, estávamos atrasados por conta de tudo o que aconteceu nos últimos anos. Mas continuamos entendendo que o cinema é o melhor lugar para viver as experiências das histórias que a gente desenvolve. Somos mais focados nesse cinema comercial e acreditamos muito nele, nunca deixamos de acreditar. E ele vai retomar. O cinema nacional sofreu muito com os problemas econômicos do país – historicamente, ele só cresce quando a economia vai bem, por isso precisa de outro bom momento econômico para crescer outra vez. Além disso, estávamos sob um ataque nunca visto antes na história, contra nossos autores, atores e produtores. Com a mudança de governo, isso muda. Acho que teremos um ano de recuperação", declarou Marcio Fraccaroli, diretor-geral da Paris Filmes, em um papo exclusivo com TELA VIVA. 

O executivo defende a exibição de conteúdo audiovisual nos cinemas e acredita que o serviço de streaming em breve irá "bater no teto". Ele explica: "As pessoas vão querer viver suas experiências. O mercado está maduro e se organizando com as janelas, o consumidor já está entendendo que alguns títulos devem ser vistos no cinema. No momento, vemos esse lugar de rearranjo, o que nos motiva a seguir produzindo para o cinema". E avalia: "O streaming, de forma orgânica, sequestrou o cinema nacional, que estava sem verba pública e paralisado também por conta da pandemia. Nesse sentido, o streaming sequestrou todos os projetos que estavam sendo produzidos. Por isso, é o momento de organizarmos novamente o cinema nacional, entender como vamos contar nossas histórias, qual será a evolução dessas histórias. Precisamos nos descolar do que estamos fabricando para as plataformas. O que é feito para plataforma tem que ser diferente do que é feito para o cinema, onde o conteúdo é mais profundo". 

Fraccaroli ainda ressalta: "A única vantagem que o streaming deu para o cinema nacional é que, agora, os produtores estão mais preparados. Ao longo desses anos, trabalhar para as plataformas fez com que os produtores adquirissem mais capacidade técnica". 

Reencontro com a audiência e com o poder público  

O diretor opina que o cinema nacional está carente de uma grande estreia. "Infelizmente perdemos o Paulo Gustavo, que fazia produtos nacionais e conseguia fazer dinheiro em qualquer lugar do território brasileiro. Era o nosso 'Avatar'. Precisamos conquistar de novo o público do cinema nacional". Pensando nisso, ele afirma que é o momento de unir, encontrar todos os agentes de mercado e fazer campanhas conjuntas em prol da conquista do público. Acredita ainda que seja necessário um encontro do setor com a nova Ministra da Cultura para que juntos, criem estratégias para reencontrar a audiência e explicar o trabalho que os agentes dessa cadeia executam: "Precisamos convidar as pessoas a viverem essa experiência. Mais do que ações promocionais, precisamos de reflexões por parte dos produtores a respeito de que histórias teremos como experiência na tela, e entender, como país, como reconquistamos o hábito de ir assistir cinema nacional. Respeito o streaming, claro, que faz um bom trabalho. Mas é outra linguagem, outro serviço, outra experiência. Queremos encontrar uma identidade. Tem muita gente talentosa fazendo esse trabalho, então sei que vamos achar esse caminho". 

Para ele, cabe também à Ancine procurar e orientar sobre o que o público deseja. "Nos dar um norte", disse. "Estou com um bom olhar com o novo Ministério. Acho que vão apontar caminhos. Precisamos reconquistar um lugar de respeito, que as pessoas olhem para o cinema nacional como valor, motivo de orgulho para o Brasil. Tenho muita esperança nessa retomada e acho que vamos ver isso acontecendo principalmente a partir do segundo semestre de 2023 e, mais ainda, em 2024, quando estaremos em plena expansão. E vamos entrar um ativo como foi a comédia de Paulo Gustavo", completou. 

O executivo falou ainda sobre a importância da cota de tela – mecanismo que ele defende que exista não só no cinema, mas também na TV paga e nos serviços de streaming. "As cotas devem ser formuladas com toda delicadeza e certeza não devemos impor, e sim chamar todos os agentes do setor para negociar. Não é fazer como o Governo anterior, que radicalizava. Mas é importante que tenhamos garantida a distribuição do audiovisual nacional, até para podermos imprimir uma cultura cinematográfica no país. É um abuso os lançamentos internacionais do jeito que eles acontecem. A gente cria uma sociedade burra quando só assistimos uma coisa. Já fizemos essa regulação no passado e fomos vitoriosos, tanto no próprio cinema quanto na TV. Se vamos investir em produção, precisamos garantir a exibição".  

A comédia brasileira pós Paulo Gustavo 

Fraccaroli enxerga que a comédia nacional começou a mudar conforme as obras de Paulo Gustavo foram chegando aos cinemas – e que, assim, o artista foi apontando um novo caminho para o gênero no Brasil: "Ele fazia uma comédia que tocava os sentimentos das pessoas. Acho que a evolução da comédia é que ela terá de tocar as pessoas de alguma forma, ter um objetivo. Vejo nossa comédia indo por dois caminhos: esse, da emoção, do lado dramático, de sentimento, ou a comédia de ação, com todo um trabalho corporal, meio Jackie Chan. Acho que a comédia que tem a piada pela piada perdeu o timing. Não tem mais espaço no cinema". 

E é justamente pensando nessa comédia com o tom emocional que a Paris se prepara para lançar nos cinemas, em janeiro de 2024, o filme "Minha Irmã e Eu". Dirigido por Susana Garcia ("Minha Mãe é uma Peça 3", "Minha Vida em Marte"), o longa conta a história das irmãs Mirian (Ingrid Guimarães) e Mirelly (Tatá Werneck), que nasceram Rio Verde, no interior de Goiás. Elas não realizaram o sonho da mãe, Dona Márcia (Arlete Salles), de se tornarem uma dupla sertaneja e, além de terem seguido caminhos opostos, vivem às turras.

Mirian nunca saiu de sua cidade e se acostumou à rotina pacata do interior, morando com o marido, Jayme, os filhos adolescentes, Jayminho e Marcelly, e a mãe, Dona Márcia. Já Mirelly partiu cedo para uma vida glamurosa no Rio de Janeiro e toda a família acompanha pelas redes sociais seu sucesso, sempre rodeada de amigos famosos e morando em frente à praia, no Leblon. O que eles não sabem é que é tudo fachada: na verdade, ela vive num conjugado, está com todas as contas atrasadas e passa perrengues fazendo bicos e cuidando dos animais de estimação das celebridades. Quando Dona Márcia desaparece, elas têm de deixar de lado as diferenças e se unir para procurá-la, numa viagem que pode mudar suas vidas. O filme tem produção da Paris Entretenimento e coprodução da Globo Filmes e do Telecine. Os roteiros são assinados por roteiro de Ingrid Guimarães, Verônica Debom, Célio Porto, Susana Garcia, Leandro Muniz e Fil Braz.

"Acreditamos que 'Minha Irmã e Eu' será um grande título dessa retomada. É nossa principal estratégia como produtora e distribuidora. É um filme de comédia, com duas protagonistas populares, uma diretora muito talentosa do gênero e os maiores roteiristas de comédia do país. É um filme para realmente trazer o público de volta", aposta o diretor. 

Outros projetos em andamento 

No line-up, destaca-se também "Bandida: A Número Um da Rocinha", longa-metragem dirigido por João Wainer ("A Jaula"). A ficção, baseada no livro "A Número Um" (Casa da Palavra), da escritora Raquel de Oliveira, foi rodada no Pavão-Pavãozinho, comunidade na zona sul do Rio de Janeiro. A produção é da Paris Entretenimento, em coprodução com TX Filmes, Claro, Telecine e apoio da Riofilme. A Paris Filmes assina a distribuição e a previsão de estreia é para o segundo semestre, entre agosto e setembro. 

A atriz e cantora Maria (Vitória Nascimento Câmara) estreia nos cinemas como protagonista do longa-metragem, que oferece um mergulho na violência urbana do Rio de Janeiro dos anos 1980. Narrado em primeira pessoa, o filme acompanha a trajetória de Rebeca, que aos nove anos é vendida pela avó para um bicheiro que mandava na comunidade. Ela acompanha de perto a mudança de poder – tomado pelo tráfico, – e se torna mulher do chefe do crime, Pará (Jean Amorim). Depois da morte do marido, torna-se a chefe da quadrilha. 

"Achamos que essa história é muito forte. É um ambiente que já foi retratado nos cinemas, mas agora do ponto de vista de uma mulher. Trouxemos o João Wainer para dirigir e ele apostou em uma linguagem específica – rodou o filme todo em VHS, você vê isso impresso na tela e é algo que vai fazer toda a diferença na hora de viver a experiência", adiantou. 

Por fim, outro título já confirmado é "Os Enforcados", de Fernando Coimbra, com Irandhir Santos e Leandra Leal, sobre jogo do bicho. A previsão de estreia é para setembro ou outubro deste ano. "Ainda estamos avaliando a estratégia. Esses dois são filmes que precisam da nossa atenção e não queríamos lançar nesse período de maio e agosto, verão norte-americano, em que os Estados Unidos chega com dez ou 15 grandes estreias. Não quero pegar o cinema nacional e colocar nesse lugar de competição da atenção", concluiu. 

1 COMENTÁRIO

  1. Acredito no seu pensamento , e tambem acho que o caminho ainda é fazer filmes de comédia é a nossa porta de entrada para trazer o publico de volta as salas .
    conte conosco

    well

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