Farra se posiciona como media company e quer investir mais em criação de formatos

André Brandt, Gui Cintra e Gui Vieira são os sócios da Farra (Foto: Guto Seixas)

Criada em 2020 pelos roteiristas André Brandt e Gui Cintra e o produtor executivo Gui Vieira, a produtora audiovisual Farra tem ampliado seu escopo de atuação ao longo dos anos e, em 2024, se posiciona como agência de entretenimento. Com sócios que trabalharam em canais de TV e também trazem bastante experiência com o mercado publicitário, a empresa tem surfado bem entre o entretenimento dito tradicional e os projetos de marca – que eles preferem chamar de "branded entertainment" em vez do mais comum "branded content". 

Para a Farra, uma das novas necessidades do mercado é ter agências com expertise em trabalhar com entretenimento para atender empresas, criadores de conteúdo e, inclusive, outras agências. Além disso, ao investir cada vez mais em conteúdos inéditos, a própria Farra se torna uma mídia proprietária de formatos e também desenvolve projetos atuando com produção e pós-produção audiovisual, design, planejamento estratégico, comercial, social media, branded entertainment, marketing de influência e criação de roteiros. São inúmeros modelos de negócio – com uma capacidade de cuidar de projetos de ponta a ponta, desde a ideia até a divulgação em redes sociais -, e que a diferencia de boa parte das empresas, que são mais especializadas em determinada etapa de desenvolvimento. Tanto é que, hoje em dia, a Farra não enxerga nenhum concorrente direto. 

"Falar de entretenimento dentro da publicidade ainda é um trabalho árduo. Quando nós três nos conhecemos, foi esse match. Tínhamos um ímpeto forte de criação de formatos e queríamos, sobretudo, trabalhar com entretenimento", contou Gui Cintra, roteirista e um dos sócios da Farra, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. Ele relembrou que, logo no começo, surgiu um projeto que até hoje é um dos principais cases da produtora: o "Boca a Boca", com a influenciadora Bianca Andrade, a Boca Rosa: "Ela tinha acabado de sair do 'BBB' e queria fazer um programa na Internet. Nós topamos produzir – foi nosso primeiro projeto – e acabamos ganhando o MTV Miaw com ele. O público adorou. Foi restrito em termos de orçamento e era no meio da pandemia. Mas cumpriu seu propósito. Logo depois, começamos a ser procurados pelas marcas. No dia seguinte, fechamos um projeto de branded com a C&A. E a partir daí, a coisa deslanchou". 

Gui Vieira, produtor executivo e também sócio da Farra, pontuou: "Quando abrimos a Farra, o objetivo era apostar na criatividade. Porque a gente percebia essa lacuna, especialmente nos projetos de conteúdo para as marcas. As agências pensam nesse craft – como a marca se posiciona, se vende, o trabalho do diretor de arte e da criação – mas ainda pouco nesse discurso da marca como publisher. Há dez anos falamos de branded content, que era essencialmente uma publicidade travestida de conteúdo. Agora, o entretenimento precisa ser a palavra-chave, o carro-chefe. O craft de marca não morre. Mas temos muitas mídias diferentes para trabalhar. Podemos criar o storytelling para amarrar todas as pontas junto ao time criativo. Não acabamos com o trabalho das agências – nós complementamos". 

E ainda retomando o surgimento da produtora, os sócios contaram que, na ocasião da criação, logo pensaram no nome "Farra Filmes", que era o mais óbvio. Mas rapidamente perceberam que o trabalho que queriam fazer ia além disso. "Somos uma media company, um lugar de criação. Tem muito espaço para esse tipo de empresa. Como media company, fortalecemos essa visão de criar e sermos donos da propriedade intelectual. Cada passo que damos tem essa lógica intrínseca amarrada", disse Cintra. 

Estrutura da produtora e dinâmica de trabalho  

Um dos grandes diferenciais da Farra é a existência de uma sala de roteiristas fixos dentro da estrutura da produtora – seis atualmente -, o que é raro no mercado, pois a maioria das empresas trabalha com roteiristas freelancers, escolhidos dependendo do projeto da vez. Além disso, a equipe conta ainda com um núcleo de produção, de direção de arte e design, o departamento de gestão artística, pós-produção e mídias sociais. O que, mais uma vez, foi pensado para que eles possam cuidar de tudo: da criação até a distribuição. "Esse serviço 'end-to-end' é uma tendência importante. O mercado tem buscado fugir de intermediários – por muito tempo foi comum existirem muitos. Hoje em dia, isso tem sido visto como um investimento não muito bom. E tem nos ajudado a nos posicionar com os players, que sabem que resolvemos tudo. Com o mercado publicitário, é melhor ainda. É bom financeiramente e também para garantir que haja uma unidade nos projetos", observou Cintra. 

"Temos nos estruturado para manter a casa operando mesmo nos períodos de baixa produção. Não paramos de criar, gerar projetos e prospectar comercialmente com clientes. Os roteiristas da Farra trabalham fulltime, independente de ter projeto ativo", explicou Vieira. O produtor revelou ainda que a maioria das coisas que eles já fizeram foi fruto de um trabalho ativo, isto é, de ir atrás de influenciadores, marcas, agências ou playeres com ideias. "Mantemos os canais de comunicação constantemente ativos. Hoje, temos linha de conversa com todos os players de mercado, trocando e entendendo demandas". 

Diferentes modelos de negócios 

Falando em projetos, é importante ressaltar que a produção da Farra vai muito além dos conteúdos para as marcas e os influenciadores – com quem eles trabalham justamente auxiliando nessa demanda de produções para publicidade. No ano passado, a produtora emplacou seu primeiro formato original: o "Do que riem?", que foi exibido pelo canal Comedy Central, do grupo Paramount. Na opinião de Cintra, foi um case bem sucedido – há possibilidade de renovação – e que os levou a um outro patamar. Um ponto interessante a mencionar é que o IP é 51% da Farra – "o sonho de todo trabalhador da área", brincou o roteirista, que adiantou ainda que, no momento, a produtora já está com outros grandes projetos de entretenimento encaminhados com outros players de streaming. "Com esse case, nos estabelecemos como uma produtora que ama e que sabe criar entretenimento com o DNA mais puro disso. Ao mesmo tempo, oferecemos um serviço de produção inteligente, atento ao que o novo mercado pede". Esse foi um caso de projeto totalmente assinado pela Farra: eles criaram a ideia, venderam para o canal, escreveram, produziram, dirigiram e também fizeram a divulgação em social media. Para a produtora, esse é um modelo que faz sentido, e que interessa replicar em novas projetos. 

A Farra tem ainda projetos que assina com produção associada para o cinema – a ideia é, no futuro, assumir uma produção própria – e, em paralelo, oferece somente seus serviços de roteiro, criação ou até direção. Por exemplo: Gui Cintra e André Brandt – roteirista e outro sócio da Farra – assinam ao lado de Otaviano Costa o roteiro do novo filme do ator, "Vidente por Acidente", uma produção da Conspiração em coprodução com a Star Original Productions que estreia nos cinemas em 18 de abril. A dupla assinou também, em parceria com Rodrigo Moura e Sergio Barbosa, o roteiro de "Gato Galáctico e o Feitiço do Tempo", longa-metragem estrelado pelo youtuber Ronaldo Souza, lançado nos cinemas no último mês de janeiro. 

Podcast e videocast em plena expansão  

Outro meio que interessa bastante para a Farra é videocast e podcast, que eles acreditam ser um mercado em plena expansão. "Tem gente que diz que saturou. Eu discordo – tem muito a desbravar", opinou Vieira. A produtora assina títulos de produtos como "Donos da Razão", "Foquinha Entrevista" e "Planta faz isso?", podcast que surgiu para repercutir os acontecimentos do "Big Brother", e mantém conversas nesse sentido com plataformas como Globoplay e Wondery. "Estamos bem animados com esse lugar da mídia dos podcasts para criar e desenvolver coisas", reforçou o produtor. 

A ideia da Farra é explorar as possibilidades do formato. "Podcast não é sinônimo de talkshow – essa é uma limitação muito grande dessa mídia", apontou Cintra. Eles apostam na criação de produtos de podcast que, futuramente, possam virar um IP forte e ganhar desdobramentos como série, por exemplo, e também em projetos de ficção em áudio. "Isso é pouco feito no Brasil ainda, e queremos nos aventurar nesse lugar", revelou Cintra – que destacou ainda a importância do roteirista nesses projetos, de forma a garantir uma força criativa para além da questão técnica em si. 

Perspectivas 

Olhando para o futuro, Cintra menciona como principal objetivo da Farra a internacionalização de formatos – ou seja, eles esperam criar localmente formatos que possam ser comercializados e ganhar suas versões em outros países. Vieira, por sua vez, diz que esse é o "sonho máximo", mas que, a curto prazo, a missão da Farra é conseguir se conectar com pessoas e marcas e gerar conteúdos nesse lugar de inovação. "É usar as redes sociais de maneira inteligente, criar um brand entertainment forte. Achar novas formas de fazer, não só as tradicionais", mencionou. O produtor ressaltou ainda que a empresa mantém um trabalho de "criação pró-ativa": "Temos mais de 200 projetos elencados e buscamos manter conversas frequentes com os players para apresentar ideias. São sementes que plantamos hoje para colher lá na frente". 

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