Experiência cinematográfica é a aposta do setor para a retomada das salas de exibição 

Estreia de "Mulher Rei" foi case de sucesso da Sony Pictures (Foto: Divulgação)

Nesta sexta-feira, dia 14 de abril, o tripé do cinema – produção, distribuição e exibição – se reuniu para um debate no Rio2C 2023 que, desta vez, trouxe para a mesa um quarto elo da cadeia: a comunicação. Para isso, esteve presente no painel "O futuro do cinema e como qualificar a experiência cinematográfica" Paulo Samia, CEO do UOL, que afirmou que para debater o futuro do cinema é importante justamente falar com novos players. 

Segundo o CEO, o UOL fala com 110 milhões de pessoas todos os meses, através de conteúdos em diferentes formatos, como podcasts, filmes, séries, notícias e dez horas de conteúdo diário ao vivo. E, no começo do ano passado, a empresa adquiriu a ingresso.com, após um longo processo de negociação. "Por isso é importante ter um player desse entrando no mercado. Vamos divulgar, comunicar, informar e, com isso, esperamos alavancar as vendas do cinema", explicou. O UOL já está atuando nesse sentido, colocando chamada fixa na homepage com os principais lançamentos da semana. E afirma que já está dando resultados. Hoje, cerca de 15% das vendas de ingressos para cinema são via ingresso.com

"Com base nos dados que temos, de toda essa audiência, conseguirmos gerar insights e novos produtos para o consumo de cinema. Temos que repensar as coisas que fazemos hoje nessa indústria. Com tecnologia, dados e comunicação, conseguimos trazer novas soluções, como preço dinâmico e promoções, a fim de maximizar a receita. Aí geramos mais produto, vamos remunerar mais salas de exibição e a cadeia como um todo. Esse é o objetivo. Esperamos cada vez mais participar e podemos ajudar por conta da nossa capacidade de comunicação, audiência e produção de conteúdo", pontuou. 

A experiência cinematográfica 

Todas as executivas de produção, distribuição e exibição presentes na mesa declararam que o cinema não é apenas uma tela – e sim uma experiência – então não deve ser perguntado se ele ainda vai existir. 

A produtora Iafa Britz, produtora e sócia da Migdal Filmes, contou que, no fim das contas, o que leva o público ao cinema é o filme, por isso é necessário encontrar aquilo que as pessoas querem ver mas ainda não sabem que querem ver. E fugir dos algoritmos. "O Oscar foi uma grande mensagem nesse sentido. Nossa indústria criativa não segue regras de tempo, gênero e idade. O que impera é criatividade e originalidade. E estamos repletos de pessoas talentosas, criativas e passionais – paixão é fundamental para fazer cinema", destacou. E ela, claro, defendeu o cinema nacional: "O público precisa se acostumar a ver filmes brasileiros. E para garantir essa frequência, o cinema tem que ter diversidade de conteúdos. As pessoas vão ao cinema e precisam ver cartazes de outros filmes, conhecerem o que está sendo lançado. É uma questão política, e tem que ter um trabalho para isso. Um investimento de tempo, energia e dinheiro. A cadeia como um todo precisa dar chance para surpresas positivas. Tem que ter investimento da produção, da distribuição, da exibição e da comunicação", alertou. "E se não tem uma cota de tela, tem que ter compromisso da cadeia com o cinema nacional. Colocar em cartaz. Nós temos bons produtos. Todos eles precisam ter suas estreias prestigiadas. Não dá pra 'largar' filme. É uma coisa que envolve muita gente e, por isso, cada filme tem que ser potencializado. Só teremos resultado com parceria. Não é só contar com as instituições governamentais, é a nossa parceria, uma visão de construção conjunta", concluiu. 

Monica Portella é diretora de marketing da UCI Cinemas, uma empresa que tem investido bastante na sala de cinema, trazendo novas tecnologias e abrindo novos espaços no Brasil. "Trabalhamos o diferencial do filme no cinema para oferecer ao público uma experiência que ele não conseguiria ter em casa", disse. "No pós-pandemia, apostamos na ideia de que ir ao cinema é ter uma experiência coletiva. Nós trabalhamos com tecnologia, conforto, beleza, mas o mais importante é o conceito de que 'aqui você encontra sua tribo'. Queremos esse coletivo, atrair as pessoas a saírem de casa", contou. 

Nesse sentido, ela afirmou que a UCI, como exibidor, tem investido em diversas ações para promover essa atração de público. Entre elas, estão eventos como o UCI Day, que exibe clássicos e grandes sucessos a preços promocionais e, em novembro do ano passado, numa segunda-feira, registrou 42 mil pessoas em um único dia – e um dia que não é tradicionalmente de salas de cinema cheias. A empresa também mantém um programa de relacionamento, o UCI Unique, que tem uma base atual de 400 mil clientes ativos. Eles trabalham bastante nessa base, recomendando filmes baseados no gosto deles com promoções para verem títulos específicos. A UCI ainda investe em parcerias com shoppings, elencos e produtores. "É um trabalho de formiguinha de pensar com cuidado em cada filme", ressaltou. 

A busca por relevância 

O lado da distribuição também tem se movimentado bastante para essa retomada de público. Para Camila Pacheco, diretora executiva de marketing Brasil/Latam da Sony Pictures, a palavra também é experiência:  "Nosso trabalho envolve cada vez mais oferecer experiências diferenciadas com conteúdos e ações e trazer relevância para o cinema. Além da experiência social que o cinema proporciona – e nós somos seres sociais, precisamos disso – ele é um trend setter, fala das coisas que viram assunto. Isso gera motivação para as pessoas irem ao cinema porque elas querem fazer parte da conversa". 

Como exemplo, ela citou o case de "Homem Aranha – Sem Volta Para Casa", que foi um título muito forte na retomada pós-pandemia e trouxe "um algo a mais" para a experiência cinematográfica. Camila definiu que aconteceu uma "catarse coletiva", em que as pessoas foram tendo essa vontade de fazer parte da experiência despertada. No primeiro fim de semana de estreia, foram 4,5 milhões de espectadores. "Foi um trabalho grande de conteúdo, distribuição e campanha para que o público tivesse essa experiência. É claro que o conteúdo impulsionou, havia uma expectativa muito grande em cima desse filme, mas houve um trabalho nosso de fomentar isso. Eu gosto muito da analogia do cinema com o estádio de futebol, que é o lugar onde as paixões são mostradas",  comparou a executiva. 

Outro case foi com "Mulher Rei", onde o Brasil foi o principal país do mundo no lançamento e bateu recordes de bilheteria. A Sony trouxe a protagonista Viola Davis para o Brasil e ela visitou lugares importantes, referências para a cultura negra no pais, que tinham pertinência com o que o filme tinha para dizer. "Trazer a Viola para o Brasil transformou o filme em assunto, trouxe relevância. Os resultados foram fruto do bom conteúdo, claro, mas também da estratégia de lançamento", salientou. 

E para o filme nacional "Ninguém é de Ninguém", de Wagner de Assis, foi promovido um debate com elenco e especialistas sobre temáticas que o filme aborda, como relacionamentos abusivos. O título estreia nos cinemas no próximo dia 20 de abril. 

"É claro que os orçamentos são diferentes, mas fomentar a importância de cada filme para determinada audiência é fundamental. O raciocínio é o mesmo. É sobre vivenciar experiência e compartilhar com outras pessoas – o que é muito diferente da experiência isolada. A arte tem esse papel, e a arte do cinema é a mais poderosa de todas nesse sentido", opinou. 

Por fim, Camila avaliou: "O papel da distribuição é trabalhar, fomentar, buscar audiências e as experiências inesquecíveis. Para filmes grandes, pequenos, e especialmente os brasileiros. Vamos buscar e resgatar essas audiências naquilo que é único para cada um". 

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