Novo filme de José Eduardo Belmonte quer dialogar com o público latino nos EUA

O diretor José Eduardo Belmonte e o produtor Rodrigo Sarti (Foto: Divulgação/ Acere Filmes)

O diretor José Eduardo Belmonte acabou de filmar "Almost Deserted", longa estrelado pela atriz armênio-americana Angela Sarafyan ("Westworld"), pelo uruguaio Daniel Hendler ("O Abraço Partido") e pelo brasileiro Vinícius de Oliveira ("Central do Brasil"). Rodado em três idiomas – português, espanhol e inglês – o filme conta a história de dois latinos ilegais e uma americana que testemunharam um assassinato numa Detroit apocalíptica e quase inabitada. O elenco conta ainda com Alessandra Negrini, Thaís Gulin, Virginia Lombardo e Deborah Chennault Green. 

Gravado em Detroit, Estados Unidos, por dois meses, o longa é produzido por Rodrigo Sarti Werthein, com produção da Acere, em coprodução com We Are Films (Nova York) e Filmes do Impossível. Assinam o roteiro Belmonte, Carlos Marcelo e Pablo Stoll. O projeto é um modelo transnacional de produção, com propriedade intelectual brasileira, filmado nos EUA, e que mira o gigante mercado latino-americano no continente. O foco da distribuição será nos Estados Unidos, América Latina e Brasil, com diferentes estratégias para Europa e o resto do mundo. 

"Conhecemos a produtora We Are Films, de Nova York, depois de pesquisar produtoras que acreditávamos ter sintonia com a Acere. Conversamos com eles por muito tempo – com um hiato durante a pandemia – até começarmos a preparação e pesquisa de locações. O Belmonte queria repetir a experiência de trabalho com a fotógrafa mexicana Leslie Montero. Partimos então com a fotógrafa e o coprodutor e começamos a montar a equipe. O desenvolvimento do filme se deu via FSA, quando a Acere foi contemplada com o edital de Núcleo Criativo em 2016. A composição financeira para a produção foi via edital de produção do FSA e Artigo 3A", detalhou o produtor Rodrigo Sarti em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

Público-alvo

Sarti pontuou que o mercado latino nos EUA é imenso e, em sua visão, pouco representado em seu drama cotidiano. "Eu acredito que essa identificação em uma produção brasileira e americana, com diferentes nacionalidades envolvidas na frente e atrás das câmeras, terá um impacto relevante na entrada do 'Almost Deserted' em circuitos inéditos nos Estados Unidos e no mundo latino em geral", apostou. O diretor do longa, José Eduardo Belmonte, completou: "O mercado latino nos Estados Unidos é um grande consumidor de audiovisual, mas ele ainda não se sente representado na mesma proporção. Os personagens latinos ainda seguem presos a estereótipos, sem subjetividade. Penso que filmes de gênero que dialoguem com esse público e coloquem suas questões, seus conflitos e seus cotidianos e também discuta a relação entre as Américas – principalmente daqueles que migram e a relação com os que ficaram – criam um mercado amplo, além de um espaço para as artes falarem de questões contemporâneas". 

Os protagonistas Daniel Hendler, Angela Sarafyan e Vinícius de Oliveira (Foto: Divulgação/ Acere Filmes)

Modelo de negócio 

É importante enfatizar que, apesar de ter sido rodado nos EUA, em três idiomas, o projeto tem sua propriedade intelectual pertencente ao Brasil – o que, para o produtor, é fundamental para a consolidação de um modelo sustentável, que gere dividendos durante a vida do filme, que pode ser bem longa em todas as janelas. "Naturalmente, essa propriedade também é foco de negociação, e vemos com bons olhos negociar parte dela em acordos de coprodução", destacou Sarti. 

Belmonte contou que, para fazer "Almost Deserted", estudou diversas experiências de filmes transnacionais, inclusive as brasileiras. "Havia, por exemplo, filmes de um país, filmados no seu território, mas protagonizados por talentos internacionais, e geralmente falados em inglês. Ou filmes rodados fora do país com estrangeiros vivendo fechados na sua comunidade, discutindo entre si. Me pareceu que, na maioria dos casos, eram ou sem personalidade ou muito específicos, 'na bolha'. A ambição desse movimento é mais ampla, mas muito pragmática. Expandir a fronteira, fazer o Brasil dialogar com os vizinhos – tanto artisticamente como nos negócios". 

O diretor também abordou como isso está presente até dentro dos enredos: "O objetivo é ter um DNA brasileiro muito marcante, ou seja, criar as histórias com o Brasil como tema e no protagonismo, mas se relacionando com temas de interesse comum a outros países. Criar histórias orgânicas em que personagens são obrigados a se relacionar com estrangeiros. Nesse processo, se discute por exemplo, como é o caso do 'Almost Deserted', a relação com as Américas Latina e Anglo-saxã. Nesse sentido, a questão do Brasil ser o único país que fala português na América Latina pode ser um trunfo, não um problema. Sair do isolamento é sempre um bom conflito, uma boa dinâmica para contar histórias". 

Estratégia de mercado e ambições artísticas 

Portanto, pode-se dizer que o projeto combina estratégias de negócio e ambições artísticas. "E combina de maneira perfeita", opinou Sarti. "A visibilidade alcançada primeiro pela coprodução e posteriormente pelos parceiros distribuidores e agentes de venda maximiza a oportunidade de negócios. Estamos falando de um filme com protagonistas de peso em cada uma das suas regiões. Temos Angela Sarafyan ('Westworld', HBO) nos EUA, Daniel Hendler ('Abrazo Partido') com mais de 60 produções na Argentina, e no Brasil temos o luxo de, além do protagonista Vinicius de Oliveira, termos a presença de Thaís Gulin e Alessandra Negrini. Além de um elenco coadjuvante que surpreenderá, temos ainda Detroit, um cenário espetacular e parte intrínseca da história do filme. Somando tudo isso ao roteiro e com a direção do Belmonte, temos um produto de apelo comercial, com forte conexão com seu público sem nunca perder o lado autoral, com uma estética visual e narrativa que terá seu reconhecimento artístico também", definiu. 

Planos para o futuro

A produtora Acere e o diretor José Eduardo Belmonte já estão com dois outros projetos em andamento que seguem esse modelo de internacionalização da produção, focado na dramaturgia e na construção de parcerias internacionais. "A propriedade intelectual brasileira é algo que sempre manteremos – em maior ou menos escala, a depender do projeto. Mas o financiamento público brasileiro é fundamental para o produtor independente. A entrada de um coprodutor, seja norte-americano ou de outro país, nos traz expertise e uma visão diferente e complementar do projeto, além de recursos financeiros e humanos. O idioma será naturalmente uma questão dramaturgia e sempre respeitada. Nunca teremos dois brasileiros falando francês em Paris", brincou Sarti. 

Para Belmonte, "Almost Deserted" foi como um piloto. "Pensamos em criar projetos mais objetivos, mas ainda misturando talentos de todas as Américas. Há um projeto que é um filme de terror nos Estados Unidos sobre imigração e um outro, no México, sobre pessoas atravessando a fronteira usando o cai-cai", adiantou.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui